Joseph Blatter, antigo presidente da FIFA, critica Mundial'2030: "É uma farsa"
Dirigente suíço, agora com 88 anos, diz que Gianni Infantino, o seu sucessor, "quer controlar tudo"
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Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA (de 1998 a 2015), agora com 88 anos, deu uma entrevista ao meio de comunicação suíço Watson, na qual atacou o seu sucessor, Gianni Infantino, e criticou ainda os mundiais de 2030 (organizado por Espanha, Portugal e Marrocos e com início na América do Sul) e 2034 (Arábia Saudita).
"É uma farsa. Os dois Campeonatos do Mundo serão atribuídos no mesmo pacote. E não há qualquer seleção, apenas um concorrente para cada evento: para o Mundial de 2030, é a Espanha, Portugal e Marrocos, com os jogos de abertura no Uruguai, Argentina e Paraguai. Para 2034, é a Arábia Saudita. Uma competição ao estilo chinês? Ou ao estilo russo... O que também é estranho é que o congresso extraordinário sobre a dupla atribuição dos Campeonatos do Mundo de 2030 e 2034, em Zurique, só terá lugar virtualmente. Imaginem só. O órgão eleitoral nem sequer se reunirá fisicamente. Gianni Infantino quer poder controlar o processo de atribuição. A habitual troca de opiniões pessoais entre os membros na véspera da eleição não é possível. Não pode haver uma 'noite das facas longas'. Também não é possível levantarmo-nos e falarmos no próprio congresso. Já estou a ver, como o congresso é virtual, os organizadores a decidirem quem pode falar. Como todos sabemos, um Campeonato do Mundo na Arábia Saudita não se coaduna com os valores de direitos humanos e democracia. A ideia é que a Suíça ou outra federação, como a Noruega, apresente uma moção para impedir que a candidatura seja atribuída à Arábia Saudita. Veja-se o caso da federação alemã. Foi crítica antes do Campeonato do Mundo no Catar. Agora está calada. Infantino controla através de incentivos e cargos. Organiza congressos virtuais e o futebol vende a sua alma", criticou.
"Tudo se tornou demasiado grande. Demasiado dinheiro, demasiados jogos. Os jogadores ganham cada vez mais, mas com o dinheiro vem a pressão. Lesionam-se com muito mais frequência porque os períodos de recuperação são demasiado curtos com as constantes semanas inglesas. Há também demasiada tecnologia, com foras de jogo, golos e faltas. Já não é o árbitro que decide, mas sim a televisão. Temos de voltar a tornar o futebol mais humano. Uma das escolas de carácter no futebol era respeitar as decisões dos árbitros", atirou, criticando o panorama atual do futebol.
"O meu antecessor, João Havelange, disse-me, depois do Campeonato do Mundo da África do Sul'2010, onde a FIFA ganhou dinheiro pela primeira vez, que eu tinha criado um monstro. Quando Infantino se tornou presidente em 2016, estava numa posição confortável e a máquina estava em marcha. Agora está a cultivá-la cada vez mais. Ele quer poder controlar tudo", completou, apontando ao seu sucessor.
Blatter criticou o calendário carregado: "Vivemos a experiência da venda do futebol. Veja-se o caso da UEFA. Antigamente havia uma taça para os campeões, uma para os vencedores das taças, uma para as cidades das feiras. Hoje há uma Liga dos Campeões com 36 equipas, uma Liga Europa com 36, uma Liga Conferência com 36. E depois a Liga das Nações. E o próximo Campeonato do Mundo, em 2026, já está a ser disputado por 48 países, o que corresponde a quase um quarto de todos os países membros da FIFA. Além disso, o Campeonato do Mundo de Clubes da FIFA será lançado com 32 equipas a partir de 2025. Todos aplaudem porque há muito dinheiro. Mas esta saturação excessiva leva a que o interesse pelo futebol diminua, o que eu próprio constato. Quo vadis, futebol? Há tantos jogos que já nem sabes o que ver e para a maioria tens de pagar. Neste momento, quase todo o mundo está a ir na direção errada. Os bilhetes de entrada estão a tornar-se cada vez mais caros."