"João Moutinho é um senhor em campo. Só tive pena de não ter ficado com a sua camisola"
Leandro Andrade, figura do Qarabag que afastou o Braga, algarvio de Tavira com raízes cabo-verdianas, explicou ao JOGO preparação dos duelos, ideias do treinador e sentimento do feito logrado
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Leandro Andrade chegou à eliminatória com o Braga como uma das figuras do Qarabag e o português de Tavira, de raízes cabo-verdianas, ajudou a dinamitar a defensiva portuguesa, fazendo a sua parte num brilhante carrossel ofensivo do elenco de Gurban Gurbanov. O médio-ofensivo, de 24 anos, foi titular em Braga e Baku e partilhou connosco os dias vibrantes na capital azeri bem como muitas sensações sobre o momento da sua carreira. "Foi uma eliminatória bastante impactante para nós. Já estávamos a viver uma situação nova como clube, porque nunca tínhamos saído com sucesso da fase de grupos da Liga Europa e, assim, conseguimos prolongar o que já era um feito histórico. Tínhamos isso em mente de progredir e fazer mais, mesmo tendo pela frente um adversário muito forte", sustentou o jogador, autor de dez golos e oito assistências na época, o melhor registo sénior da carreira, só comparável a números ainda na formação do Olhanense.
"Foram vários fatores motivacionais que fomos pondo do nosso lado, também éramos considerados desfavorecidos em todas as previsões", realçou. "Mas nada foi fácil, o mérito esteve do nosso lado perante um Braga com grandes jogadores e um grande conjunto. Tivemos de ser o melhor Qarabag, muito concentrados em todas as fases do jogo. O Braga apresentou-se com o que tinha, desfalcado de dois atletas, tal como nós. Seguimos as instruções à risca do treinador, respeitando, sobretudo, o nosso futebol ofensivo", precisou Leandro Andrade. " O mister tem sido muito importante, cheguei com 22 anos e se, hoje, tenho muito a aprender, na altura tinha muito mais. Fui contratado como extremo-esquerdo e adaptei-me a jogar dos dois lados, também como médio-ofensivo ou médio centro. Tenho evoluído imenso, confortável e entendendo perfeitamente as ideias de jogo. O mister é ótimo, o que concebe fantástico, quero continuar assim..", observou, descrevendo a emoção que tomou conta do balneário e da cidade, após o brilhante desfecho com o Braga.
"Nunca tinham chegado tão longe, é um país em crescimento no futebol, este apuramento foi mais um momento que colocou o futebol azeri no mapa internacional. As pessoas andam eufóricas, acho que será algo falado por muitos anos", admitiu, focando-se no potencial do emblema que se desviou em 2001 da região de Nagorno-Karabakh para a capital. "É um clube especial pelo grupo, ideia de família, parte tudo do treinador que incute em todos um cuidar do próximo. O Qarabag pode ainda crescer bastante na sua dimensão internacional, não é algo que se resuma a este ano, vem de várias épocas e nada acontece por acaso. Não são semanas nem meses de trabalho, são anos com a marca de Gurbanov, de preparação de um sistema, de colocar os jogadores confortáveis nesse jogo. São também muitas lágrimas e muito esforço. Não vai parar aqui!", avisou.
Moutinho, "um senhor...e foi o melhor"
Desafiado a expor diferenças marcantes sentidas na eliminatória, Leandro explicou o pensamento que acompanhou a preparação dos duelos com os guerreiros. "O Braga é uma grande equipa, de nível altíssimo, basta ver a fase de grupos da Champions que fez, mesmo jogos que não venceu foi superior. E que adversários teve! Fizeram grandes jogos, mostraram o nível que têm. O treinador nunca nos orientou para aspetos defensivos do Braga, motivou os avançados, puxou pelo bom de cada um e deixou-nos, claro, que poderíamos ser melhores em todos os setores", confidenciou Leandro Andrade, enaltecendo méritos azeris.
"Tivemos a abordagem que muitas pessoas não acreditavam que iriamos ter, de jogar no campo todo e de olhos nos olhos. Fomos acreditando no nosso potencial e na capacidade de fazer a diferença de um para um. Mas acredito que o Braga já estivesse à espera, porque tem departamentos muito evoluídos. O Qarabag joga sempre como jogou nestes jogos", explicou o criativo, curvando-se a um homem do Braga, algarvio como ele. "Já era o jogador que mais respeitava e admirava, foi também aquele que mais surpreendeu nos jogos. Já sabia que era fantástico mas, pela idade que tem, por vir de tantos jogos seguidos e com pouco tempo de descanso, não era expectável que se apresentasse tão forte. Foi o melhor do Braga, um senhor em campo. Só tive pena de não ter ficado com a sua camisola. O pai dele ainda foi treinador do meu", recordou.