Morre trabalhador a construir estádio para o Mundial'2034 na Arábia Saudita
Muhammad Arshad trabalhava num estádio desenvolvido pela empresa Aramco
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Muhammad Arshad, trabalhador paquistanês, é a primeira morte reconhecida de um trabalhador migrante ligado ao Campeonato do Mundo de 2034.
O incidente ocorreu no dia 12 de março. De acordo com o jornal britânico The Guardian, Muhammad Arshad tinha cerca de 30 anos e deixa três filhos com idades compreendidas entre os dois e os sete anos. A sua morte foi confirmada pelo Besix Group, uma empresa belga cuja subsidiária, Six Construct, é uma das principais empreiteiras envolvidas na construção do estádio.
“Uma equipa de três trabalhadores estava envolvida em operações de cofragem num andar superior quando a plataforma em que estavam a trabalhar se inclinou. Embora todos os três estivessem equipados com sistemas de proteção que impede quedas, um trabalhador não estava ligado a um ponto de ancoragem no momento do incidente e caiu, sofrendo ferimentos graves. Infelizmente, não resistiu aos ferimentos e faleceu no hospital”, explicou a empresa em comunicado. “A segurança é e continua a ser a nossa prioridade absoluta. As autoridades estão a conduzir uma investigação completa e estamos a cooperar totalmente para determinar as circunstâncias exatas dessa tragédia”, acrescentaram.
Após a sua morte, os trabalhadores terão sido chamados a uma reunião e induzidos a não comentar o incidente. “Por respeito à família da vítima, os trabalhadores foram solicitados a não compartilhar imagens das consequências do trágico acidente nas redes sociais”, divulgou a empreiteira.
Arshad estava a trabalhar na construção do Estádio Aramco, um recinto que terá capacidade para 47 mil espectadores e já se encontra em estado avançado. Milhares de trabalhadores migrantes, especialmente oriundos do Bangladesh e do Paquistão estão a trabalhar no local em dois turnos. O estádio é patrocinado pela Aramco, uma empresa de petróleo. Curiosamente, tornou-se recentemente o patrocinador mais lucrativo da FIFA. De acordo com o Daily Mail, os trabalhadores estão a enfrentar condições extremamente abusivas. Alguns destes migrantes alegaram que recebem cerca de dois euros por hora. Além disso, contraem dívidas com as empresas que lhes arranjaram emprego, o que implica trabalharem dois anos de graça até liquidarem o que devem.
A construção dos estádios depende, maioritariamente, da mão de obra dos trabalhadores que vêm do sul da Ásia.
O corpo de Muhammad Arshad regressou ao seu país na última terça-feira e o seu caixão foi enterrado perto da sua casa no noroeste do Paquistão. Muhammad Bashir, pai da vítima, relatou ao The Guardian que toda a família está em estado de choque: “Terá um impacto duradouro nas suas vidas [dos três filhos]. A renda de Arshad era a sua única fonte de rendimento. Teremos que arcar com as suas despesas de subsistência e educação. Vamos tentar atender às suas necessidades.”
Em dezembro do ano passado, a Arábia Saudita foi anunciada como anfitriã do Campeonato do Mundo de 2034. As obras de construção dos onze estádios previstos tiveram início nessa altura. Além destes locais, também estão a ser feitas obras para melhorar e expandir as infraestruturas de transportes do país e as unidades de alojamento para atender uma competição que se vai expandir para 48 seleções.
A escolha do país como sede da maior competição desportiva do mundo está a ser contestada desde então por grupos de direitos humanos, assim como aconteceu com o Catar em 2022.