Miguel Campos, a vida da Ucrânia e os ataques da Rússia: "Foi um alívio o Donald Trump ter ganho..."
Oleksandriya fica longe das zonas de conflito com a Rússia, mas nem assim escapa ao ambiente de sobressalto constante causado pela guerra
Corpo do artigo
Miguel Campos trocou a Croácia pela Ucrânia a meio da última época. O receio por se mudar para um país em guerra existiu, mas os relatos que lhe chegaram do terreno levaram-no a arriscar.
Como está a situação na Ucrânia por esta altura?
-Na cidade onde eu vivo [Oleksandriya] nunca aconteceu nada de grave, nenhum bombardeamento ou algum tipo de ataque. Já em Kiev, é quase habitual ouvir a defesa ucraniana a derrubar rockets ou drones... Aqui, todos os dias toca um alarme pelo menos. No início preocupava-me, mas neste momento já se impregnou no meu dia a dia. O primeiro instinto é ter medo, mas passado um tempo... As pessoas habituam-se e fazem a vida normal.
Há perspetivas de melhorias num futuro próximo?
-Sinceramente, para mim foi um alívio o [Donald] Trump ter ganho as eleições nos Estados Unidos, e creio que muita gente na Ucrânia pensa da mesma forma, porque ele prometeu que a guerra ia acabar caso fosse eleito. Esperemos que cumpra.
Chegou a território ucraniano em fevereiro. O que o levou a aceitar o convite?
-Tive algumas reservas, claro. Mas pensei: para o futebol estar a funcionar, é porque as coisas não podem estar assim tão más. Vi que havia muitos estrangeiros a jogar aqui, tentei perceber a realidade e asseguraram-me que a cidade do meu clube nunca tinha sido atacada. É uma cidade pequena, tem pouco interesse lá para o outro lado… Naquela altura, o Rudes estava em último na liga croata, sem grandes perspetivas de vir a melhorar, e financeiramente a oferta foi muito boa. Não me arrependo. A Ucrânia tem muitas coisas boas. Se não estivesse numa situação de guerra, não tinha problemas em fazer carreira aqui. Foram muito rápidos a integrar-me no plantel, a tornar-me um deles. Kiev é uma cidade à imagem de Lisboa, metropolitana, moderna. A minha cidade é mais atrasada. Isso é o pior. Mas as pessoas são muito simpáticas, muito acolhedoras. Estou muito feliz aqui.
Como é o clima? E a comida?
-O clima é de extremos. Quando cheguei, o frio era de cortar: -11, -15. Nem com luvas se aguentava. Em maio já estava um calor seco, que vai aos 35 ou 40 graus. Comida... prefiro a portuguesa (risos)! Eles têm uma sopa chamada borscht que é boa, e também uns rissóis a que chamam mesmo ‘dumplings’.