As opiniões recolhidas por O JOGO em Portugal e Itália apontam várias causas para uma passagem dececionante pelos milaneses. Incluindo a falta de paciência dos adeptos e da crítica.
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Um ano e meio depois de ter sido aplaudido de pé por 50 mil adeptos do Inter, João Mário saiu do clube pela porta pequena e seguiu para Inglaterra, tendo sido oficializado na sexta-feira. Os 47 jogos disputados e três golos marcados não disfarçam o fracasso. Chegou como campeão europeu, custou 45 milhões de euros e, agora, o Inter só espera que o internacional luso relance a carreira no West Ham e faça um bom Mundial, para recuperar o investimento numa futura transferência.
João Mário é um jogador de indiscutível talento e titular na Seleção. O que justifica tamanho fiasco? O JOGO tentou perceber e ouviu opiniões em Portugal e Itália que apontam, desde logo, o futebol "muito tático e defensivo" como uma das razões para as suas dificuldades de adaptação, a par da dificuldade em lidar "com uma crítica exigente e impiedosa". Mirko Graziano, jornalista da "Gazzetta dello Sport" que acompanha o Inter, diz-nos: "Não ajudou chegar com a etiqueta de ter custado mais de 40 milhões. Demonstrou dificuldades em lidar com as críticas", acrescentando: "O futebol italiano é muito físico e o João Mário é um jogador delicado, com um futebol refinado. Diria que é o jogador perfeito para jogar em Espanha."
Vidigal, que na década passada jogou no Nápoles e Udinese, vai pelo mesmo caminho. "Quando um jogador estrangeiro chega a Itália, sem ser um nome consagrado, e ainda por cima custa o que o João Mário custou, tem de pegar de estaca. A crítica não perdoa e tem de se ter capacidade mental. Às vezes é preciso engolir alguns sapos. Ninguém duvida da qualidade do João, não sei o que terá acontecido, mas no fim a desmotivação terá tomado conta dele"
O treinador Leonel Pontes aponta o "futebol físico e defensivo" italiano como uma das razões do insucesso. Reconhece "falta de agressividade" ao médio e lembra que, em Itália, "os jogadores têm de ser viris". Admite, contudo, que João Mário poderia ter tido êxito "numa equipa de pendor mais ofensivo, que também as há em Itália, para fazer uso das suas qualidades técnicas."
Antiga glória nerazzurra e ex-comentador de TV, Evaristo Beccalossi concorda que as qualidades do jogador "não foram bem aproveitadas" e acrescenta: "Nunca impôs o seu futebol em campo e os adeptos do Inter não perdoam isso."