Irmão de homem executado na Arábia Saudita apela: "Não deixem que comprem o vosso silêncio"
O irmão de um homem executado no ano passado pelo governo saudita escreveu uma carta aberta a Steven Gerrard e Jordan Henderson, pedindo que falem sobre as acusações de violação dos direitos humanos que o país enfrenta e provoquem mudanças no regime.
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O irmão de um homem executado pelo governo da Arábia Saudita escreveu uma carta aberta a Steven Gerrard e Jordan Henderson, em que pede que o treinador e capitão do Al Ettifaq, respetivamente, falem publicamente sobre as acusações de violações dos direitos humanos que o país enfrenta.
Detido pelo ministro dos desportos saudita, o Al Ettifaq pertence a um regime acusado de realizar execuções, incluindo 81 num só dia do ano passado. Uma dessas vítimas foi o irmão de Yasser al-Khayat, alegadamente por ter participado numa manifestação em prol da democracia.
Lembrando o apoio que a dupla inglesa demonstrou no passado em relação à comunidade LGBTQIA+ e, com a sua equipa a jogar hoje nos 16 avos de final da Taça do Rei saudita, uma prova em honra da família real, Al-Khayat apela a que o treinador e o médio falem publicamente sobre as execuções e coloquem "pressão" sobre o regime saudita, salvando vidas.
Leia a carta:
"Caros Gerrard e Henderson, hoje a vossa equipa, o Al Ettifaq Football Club, joga na primeira ronda da Taça do Rei da Arábia Saudita. O monarca a quem o troféu é dedicado é o Rei Salman. Desde que chegou ao poder com o seu filho Mohammed bin Salman, em 2015, o seu regime já executou mais de 1000 pessoas. A taxa de execuções anuais quase duplicou durante o seu reinado.
A taça em que estão a competir hoje é uma homenagem a essa família no poder. Se chegarem à final e ganharem, estarão a levantar um troféu em sua honra. Não se trata apenas de mais uma taça numa longa carreira, mas sim de um exercício de lavagem desportiva da Arábia Saudita relativamente às suas violações dos direitos humanos. Se ganharem a Taça do Rei, as medalhas que pendurarem ao pescoço estarão manchadas com o sangue daqueles que a família governante matou.
Isto é pessoal para mim, porque no ano passado o meu irmão Mustafa foi um dos executados pela Arábia Saudita. Ele foi uma das 81 pessoas mortas num dia, a maior execução em massa da história do país. Foi condenado à morte por ter participado numa manifestação a favor dos direitos humanos no país. Muitos outros foram executados pelo mesmo motivo. Alguns dos mortos eram crianças quando participaram nas manifestações, acusados de crimes capitais apesar da sua idade. No momento em que vos escrevo, dois jovens, Abdullah al-Derazi e Youssef al-Manasif, estão sentados no corredor da morte por crimes que foram acusados de cometer quando eram crianças. Ambos foram torturados e coagidos a assinarem confissões forçadas. Podem ser condenados à morte a qualquer momento. Se falarem, podem salvar-lhes a vida.
Como figuras públicas proeminentes do país, as vossas vozes podem exercer uma verdadeira pressão sobre a família governante saudita. Vocês não foram contratados apenas para jogar futebol, foram contratados para lavar a sua reputação manchada de sangue. O fundo soberano do país financia a Pro League e paga os vossos salários, mas não podem deixar que a família governante compre o vosso silêncio.
Ambos já tomaram posições nas vossas carreiras futebolísticas, desde a condenação do racismo ao apoio aos direitos LGBTQ+. Henderson disse recentemente que "lamentava" a comunidade LGBTQ+ pela dor que causou ao escolher jogar num país onde a sua sexualidade é ilegal.
E, no entanto, também 'tweetou' recentemente sobre o "acolhimento generoso" do Governo da Arábia Saudita. Será que a hospitalidade que estão a receber vos faz esquecer os vossos valores? Só porque se mudaram para a Arábia Saudita, não devem deixar os vossos valores em casa. Os valores dos direitos humanos e da democracia são mais importantes do que nunca, agora que estamos a viver num Estado autoritário. Se defendessem esses valores, as vossas vozes poderiam ter ainda mais força.
O meu irmão Mustafa perdeu a vida ao defender esses valores, ao protestar pela democracia e pelos direitos humanos na Arábia Saudita. Foi executado em segredo, pelo que nunca nos pudemos despedir dele e nem sequer o podemos chorar devidamente, porque as autoridades sauditas não querem devolver o seu corpo. Mas, como ele defendeu os direitos de todos nós, temos o dever de continuar a contar a sua história, até que injustiças como a sua morte façam parte do passado. Por favor, não ignorem a história do meu irmão Mustafa ou das centenas de outros que foram mortos".
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