Matheus Pereira recorda formação no Sporting: "Passava muito tempo drogado"
Extremo do Cruzeiro cumpriu a formação em Alcochete e revelou as dificuldades psicológicas que passou nesse período, quando bebia álcool e fumava canábis regularmente
Corpo do artigo
Matheus Pereira, extremo que cumpriu a formação no Sporting, tendo passado ainda pelo Chaves por empréstimo dos leões, falou esta sexta-feira sobre as dificuldades psicológicas que atravessou no período em que viveu na Academia de Alcochete.
Em entrevista à plataforma “The Player’s Tribune”, o extremo brasileiro de 27 anos, atualmente no Cruzeiro, explicou que rumou a Portugal depois de ter sido deixado em Belo Horizonte, juntamente com quatro irmãos, ao cuidado da sua avó surda e muda, numa altura em que os seus pais se tinham mudado para Lisboa em busca de uma vida melhor.
“Eu era um menino de 11 anos, os meus pais tinham-se mudado para Lisboa e a minha educação dali para a frente seria responsabilidade de uma senhora de idade que não falava nem ouvia. Para completar, uns tios meus que também moravam ali estavam envolvidos com tráfico de drogas”, revelou.
Mais tarde, a mãe de Matheus regressou ao Brasil para levar os filhos para Portugal e, apesar de se encontrar numa situação de imigração ilegal, o jovem ainda treinou dois anos na academia do Sporting, com a particularidade de não poder disputar partidas.
Quando fez 15 anos, o extremo conseguiu adquirir um visto de residência nacional e assinou o seu primeiro contrato com os leões, mas essa altura também coincidiu com a separação dos seus pais, que o levou a mudar-se para Alcochete, o que ditou o início dos seus problemas extracampo.
“Mais uma vez sem ninguém a olhar por mim ou a falar-me sobre as coisas importantes, fui brincar à beira do abismo. Juntei-me à rodinha da canábis e passava muito, muito tempo drogado. Também bebia um monte [de álcool] e gastava o dinheiro que sobrava em festas. Depois sentia-me um trapo, um miserável”, recordou.
Nesse sentido, o jovem revelou que chegou a “fintar” um controlo antidoping, mas não antes de o Sporting perder a paciência com a sua indisciplina, emprestando-o ao Chaves na época 2017/18, onde foi treinado por Luís Castro, atual técnico do Al Nassr, que lhe disse palavras que acabaram por mudar a sua forma de encarar a vida, passando a focar-se a sério no futebol.
“Um dia, depois de mais um treino péssimo, bati na porta da sala do Luís Castro. Eu sentia-me aflito, parecia que o meu peito ia explodir. Contei-lhe tudo [e o técnico respondeu] ‘Miúdo, na vida, às vezes, quando a gente não consegue sozinho, tem que deixar outro guiar. Fique calmo. Haverá sempre estrelas a iluminar o céu, mesmo que você não as veja por causa dos dias nublados’. O futebol, mais uma vez, estendia-me a mão. Eu entendi que o ‘outro’ que me guiaria seria Deus. Agarrei-me nisso, reconciliei-me com a minha fé e, aos poucos, fui melhorando”, completou.
Depois da sua passagem pelo Chaves, onde registou oito golos e cinco assistências em 30 jogos, Matheus Pereira ainda foi emprestado pelo Sporting ao Nuremberga, da Alemanha, e ao West Brom, na altura da Premier League.
Em 2020 deixou os leões em definitivo, representando o Al Hilal (Arábia Saudita) e o Al Wahda (Emirados Árabes Unidos) antes de regressar ao Brasil pela porta do Cruzeiro, em 2023, depois de um período negro em que chegou a tentar suicidar-se.