Internacional português em Itália confessa: "A situação piorou e estou com medo"
Dany Mota, da Seleção Sub-21, vive em Monza, cidade situada na Lombardia, a região mais afetada pelo Covid-19
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O avançado do Monza treina diariamente em casa para não descurar a forma física, mas também para ajudar a passar o tempo, até porque vive sozinho numa cidade sob um ambiente de enorme tristeza.
No último mercado de inverno, Dany Mota trocou a Juventus pelo Monza, equipa situada na Lombardia, a região italiana mais afetada pela pandemia que tem atacado por todo o mundo. O internacional sub-21 português não foi afetado pelo Covid-19, mas admitiu a O JOGO o medo que sente por uma situação que, lembra, tem piorado a cada dia que passa.
"Fizemos [o teste], claro, mas deu negativo e fiquei descansado. Havia sempre o receio"
Por isso mesmo, apela a todos, incluindo aos compatriotas que estão em Portugal, para permanecerem em casa. Refere, inclusive, que foi por terem reagido tão tardiamente que tanto Itália como Portugal deixaram que o problema se agravasse.
O internacional português cumpre as ordens e não sai de casa, situada em Monza, a escassos 22 quilómetros de Milão. É lá que cumpre o período de quarentena até novas instruções do clube, mas enquanto não tem as boas notícias, aproveita para não descurar a condição física. Dentro de casa ou no jardim da residência, vai treinando... sozinho.
Psicologicamente, com tem vivido esta situação?
- Estou com medo. Leio os jornais, vejo a televisão e, em vez de melhorar, parece que está a piorar. É uma situação muito preocupante. Espero que passe o mais rapidamente possível.
Há quanto tempo está em quarentena?
- Estou há seis dias e vamos ficar em quarentena, pelo menos, até ao próximo dia 22. Mas o problema é que o regresso à normalidade não deve acontecer tão cedo. Vamos ter de esperar para perceber quando podemos voltar a treinar normalmente. Mas isso depende das pessoas e de se comportarem como deve ser, ficando em casa.
Chegou a fazer o teste para saber se estava infetado?
- Fizemos, claro, mas deu negativo e fiquei descansado.
Estava preocupado com o resultado?
- Havia sempre o receio, como é evidente, e fiquei feliz por mim e pelos meus companheiros.
"Muitas vezes treino até para ver se o tempo passa..."
Algum colega de equipa deu positivo no teste do Covid-19?
- Felizmente ninguém deu positivo e isso deixa-me mais tranquilo.
Como tem sido o seu dia a dia?
- Tenho estado em casa e fico por aqui a treinar diariamente para manter a forma. Tenho em casa bolas pesadas de 15 e 20 quilos, tenho ainda bolas de futebol e como tenho um jardim grande e uma baliza, isso permite-me treinar tranquilamente.
Mesmo em casa, mantém algumas rotinas?
- Sim, tem de ser. É como se fosse um dia como os outros. Levanto-me de manhã, tomo um pequeno almoço ligeiro, treino depois um pouco de manhã, faço um almoço ligeiro e à tarde vou até ao jardim treinar uma ou duas horas. Muitas vezes treino até para ver se o tempo passa... Tenho de manter a forma porque quero estar em condições quando esta situação melhorar.
Como é o ambiente em Monza?
- É um ambiente triste. Não se vê praticamente ninguém na rua, porque as pessoas não podem sair de casa. Só mesmo para ir à farmácia e às compras. Nesses espaços as filas são enormes para comprar comida. Felizmente não tive de ir para essas filas nos supermercados, porque tenho comida em casa. Mas tem de ser desta forma e espero que o esforço valha a pena.
Não lhe parece que os italianos e até os portugueses reagiram tarde ao problema?
- Sim, sem dúvida alguma. Reagiram muito tarde, quando já tinham demasiados casos e muitas mortes. Esse foi um dos problemas.
"Antes que a situação agravasse
fiz as compras para o mês inteiro"
As longas filas para entrar nos supermercados italianos continuam, mas Dany Mota ainda não teve de passar por essa fase. "Antecipei-me e, antes que a situação agravasse, aproveitei e fiz as compras para o mês inteiro. Como já tinha visto como estava a situação, pressenti que iria piorar", contou o avançado, revelando o que comprou para colocar na dispensa.
"Comprei os produtos básicos de um atleta, como massa, carne, fruta e vários produtos enlatados". Agora é só meter diariamente as mãos à obra. "Como vivo sozinho, tenho de se eu a cozinhar...".