Itália inspirou-se nos espanhóis e agora colhe frutos: o sucesso explicado
Espectador privilegiado dessa transformação, o português Fabiano Flora explicou a O JOGO que Roberto Mancini teve o mérito de encaixar as peças do complexo "puzzle" tático que é a Serie A.
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A sequência invicta da Itália já fazia antever uma boa participação no Europeu, mas a chegada à final era um cenário que poucos se atreviam a antever. No lote dos que não ficaram surpreendidos está o português Fabiano Flora.
O atual adjunto da seleção do Madagáscar tirou o curso de treinador "UEFA A" em Coverciano, centro de estágio da Azzurra, em 2011 e foi espectador privilegiado da transformação ao nível da metodologia de formação que se seguiu ao desastre no Mundial"2010, onde a seleção italiana ficou em último lugar num grupo com Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia.
A inspiração para essa revolução veio da Espanha, campeã mundial na África do Sul, que, onze anos volvidos, viu a "aluna" mostrar-se superior nas meias-finais do Europeu"2020. "Existia a necessidade de implementar uma renovação de conteúdos programáticos em virtude das exigências do futebol atual e houve uma junção perfeita dos métodos italianos com os espanhóis. Tínhamos, inclusive, um docente [Maurizio Viscidi] que tinha como principal função apresentar e transferir o modelo espanhol e princípios específicos de várias equipas de lá, sobretudo o Barcelona", revelou Fabiano Flora a O JOGO.
Fabiano Flora explica que o conceito de posse e construção ofensiva dos espanhóis se aliaram à tradicional organização defensiva italiana para criarem uma mistura "explosiva" que ajudou os jovens formandos, agora protagonistas do calcio, a alcançarem um patamar superior ao da concorrência.
"A nova visão foi sendo passada aos vários treinadores italianos e eles ficaram um passo à frente a nível estratégico e tático. No processo defensivo, a Azzurra, à semelhança do que fazem várias esquipas italianas, privilegia uma organização em progressão, passou a marcar em antecipação e arrisca muitas vezes o 1x1. A atacar coloca mais jogadores na área e é camaleónica ao nível de sistemas e dinâmicas", escrutinou o luso.
Considerando a Serie A como a mais "complexa" das ligas europeias a nível tático, Fabiano Flora elogiou Roberto Mancini por ter conseguido, num curto espaço de tempo, aproveitar na seleção as principais características das equipas mais fortes da prova.
"A qualidade que vimos no Itália-Espanha é o que se passa, semana após semana, na Serie A. Não existe um sistema... há vários. Mancini inspira-se na intensidade da Atalanta, na verticalidade da Lázio, nas combinações táticas do Inter, na construção do Nápoles e na posse da Juventus e do Sassuolo. Tem muito mérito pela forma como juntou as peças para criar uma equipa com processos muito bem definidos", concluiu o treinador.