Gales tem a simpatia de franceses e alemães, por motivos óbvios, mas Fernando Santos e os jogadores de Portugal não vão querer perder a oportunidade de calar algumas bocas.
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Mais um dia, mais uma provocação. Desta vez foi Guy Roux, antigo treinador francês do Auxerre, a assumir o papel de escansão e a torcer o nariz à qualidade de jogo de Portugal, aproveitando pelo caminho para se expor ao ridículo e colocar em causa a idade de Renato Sanches.
A Imprensa estrangeira, e em particular a francesa, transformou a crítica ao futebol praticado pela equipa de Fernando Santos numa espécie de rotina diária, cumprida com aquela regularidade que apenas os melhores iogurtes com bifídus ativos conseguem garantir. Fernando Santos já se ri quando pressente a inevitável chegada do tema às conferências de Imprensa. Foi assim, ontem, quando sacudiu os devaneios de Guy Roux com sorriso e um encolher de ombros. "Críticas? Isso é música para os meus ouvidos. Eu e os meus jogadores estamos concentrados e queremos é estar na final". Quanto a Renato Sanches, "nasceu em Portugal" e "é registado" tal e qual como o selecionador. Ou quase: "Ele tem 18 anos e eu tenho 61. O resto é brincadeira, é fait divers". Ao fim de quase um mês a treinar, o selecionador já se habituou a usar as críticas ao estilo de jogo da Seleção como combustível para incendiar a equipa. E, desta vez, vai mesmo ser preciso incendiá-la.
Depois da saída da Irlanda do Norte e da República da Irlanda e após a eliminação da Islândia pela França, o País de Gales é a menina dos olhos do resto do mundo. Dos alemães e dos franceses em primeiro lugar, claro. Porque apesar de todas as críticas e de todos os narizes torcidos que Portugal lhes provoca, pelo sim e pelo não, tanto uns como os outros preferiam não ter de se cruzar com Ronaldo e companhia na final de Paris. E dos outros todos que, simplesmente, não resistem a uma boa história e olham para Gales como uma espécie de herói romântico, o último David que resta num clube frequentado só por Golias.
O que, bem vistas as coisas, até pode não ser mau. Afinal, os galeses não vão poder usar fisgas e a Seleção não se tem dado mal no papel de vilão que joga contra tudo e contra todos sem perder muito tempo com dúvidas existenciais ou preocupações com a nota artística. Certo é que, tal como Chris Coleman, o selecionador galês, disse, o jogo de hoje não é Ronaldo contra Bale. Nem sequer é Portugal contra Gales. É Portugal contra o resto do mundo. E, como sublinha Fernando Santos, é para ganhar, que feio é perder e ver as finais em casa.