O arranque no Reading foi "um choque, conta o treinador português numa entrevista a O JOGO.
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José Gomes chegou ao Reading a 22 de dezembro do ano passado, teve de fazer uma sangria no plantel, mas em pouco tempo estava a salvar o clube da descida de divisão. É mais um emigrante de sucesso, agora a cumprir o sonho de estar a trabalhar no futebol inglês.
O que é que foi mais difícil nesta sua nova aventura?
-Difícil foi todo o trajeto até conseguirmos a permanência, que aconteceu agora. Mas no início foi um choque, não para nós, mas para os jogadores, porque tivemos de tomar uma medida, a primeira, que foi reduzir o plantel, que tinha cerca de 40 atletas. Em janeiro cortámos 14 e depois mais sete, para nos podermos reforçar com cinco cedidos. A Direção entendeu e apoiou, mas os jogadores apanharam um susto.
Como é que se processou o conhecimento dos jogadores para tomar essas decisões?
-Vimos muitos vídeos com os jogos da equipa. Claro que não conhecíamos a mentalidade dos jogadores, nem tão-pouco a influência que eles tinham no grupo, até porque não ficou qualquer elemento da equipa técnica anterior. Não tivemos ajudas nenhumas. Servimo-nos da observação possível, da inteligência e da perspicácia.
E que outras dificuldades tiveram de superar?
-Bem, o grande número de jogos é realmente intenso. Chegámos a 22 de dezembro e apanhámos logo o Boxing Day e o Ano Novo. Fizemos oito treinos e quatro jogos, num curto espaço de tempo. Este campeonato tem realmente uma intensidade incrível e tem muitos momentos desses, com grande intensidade competitiva. Adaptámo-nos bem.
E os jogadores apanharam bem as vossas ideias?
- Felizmente, hoje posso dizer que sim. Eles diziam que estavam cansados de determinado tipo de jogo. Aqui, joga-se muito o futebol direto, nos livres longos há jogadores fortes com a missão específica de provocar o contacto, o guarda-redes normalmente vai até ao meio-campo para bater os livres. Há 10/12 equipas que fazem isso.
E a sua equipa faz isso?
-Não. Os jogadores assimilaram bem as ideias, gostaram de passar a sair com bola em vez dos lançamentos longos, a jogar bem, e felizmente as ideias resultaram.
É uma segunda liga muito competitiva...
-Em muitos aspetos, ultrapassa a I Liga portuguesa. A começar pelo ambiente nos jogos. Estão sempre muitos adeptos. O nosso estádio leva pouco mais de 20 mil, mas jogamos em estádios com 34 mil e sempre cheios. Esse ambiente, naturalmente, acaba por influenciar o rendimento dos jogadores, é uma emoção que os empurra para grandes jogos até ao último minuto. Nos nossos jogos fora de casa temos sempre entre mil e 3000 adeptos nossos, nunca menos.
Quando é que pôde dizer com certeza que ia conseguir o objetivo da permanência?
-No início de março vencemos dois jogos consecutivos, o que não acontecia no clube há dois anos, e aí deu para perceber que a equipa estava no caminho certo e que o objetivo não ia fugir.
Vai continuar no Reading ?
-Sim, tenho mais um ano de contrato.
E já determinou o objetivo?
-Depende do fair play financeiro a que o clube está sujeito. Se conseguirmos ficar livres, poderemos apostar numa equipa para subir de divisão. Caso contrário, é para ganhar o maior número possível de jogos...
Depois de oito anos no estrangeiro, repartidos entre Grécia, Hungria, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, José Gomes voltou para Portugal, para o Rio Ave. "Foi um projeto muito bonito, uma excelente experiência profissional que não vou esquecer nunca. Também não posso esquecer que é graças ao Rio Ave que estou aqui. E tenho de ser muito grato ao clube." José Gomes considera que no Rio Ave "foi feito um trabalho de raiz, deram-nos excelentes condições e, contra os prognósticos de muitos, a equipa surgiu a jogar bem e a deixar sempre uma marca de qualidade em campo."
Não há como esconder: José Gomes está a cumprir um sonho. "Desde há muito que sonhava ser treinador em Inglaterra, acho que é uma ambição de qualquer treinador. As minhas expectativas não saíram defraudadas, porque este é mesmo o país do futebol."
Apesar de tanta satisfação, José Gomes não diria que não a um regresso a Portugal... "Não está nos meus planos, mas nunca se pode dizer nunca. O meu regresso ao campeonato português foi muito bom. E, acredite, gostei imenso de ter voltado. Portanto, um regresso não se pode pôr de lado, mas, repito, não é esse, neste momento, o meu plano."
O treinador não considera que tenha deixado órfão o Rio Ave quando o deixou em dezembro. O clube só agora assegurou a permanência, mas há uma explicação: "Um dos segredos do bom trabalho que fizemos no Rio Ave foi a qualidade dos jogadores. Quando há uma mudança, é natural que leve algum tempo até tudo voltar ao normal. E tenho a certeza de que a estrutura do Rio Ave trabalhou muito bem, como de costume. Nunca tive dúvidas de que ia alcançar a permanência", afirma, manifestando em todo o caso alguma surpresa pelo empate com o FC Porto. "De alguma forma foi uma surpresa. O FC Porto entrou no jogo a ganhar e revelou depois fragilidades que não estamos habituados a ver. Mas o campeonato ainda não acabou."
"Não poderei nunca esquecer o Rio Ave"
Depois de oito anos no estrangeiro, repartidos entre Grécia, Hungria, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, José Gomes voltou para Portugal, para o Rio Ave. "Foi um projeto muito bonito, uma excelente experiência profissional que não vou esquecer nunca. Também não posso esquecer que é graças ao Rio Ave que estou aqui. E tenho de ser muito grato ao clube." José Gomes considera que no Rio Ave "foi feito um trabalho de raiz, deram-nos excelentes condições e, contra os prognósticos de muitos, a equipa surgiu a jogar bem e a deixar sempre uma marca de qualidade em campo."
Não há como esconder: José Gomes está a cumprir um sonho. "Desde há muito que sonhava ser treinador em Inglaterra, acho que é uma ambição de qualquer treinador. As minhas expectativas não saíram defraudadas, porque este é mesmo o país do futebol."
Apesar de tanta satisfação, José Gomes não diria que não a um regresso a Portugal... "Não está nos meus planos, mas nunca se pode dizer nunca. O meu regresso ao campeonato português foi muito bom. E, acredite, gostei imenso de ter voltado. Portanto, um regresso não se pode pôr de lado, mas, repito, não é esse, neste momento, o meu plano."
O treinador não considera que tenha deixado órfão o Rio Ave quando o deixou em dezembro. O clube só agora assegurou a permanência, mas há uma explicação: "Um dos segredos do bom trabalho que fizemos no Rio Ave foi a qualidade dos jogadores. Quando há uma mudança, é natural que leve algum tempo até tudo voltar ao normal. E tenho a certeza de que a estrutura do Rio Ave trabalhou muito bem, como de costume. Nunca tive dúvidas de que ia alcançar a permanência", afirma, manifestando em todo o caso alguma surpresa pelo empate com o FC Porto. "De alguma forma foi uma surpresa. O FC Porto entrou no jogo a ganhar e revelou depois fragilidades que não estamos habituados a ver. Mas o campeonato ainda não acabou."
Uma ferramenta desperdiçada
A conversa com José Gomes centrava-se no jogo entre o Rio Ave e o FC Porto (texto de cima) e foi o treinador quem engatou outro tema que está muito em voga, o VAR. Antes, porém, falou de Sérgio Conceição. "Ninguém se pode esquecer do que ele fez na última época. Não comprou ninguém e fez uma equipa campeã, um trabalho notável. Todos sabemos que o futebol por vezes é ingrato, mas espero que não sejam ingratos com ele..." A seguir, entrou pelo VAR dentro... "O futebol português tem uma ferramenta excecional que está ao serviço da arbitragem, que é o VAR, e que está a ser trucidada, naturalmente por quem a usa." Uma pequena pausa e novo ataque. "Podemos admitir o erro do árbitro. É humano, tem de decidir numa fração de segundos, pode naturalmente errar. Mas um indivíduo que está sentado numa cadeira, a ver o mesmo lance que nós, e por vezes a decidir mal, isso é inadmissível, e aborrece naturalmente. Acompanho o campeonato português, como não podia deixar de ser, e admiro-me como é que isto é possível, como é que se desperdiça uma ferramenta como o VAR, que pode ajudar à verdade desportiva. Já sei que no final vão fazer um balanço e dizer que o VAR corrigiu não sei quantas decisões a bem da verdade desportiva, mas e as que não corrigiu?"
Saudades de um bom peixinho
Natural de Matosinhos, José Gomes adora um bom peixe, é mesmo o alimento favorito do treinador. Em Inglaterra, não foi fácil no início encontrar um bom sítio para matar saudades do peixe. Encontrou há pouco tempo um restaurante português, dirigido por algarvios, o Square Henley, não muito longe de Reading, onde consegue efetivamente comer "à portuguesa". De resto, adapta-se bem, até porque ser emigrante não é novidade nenhuma para José Gomes. Quando aceitou o desafio do Reading, "a camisola de emigrante ainda estava bem quente", diz entre sorrisos.
Reading, cidade simpática
Reading é uma cidade situada entre Oxford e Londres (a 65 quilómetros da capital inglesa) e hoje é sede de grandes empresas multinacionais. José Gomes já conhece bem a cidade, "é acolhedora e as pessoas são muito simpáticas". Desde o início que José Gomes e a sua equipa técnica procuraram casa no centro. "É bom porque assim conhecemos melhor as pessoas, convivemos com elas, passamos no fundo a ser uma delas. Quando vamos para um local que nos é estranho a primeira coisa a fazer é tentar conhecê-lo bem, para melhor compreender as pessoas."