Lamine Yamal, bandeira de esperança: infância em bairro pobre e agarrado por Jorge Mendes
Lamine Yamal, a grande figura desta Roja, é filho de imigrantes africanos e cresceu num bairro pobre de Barcelona
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Faz no sábado 17 anos - as madeixas loiras e o aparelho nos dentes denunciam-no de imediato - e é uma das grandes figuras deste Europeu, quiçá a maior, especialmente depois do golo extraordinário que iniciou a reviravolta diante de França, nas meias-finais. Mas Lamine Yamal é muito mais do que isso: o novo menino prodígio do Barcelona e de todo o futebol espanhol tornou-se na maior bandeira do combate à exclusão social e à xenofobia/racismo na sociedade do país vizinho.
O menino que no sábado festeja apenas o 17.º aniversário não esquece as suas raízes, lembrando o código postal do seu bairro a cada golo que festeja. Nas chuteiras exibe as bandeiras dos países dos pais.
Lamine Yamal Nasraoui Ebana nasceu em 2007 em Esplugues de Llobregat, nos arredores de Barcelona, filho de pai marroquino e mãe natural da Guiné Equatorial. A sua infância foi passada entre Granollers e Mataró, após a separação dos pais, até que aos 13 anos se mudou definitivamente para La Masia, onde havia ingressado com apenas seis anos. As origens, porém, nunca esqueceu, como faz questão de deixar claro a cada golo que marca: com as mãos “desenha” o número 304, numa referência ao código postal de Rocafonda, bairro de Mataró que tem uma percentagem de imigrantes estimada em 32,8 por cento (a maioria provenientes de África) e onde quase metade da população vive no limiar da pobreza.
Comparado frequentemente a Messi, por quem foi “abençoado” ainda bebé, Yamal tem como ídolo outro antigo jogador do Barcelona: Neymar
“Quando o fiz no primeiro jogo por Espanha, foi uma loucura lá no bairro. Depois passou a ser o meu festejo. No fim de contas, é a tua casa, é tudo”, explicou recentemente o ainda adolescente Lamine - que completou o ensino secundário obrigatório... durante o Europeu. Nas chuteiras, exibe orgulhosamente as bandeiras dos países dos progenitores, além das suas iniciais (LY) e do agora já célebre 304, que desde ontem passou a ser o título de uma música de rap feita por dois amigos do jogador, obviamente naturais de Rocafonda, localidade hoje nas bocas do mundo, para tristeza da extrema-direita espanhola, que no passado já se referiu ao local como “esterco multicultural”. “Não precisamos dele para ser campeões. Foi um grande golo, mas se não fosse ele a marcar, era outro”, referiu Manuel Gavira, porta-voz do partido Vox no Parlamento da Andaluzia.
A 30 de maio de 2023, Yamal marcou um golo igual ao de terça-feira nas meias-finais do Europeu de sub-17... também à França
O menino, todavia, responde em campo - como respondeu a Rabiot, que assistiu de forma privilegiada ao golaço nas meias-finais depois de na véspera ter dito que o jovem espanhol ainda tinha de brilhar num jogo grande para poder ser levado a sério. “Mexe-te em silêncio, fala só quando for o momento de dizer ‘xeque-mate’”, escreveu nas redes sociais após o apito final da partida com os gauleses.
Lançado por Xavi na equipa principal do Barcelona ainda com 15 anos (a mesma idade com que Pelé se estreou no Santos e Maradona no Argentinos Juniors), Yamal tem batido todos os recordes de precocidade: primeiro nos blaugrana e depois na seleção espanhola - tornou-se já na Alemanha o mais jovem de sempre a jogar e a marcar em Campeonatos da Europa. Depois de amanhã, de resto, irá suplantar mais um, passando a ser o mais jovem de sempre a disputar uma final, depois de ter visto a do Euro 2020 “num centro comercial”, como referiu após o golo à França. Mas tudo permanece igual, garante quem o conhece melhor.
O bairro de Rocafonda, constituído por 32,8 por cento de imigrantes, já foi descrito pelo partido de extrema-direita Vox como um “esterco multicultural”
“Vejo-o em campo com os profissionais e tenho a mesma sensação de quando o via nas equipas do bairro: é um menino que só se quer divertir. Não muda e não vai mudar”, garante o pai, Mounir Nasraoui, ao jornal espanhol “El País”. E as evidências comprovam-no: frente à Alemanha foi substituído logo aos 63 minutos por não estar a cumprir nas tarefas defensivas, deixando Carvajal desamparado no corredor direito; contra a França, cumpriu o seu jogo com mais recuperações de bola desde o início da prova (quatro).
Jorge Mendes agarrou-o em 2023
O primeiro empresário de Lamine Yamal foi Iván de la Peña, também ele um antigo jogador do Barcelona e que representa várias promessas dos blaugrana, mas desde março de 2023 que o jovem, juntamente com a sua família, é agenciado por Jorge Mendes. Foi, de resto, já o português a conduzir as negociações da recente renovação até 2026 (ampliável até 2028 quando o extremo atingir a maioridade), na qual Yamal ficou amarrado ao Barcelona por uma cláusula de rescisão astronómica: mil milhões de euros.