"Houve muita pressão sobre os jogadores do Irão e pode tê-los afetado no primeiro jogo"
Representante do Irão em Portugal gosta de futebol mas não quer misturas com política. Sobre direitos humanos diz não haver uma receita. O Irão tem estado no olho de um furacão de protestos e questões humanitárias que foram transportados para o Mundial. A O JOGO, o embaixador iraniano falou de futebol e de perspetivas diferentes.
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Morteza Damanpak Jami, embaixador do Irão em Portugal e fã de futebol, esperava melhor entrada da sua seleção no Mundial. A goleada perante a Inglaterra (6-2) deveu-se a terem "subestimado o adversário, um jogo demasiado defensivo na primeira parte e outros elementos, como demasiada pressão sobre os jogadores, que podem ter afetado a seleção". Na segunda parte viu, contudo, melhorias e dois golos (ambos de Taremi), que tiveram sequência na vitória sobre Gales. Seguem-se os EUA.
Quem vai ganhar o Mundial e o que pode fazer Portugal?
-Normalmente, pensa-se em Brasil, Argentina, França ou Alemanha... mas já assistimos a surpresas! Os meus amigos portugueses acreditam que Portugal pode ser campeão e tem jogadores no topo da forma. Toda a gente gosta do Ronaldo, mas eu também admiro outros, como os portistas Diogo Costa, Pepe e Otávio.
O que pensa dos protestos dos adeptos iranianos?
-O Mundial é um espaço para as pessoas apoiarem as suas seleções e não para manifestações políticas. Houve iranianos que protestaram nos estádios, mas em geral estão a apoiar a seleção.
Houve quem mostrasse a frase "Zan, Zendegi, Azadi [Mulheres, Vida, Liberdade]" em estádios. O Irão está preparado para lidar com os direitos das mulheres e mostrar uma imagem diferente da criada pela morte de Mahsa Amini?
-A morte de Mahsa Amini foi dolorosa. A investigação oficial já foi publicada e não detetou qualquer má conduta. A lei do Irão prevê manifestações pacíficas mas as que têm decorrido degeneraram em violência, provocando insegurança no país. O Irão e os iranianos têm raízes numa grande civilização e as imagens do país estão a ser misturadas com notícias falsas, através das redes sociais e canais de televisão em língua persa sediados na Europa, que não estão a dar a imagem correta da sociedade iraniana, que tem feito muito para garantir os direitos das mulheres.
Qual a sua perspetiva sobre as críticas ao Catar em relação ao desrespeito dos direitos humanos, dos das mulheres e à homossexualidade?
-Não é apropriado levantar essas questões durante um Mundial. O Catar é um país islâmico com os seus valores, que devem ser respeitados pelos visitantes. Aquilo a que chamamos direitos humanos ou valores não é universal. Não há uma só receita de direitos humanos. Certos valores ocidentais são opostos aos de países da Ásia ou África. O que já se sabia quando a FIFA atribuiu o Mundial ao Catar, que tem certas linhas vermelhas e limitações. Em vez de se preocuparem com assuntos laterais - se é permitido beber álcool ou como se lida com a homossexualidade, que são valores da sociedade ocidental -, as pessoas deviam apreciar os jogos e apoiar as suas equipas.
As questões políticas afetam os jogadores?
-Carlos Queiroz tomou a posição certa ao pedir apoio para a seleção. Houve muita pressão sobre os jogadores e pode tê-los afetado no primeiro jogo. Eles não devem ser pressionados a tomar ou não determinada posição, não devem ser envolvidos em política e sim concentrarem-se no jogo. Depois, contra Gales, vimos que já está tudo em ordem. O meu país vive uma situação difícil e está a precisar de algum orgulho nacional.
"Taremi é um bom embaixador"
Admirador de Taremi, o embaixador iraniano registou com agrado as felicitações do FC Porto e da Liga Portugal às exibições e golos do avançado no Catar, ao ponto de aproveitar uma referência desta última entidade para dizer que "ele é, de facto, imparável".
Morteza Damanpak Jami acredita que o Mundial, mesmo aos 30 anos, pode ser o trampolim para uma transferência, com destino a um clube de Inglaterra ou de Itália. "Conheço-o bem e sei que estava a contar com isso no início da época", diz o embaixador, que vê todos os jogos do portista, a maioria pela televisão e alguns nos estádios, em Lisboa e no Dragão: "Fui convidado pelo FC Porto duas ou três vezes."
Questionado se Taremi é um bom representante do país, o embaixador coloca a esse nível "todos os atletas iranianos no estrangeiro": "Taremi está entre os melhores embaixadores do meu país em Portugal e na Europa, tem sido exemplar na boa imagem que dá do Irão e tem dezenas de milhar de fãs. O desempenho dele, o comportamento discreto, focado na profissão, e a simpatia com as pessoas fazem dele um embaixador do nosso país."