ENTREVISTA, PARTE II >> João Mendes destacou as dificuldades que superou por ser um 10, posição em risco de extinção no futebol atual, e descreve a evolução da modalidade, com uma componente cada vez mais “física”
Corpo do artigo
Acha que o facto de ser um jogador com caraterísticas de um 10, um médio “à antiga”, posição que quase já não existe, o pode ter impedido de se destacar mais cedo?
—Possivelmente sim. Apanhei uma fase do futebol em que olhavam para essa posição como se já não existisse. Mas eu lutei sempre muito contra isso. Sinto que me prejudiquei um pouco por estes tempos no futebol, em que há certos jogadores e certas posições que estão a acabar, infelizmente. Mas é assim, é a minha história, o meu futebol. Acima de tudo, fico orgulhoso por nunca ter desistido e saber bem o que queria. De ter lutado sempre pelos meus objetivos.
O que acha que mudou mais no futebol nos últimos tempos?
— Fisicamente, os jogadores têm de estar muito mais preparados. É um futebol muito mais físico, taticamente os clubes já treinam todos muito bem, as equipas técnicas estão todas, nesse aspeto, bem estruturadas. Acho que mudou muito, está muito mais tático, muito mais físico e, se calhar, sem algum brilho.
Acha que o facto de o futebol estar mais pragmático e não ter tanta criatividade tira-lhe qualidade?
—Ganha umas coisas, mas também perde outras, sem dúvida. Jogadores que têm características, por exemplo, de um para um, de fazer umas fintas, de fazer coisas diferentes, inventar jogadas que mais ninguém vê, que se calhar mudam os jogos e ganham os jogos, não podemos pedir-lhes que façam coisas que não estão no seu ADN. No entanto, faz parte do futebol que os jogadores também tenham que adaptar-se à realidade e às exigências.
Já referiu que ao longo do percurso teve de abrir a pestana. Ao que se refere?
— Refiro-me à parte de reagir à perda da bola, de ganhar duelos, da minha transição defensiva. Melhorei isso a 200 por cento, já é algo que já me sai automático.
Se fosse treinador e se cruzasse com um João Mendes, o que lhe diria?
— [Pensa] Dizia-lhe para continuar a evoluir nos aspetos em que se tem focado, para continuar a ser alguém com fome de evoluir, de fazer golos e poder chegar mais longe. Porque sinto que ainda pode dar mais do que o que tenho dado.