Jogadoras afegãs relatam abusos sexuais do presidente: "Havia sangue por todo o lado"
Jornal "The Guardian" revela declarações das jogadoras da seleção nacional do Afeganistão.
Corpo do artigo
Keramuudin Karim, presidente da Federação Afegã de Futebol, havia sido suspenso pelo Comité de Ética da FIFA, por infração do código de ética, ficando impedido de exercer qualquer atividade relacionada com o futebol, enquanto decorre a investigação com base em denúncias de alegados abusos sexuais sobre jogadoras da seleção feminina do Afeganistão.
Declarações dessas mesmas jogadoras são agora reveladas num exclusivo do diário britânico "The Guardian". As atletas, que falaram anonimamente ao jornal por temerem pela segurança das famílias, relatam desde agressões físicas a sexuais, bem como assédio e ameaças (quer às próprias quer às suas famílias).
Uma das vítimas afirma ter sido esmurrada e sexualmente agredida (num quarto ao qual se tinha acesso através do escritório do presidente) por Karim, que depois lhe terá apontado uma arma à cabeça e ameaçado matar membros da sua família caso divulgasse o caso nos órgãos de comunicação social.
"Eu pedi ajuda. Ele começou a tentar chegar mais perto de mim e disse «Eu quero ficar mais próximo de ti, quero ver o teu corpo». Tentei ignorá-lo, fui muito correta com ele e disse-lhe «Ouça, eu preciso de dinheiro para os transportes, não tenho dinheiro. Pode ajudar-me? Se não puder, deixe-me ir»", contou. O que se seguiu é arrepiante:
"Ele disse: «Não te preocupes. Vou dar-te o dinheiro». Disse-me para o seguir para o próximo quarto e fui com ele. Pensei que me fosse ajudar. (...) Era como um quarto de hotel. (...) Ele fechou a porta e disse para me sentar na cama. (...) Começou a empurrar-me. Levantei-me e tentei lutar, mas deu-me um soco na cara. Caí, tentei fugir e abrir a porta, mas não dava. Deu-me outro murro na cara e na boca. Saía sangue pelo meu nariz e lábios. Começou a bater-me. Caí e tudo começou a ficar escuro. Quando acordei, havia sangue por todo o lado, a cama estava coberta de sangue, saía sangue da minha boca, nariz e vagina", pode ler-se.
Outra das atletas diz que Karim ameaçou, em frente às colegas de equipa durante um treino, cortar-lhe a língua, depois de ter fugido quando estava a ser sexualmente agredida, tendo tentado ainda, noutra situação, despi-la.
Uma terceira jogadora alega que o presidente a tentou beijar no pescoço e lábios, tendo conseguido escapar. Esse comportamento levou ao seu afastamento da seleção e posteriormente a um rumor de que era lésbica.
"O seu comportamento tornou-se aceitável entre a equipa de futebol feminino. Ninguém lhe pode fazer frente porque ele é tão poderoso...Hoje as raparigas não podem erguer a voz porque estão com medo. Podem ser mortas", afirmou uma das vítimas.