Hélder Silva é treinador no país onde começou a pandemia. Terça-feira acabou isolamento de dois meses.
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Portugal entrou em Estado de Emergência na quarta-feira, com a imposição aos cidadãos de ficar em casa. Do outro lado do globo, a menos de 950 quilómetros de Wuhan (o epicentro do vírus), há um português em sentido contrário: que acabou de sair do isolamento.
Hélder Silva vive com a família em Meizhou, onde é treinador de sub-14 e sub-15 da seleção chinesa. "Portugal tem de tomar decisões drásticas. Foi o que fizeram aqui: ninguém entra, ninguém sai", afirmou, numa concordância com a decisão do Presidente da República. "Ficar em casa é muito importante, só assim se evita o contágio", apela, reconhecendo a complexidade da situação, principalmente em "termos económicos", para as famílias, que podem perder parte do rendimento mensal.
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Às preocupações económicas junta-se a necessidade de ocupar o tempo. "Nem nós sabemos como aguentámos", suspira. Hélder não consegue fazer teletrabalho. Tem procurado fazer exercício todos os dias e depois... "Vi muito futebol na TV, mas agora não há nada!" A esposa, Sónia, deu aulas de Inglês e os filhos, Gonçalo, de 11 anos, e Gabrielle, de oito, tiveram aulas online.
Na terça-feira, Hélder e a família puderam voltar a sair de casa. Ironia das ironias... "Mal saí de casa, escorreguei numa escadaria. Estou todo pisado!", conta com humor. Mesmo assim, deu para "jogar à bola" com o filho e ir a uma reunião.
"Já há mais gente na rua, mas continuam a medir-nos a temperatura e temos de dar a nossa morada à entrada para os estabelecimentos. Onde quer que vá, há segurança"
O campeonato chinês deveria recomeçar em fevereiro, mas vai ser retomado em abril e com possibilidade de ter jogos duas vezes por semana, para já ainda à porta fechada.
A vida na China vai regressando à normalidade, gradualmente. "Já há mais gente na rua, mas continuam a medir-nos a temperatura e temos de dar a nossa morada à entrada dos estabelecimentos. Onde quer que vá, há segurança", afirma.
Depois da experiência de dois meses a lutar contra a pandemia, e com elogios ao governo chinês, que "até se disponibilizou para fazer as compras", voltar a espaços públicos implica cautelas. "Acho que o perigo já passou. Ando bem na rua, mas fico preocupado quando estou em locais com muita gente, sítios mais fechados... evito", confessa.