Jorge Jesus, treinador do Al Nassr, participou esta quinta-feira no Portugal Football Summit
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Como começou a sua carreira como treinador? "Lembro-me perfeitamente do começo, foi uma história interessante. Eu era jogador, numa equipa da terceira divisão, no fim da carreira, e estava a jogar contra o Amora. Quando o jogo acabou, o presidente do Amora, Mário Rui, chamou-me e perguntou-me se eu queria ser o treinador do Amora. Eu disse "treinador? Mas eu estive a jogar, não sou treinador", e ele disse-me "eu vi que tu eras o treinador dentro do campo". Isto foi no domingo, tinha até segunda ou terça-feira para pensar, aceitei a proposta, e comecei aí como treinador, tinha 35 ou 36 anos. "
Como foi a adaptação? "Eu já me estava a preparar, porque sabia que, quando acabasse a carreira de jogador, queria ser treinador. Não sabia por onde ia começar, comecei por baixo, pela terceira divisão. Ao longo da carreira, vamos tendo muitos treinadores, vamos aprendendo com uns, e com outros, mais ou menos. Eu olhava para o futebol, e não tinha nada a ver com o que eu treinava. Tentei adapta e criar, para mim, o treinador é um criador das suas ideias, do processo, das várias componentes do jogo. Comecei a criar as minhas ideias, a criar treinos, e foi assim, pouco a pouco, como nós fomos crescendo. Vamos ganhando alguns conhecimentos do que estamos a fazer, nos primeiros cinco anos ainda estamos à procura da nossa identidade."
A sua carreira ficou marcada por algum momento em específico? "Cheguei a um patamar de elite quando entrei no Benfica. No meu primeiro ano, 2009/10, o Benfica foi logo campeão, a equipa não jogava, voava. Tinha uma superequipa, comecei a ter outras portas abertas para sair para o estrangeiro. Já corri três continentes, mas, nessa altura, nunca passou pela minha cabeça sair de Portugal. Estive no Benfica seis anos, ganhei dez títulos, agora estamos noutro lado, mas foi o Benfica quem me abriu as portas para o mundo, não tenho dúvida alguma."
Tem mudado a forma como encara o seu trabalho? "Tenho mudado muito, sou completamente diferente do que era há cinco anos. Vamos mudando, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Hoje sou um treinador muito mais condescendente com o que acontece nos treinos, no começo, e no meio, não aceitava. Hoje, sou muito melhor treinador, como acontece com qualquer treinador. O treinador não tem de perceber só da componente tática, técnica e física, vai muito além disso."
Considera-se como um pai para os seus jogadores? "Pai não sou, os meus jogadores sabem disso. Fui para uma equipa diferente, o desafio mais difícil da minha vida foi treinar o Al Nassr, mas disse-lhes "Não sou o vosso pai, sou vosso treinador". Não sou amigo dos meus filhos, sou pai dos meus filhos, pois é. [aplausos da plateia]."
Como descreve este desafio do Al Nassr? "É o desafio mais difícil da minha carreira. Quem me convidou foi o diretor geral, o Semedo, e o Cristiano Ronaldo. O Al Nassr, desde que o Cristiano Ronaldo está lá, não ganhou nenhum título, e não é campeão há sete ou oito anos. Entre as quatro melhores equipas da Arábia Saudita, as outras três estão à frente do Al Nassr, em termos de qualidade e até de jogadores. Não é por acaso que, no ano passado, o Al Nassr ficou a 18 pontos do primeiro lugar. Quando aceitei este convite, era para ser campeão, não fui para não ganhar títulos. Nos clubes que eu escolho, a minha prioridade é saber se posso ser campeão, e ganhar títulos. Não quero saber de ganhar jogos se, depois, essas equipas não ganham nada, isso não é para mim.