Há o duelo Ronaldo-Messi e não só: Sampaoli, o surfista que desafia Jorge Jesus
Treinador argentino está a deixar uma marca pessoal no Santos, como o português tem feito no Flamengo. Este sábado, defrontam-se pela liderança do Brasileirão
Corpo do artigo
O Flamengo não é só a equipa que revolucionou o futebol brasileiro com as suas últimas contratações, mas também a que mais ruído provocou em toda a América do Sul. Vai lutar por tudo e isso implica discutir o Brasileirão assim como a Taça Libertadores, prova que o clube não vence há 38 anos.
O empate caseiro da última jornada contra o At. Paranaense deixou o Santos dois pontos atrás do Flamengo
Para alcançar esse objetivo, a equipa de Jorge Jesus terá primeiro de ultrapassar o Grémio e só depois jogar a final ante o River ou o Boca, os dois gigantes argentinos. Mas, a nível local, também terá um grande desafio contra um argentino.
O clube carioca realizou um investimento astronómico para contar no banco com o antigo treinador de Benfica e Sporting e em campo com figuras como Filipe Luís e Rafinha, ex-At. Madrid e Bayern respetivamente, tendo como principal ameaça interna o Santos de Jorge Sampaoli. Um treinador que, depois do fracasso com a seleção da Argentina, voltou a mostrar as suas melhores armas com o plantel mais austero dos que vai dando cartas no Brasil.
O embate deste sábado, às 21h00 no Maracanã (17h00 no Rio de Janeiro), entre os dois primeiros classificados, será um verdadeiro duelo de estilos entre dois treinadores de elite, dois técnicos que têm alguns pontos em comum, nomeadamente o facto de terem sido sinalizados por Vanderlei Luxemburgo, o treinador brasileiro que se manifestou contrário à chegada de colegas estrangeiros.
Também há diferenças, nomeadamente nos gastos em contratações. Como exemplo, basta ver que o Santos foi buscar Fernando Uribe (avançado que era suplente no Flamengo) e a dupla atacante do Fla é formada por Bruno Henrique e Gabriel Barbosa, até há época passada dianteiros do Santos, que não pôde segurá-los e agora gritam golos no Rio de Janeiro. A mudança tática que impôs Jorge Jesus (implantou o 4x4x2 e abandonou o 4x3x3 que era utilizado por Abel Braga) favoreceu, de resto, os avançados que são hoje peças chave no Flamengo.
No Rio de Janeiro, Sampaoli tem à espera um dos grandes desafios desde que chegou ao Brasil
O empate caseiro da última jornada contra o At. Paranaense deixou o Santos dois pontos atrás do Flamengo e, por isso, o choque no Maracanã é fundamental para ambas as equipas. "Jorge Sampaoli não vai mudar o seu estilo ou ideias nesta partida. Vai entrar a pressionar como faz sempre", contam fontes próximas do técnico argentino que, em poucos meses, conseguiu estampar o seu selo no estilo de jogo do Santos e colocar a equipa a lutar com os grandes do Brasil pelo campeonato.
Era um grande desafio para ele, depois de sofrer um enorme revés no Mundial da Rússia com a seleção de Messi, Aguero e companhia. O técnico argentino descansou uns meses, recusou propostas para orientar outras seleções e clubes chineses e árabes, apostando em renascer no Brasil. Aí encontrou o espaço que necessitava para renovar-se: hoje vive num edifício em frente à praia, com a esposa e cinco cães, vai para os treinos de bicicleta e todos os dias vai até ao mar para praticar surf.
Modelo de Klopp e as boas referências dos ex-pupilos de JJ
No capítulo estritamente futebolístico, confirmou a imagem que havia deixado boas recordações no Brasil, graças a um 4-0 histórico da Universidade do Chile contra, justamente, o Flamengo, na Taça Sul-americana de 2011. E, também, pelo empate da seleção do Chile contra o Brasil nos oitavos de final do Mundial'2014. Um jogo em que os locais se qualificaram no desempate por penáltis.
O seu Santos joga em 3x4x3 ou 4x3x3, priorizando a posse de bola e procurando pressionar como o Liverpool de Klopp. O técnico alemão é outro espelho onde Sampaoli procura refletir-se, embora tenha também as melhores referências de Jorge Jesus. Era habitual conversar sobre os métodos do português com Salvio e Acuña quando dirigia a seleção argentina. E também com Pablo Aimar, então selecionador dos sub-17 argentinos, que admira JJ.
11296159
O antigo número 10 do Benfica é também um ponto de comum entre ambos, porque Jorge Jesus o definiu assim: "É o melhor jogador sul-americano que dirigi", explicando: "Pablo via as coisas por antecipação. Antes de receber a bola já sabia o que fazer com ela. Jogava de costas como se pudesse ver." Foi numa conversa para o site oficial da Taça Libertadores que o treinador do Flamengo elogiou Aimar e avisou: "Tenho um jogador um pouco parecido na minha equipa, que é De Arrascaeta."
Ora, Sampaoli acredita que uma das chaves da partida deste sábado será não deixar que o uruguaio tenha muita bola, porque a partir dele nasce o futebol dos cariocas. Assim como Jesus considera que "o jogador argentino é mais agressivo e competitivo que o brasileiro", dos quais destaca "o talento, embora mais pausado", Sampaoli imprime essa agressividade aos jogadores que agora procuram sufocar os adversários no meio-campo ofensivo.
No Rio de Janeiro, Sampaoli tem à espera um dos grandes desafios desde que chegou ao Brasil. Um triunfo deixá-lo-ia como líder do campeonato. Não gastou milhões, apostou em futebolistas que não tinham lugar nas suas equipas (como Jorge, ex-Mónaco que passou cedido sem sucesso pelo FC Porto) e agora anima-se para o embate contra o gigante liderado por Jorge Jesus.