Jogou no Benfica, lesionou-se e agora é ator: "Foi o futebol que me abandonou"

Antigo jogador do Benfica, Rodrigo Mora despediu-se dos relvados no passado dia 13 de julho, num jogo de homenagem que reuniu cerca de 40 000 espectadores no Estádio Monumental na Argentina.

citacao "O meu medo era ficar parado em campo. Até vejo estrelas ao apoiar o pé no solo"

O uruguaio de 31 anos que representava o River Plate até marcou de livre e em campo partilhou os últimos minutos com o filho que também faturou e várias figuras do River como Enzo Pérez, Francescoli, ou Ortega.

Em entrevista a O JOGO, Rodrigo Mora passou em revista a carreira e falou com tristeza das dores insuportáveis que precipitaram o fim. Com uma necrose na cabeça do fémur, até recorreu a curandeiros, antes da operação.

Qual o sentimento neste adeus ao futebol?

- Não abandonei o futebol, o futebol é que me abandonou. Tinha esperança em voltar a jogar e continuarei a lutar para voltar ao relvado, nem que seja a nível amador. Não importa. Na realidade, sofro todos os dias e sinto dores quando caminho em demasia.

Esteve quase um ano parado e voltou em 2018. Foi um milagre?

- Foi incrível. E com tempo suficiente para chegar à final da Libertadores contra o Boca. Mas passei por duas semanas terríveis, porque não me conseguia mexer. E no Mundial de Clubes nem podia treinar.

Mas esteve com os colegas do River Plate?

- Fui apenas acompanhá-los e eles perguntavam-se quanto me doía. Respondia-lhes que não podia treinar. E aí senti que não daria mais.

Percebeu que a situação estava a piorar?

- Ia remando contra a maré. Havia dias que conseguia e aguentava a dor até no ginásio. O meu único medo era entrar em campo e não conseguir movimentar-me, ficar parado no relvado.

Em que zona é que as dores são mais intensas?

- Na cabeça do fémur. Até vejo estrelas cada vez que apoio o pé no solo.

citacao "Chorei muito quando me disseram que não podia jogar. Custava-me dormir"

Tristeza atenuada como ator

Longe dos relvados, Rodrigo Mora encontrou na representação um espaço para esquecer a angústia por ter deixado o futebol. Teve uma participação fugaz na série "El Marginal", que retrata o dia a dia numa prisão e, entretanto, foi selecionado para a terceira temporada da mesma película, que estreou no passado dia 9 de julho.

"Depois da dor maior do adeus ao futebol, pude desfrutar e fez-me bem à cabeça. Conheci um mundo novo. Ser ator parece simples, mas tem muito significado. Por isso, aguardo que me voltem a chamar para a quarta temporada", sublinha, entre risos. No entanto, o semblante triste é indisfarçável.

"Houve momentos em que me custava dormir e quando me disseram que não poderia jogar mais chorei muito, mas a nossa cabeça não pára e como ator estou a conhecer gente nova e a divertir-me. Não penso tanto nisso", sublinha Rodrigo Mora.

Paixão pelo River até no trânsito

Em 2012/13, Rodrigo Mora foi emprestado pelo Benfica ao River Plate, mas ficou tão impressionado que pediu a Luís Filipe Vieira que gostaria de permanecer na Argentina a título definitivo. O presidente das águias acedeu e hoje, Mora sente que tomou a opção mais correta.

"Senti que encontrei o meu lugar no mundo do River. E depois da operação até desfrutei o triplo. Gostava das viagens com trânsito até ao nosso centro de treinos", conta o antigo avançado que disputou 184 jogos pelo River e marcou 41 golos pelos argentinos.

Sonho da seleção ficou por realizar

Rodrigo Mora terminou a carreira com 75 golos em 270 desafios e nunca foi chamado à seleção uruguaia, algo que o deixa triste, por entender que tinha qualidades para ser convocado.

"Jogar pela minha seleção era um dos sonhos que não alcancei. Ficou um sabor amargo. Teriam bastado cinco minutos vestidos com a camisola celeste para defender o meu país", diz, completando: "Creio que no meu melhor momento entre 2014 e 2015, poderia ter tido essa hipótese, pelo menos num jogo particular."

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