Gostava de regressar a Portugal e atira: "Têm receio do meu estilo como diretor-desportivo"
ENTREVISTA - Deixou, no dia 1 de julho, os gregos do PAOK, onde foi por duas temporadas um diretor para o futebol com abrangência de cargo, um acelerador de experiência que agora queria aplicar em solo lusitano.
Corpo do artigo
Mário Branco foi uma das caras do primeiro título do PAOK após 34 anos, em 2018/19, quando fez a dobradinha.
Que balanço faz destas duas épocas na Grécia?
-É, obviamente, positivo. Lembro que entrei no PAOK como diretor para o desenvolvimento do futebol, mas tinha acordado entrar imediatamente como desportivo; à última hora, quem decidia não quis quem estava em funções. Em novembro, assumi oficialmente o cargo - foi apenas uma questão orgânica. Depois, estive presente naquele que foi apenas o terceiro título da história do PAOK, que há 34 anos não era campeão, com 26 vitórias no campeonato. Tivemos um percurso quase imaculado na taça, que também conquistámos, acabando por ser algo inédito para o clube.
12439541
Fala do primeiro ano, mas neste foi tudo diferente...
-Este ano não fizemos jus ao que construímos na época passada. Foi a saída do treinador [Razvan Lucescu], o recomeçar com um modelo diferente, um treinador diferente [Abel Ferreira], o sorteio da Champions, com o Ajax; o fracasso - que assumo - com o Slovan Bratislava, ao não entrarmos na Liga Europa. Mas o balanço tem de ser positivo, porque, quer queiramos quer não, fico com a minha pequena parte da época da, como se diz lá, "dupla-dourada".
Assumiu que queria deixar o PAOK como um dos 30 melhores da Europa. Onde é que deixa este clube?
-Isso foi um desafio que o dono, o senhor Ivan Savvidis [proprietário], fez a toda a estrutura. É o sonho dele e para o qual tem investido. Temos, porém, de ser realistas, o PAOK ainda não está nesse patamar - precisa de jogar uma Champions. O PAOK e o Olympiacos lideram com grande vantagem na Grécia, mas falta esse "pedigree" na Champions. No meu primeiro ano estivemos quase, fomos eliminados pelo Benfica; nesta temporada, com a entrada do Abel, a saída do treinador... Houve demasiadas convulsões, internas e externas.
"Há muitos clubes que funcionam de forma presidencialista e acham que eu chego e vou mandar, que tenho uma fasquia demasiado alta"
Terminou contrato e não continuou. Já tem algum projeto para abraçar?
-Felizmente, já tive duas abordagens concretas, mas estamos numa época de incerteza, devido à pandemia. Os clubes têm relutância em proceder a troca de jogadores e treinadores; agora pense nas estruturas a nível executivo. Gostava de regressar a Portugal, tenho saudades do futebol português, já são quatro anos longe. Temos, fora, uma visão diferente. O futebol português é muito bem visto em termos europeus, muito mais do que como o avaliam em Portugal. Já tive uma possibilidade que em princípio não se concretizará. Não quero, no entanto, voltar a qualquer custo. As pessoas têm receio do meu estilo como diretor-desportivo. Há muitos clubes que funcionam de forma presidencialista e acham que eu chego e vou mandar, que tenho uma fasquia demasiado alta. Acaba por ser uma desculpa, porque acho que não há muitos executivos com a minha capacidade de liderar e executar. Insiro-me bem em todas as realidades, as minhas três últimas experiências duraram um total de oito anos.
Falou-se do Sporting. É um dos clubes que o abordou?
-É difícil responder-lhe. A determinada altura falou-se disso, mas respondo agora como respondi então: ninguém me abordou oficialmente. Mas a equipa que me abordou recentemente não era o Sporting, que está bem servido.
No novo desafio, pretende aplicar essa abrangência?
-Em Portugal, o diretor-desportivo ainda é visto de forma redutora. Lá fora era mais do que isso, era um diretor-geral, todo o edifício do futebol dependia de mim - era a mola, a locomotiva. Neste momento sinto-me muito mais capaz de ser um diretor-geral, um executivo com responsabilidade na visão estratégica a longo prazo. Ganhei experiência para isso.
DE VÍTOR PEREIRA AO EPISÓDIO COM LICÍNIO
Vítor Pereira também está de saída da Grécia, mas da liderança da arbitragem. Fez um bom percurso?
-Na Grécia, qualquer jogo grande é um dérbi. Nos jogos grandes, com PAOK, Olympiacos, AEK, Panathinaikos e também Aris, foi decidido que se jogassem com árbitros estrangeiros e isso é mérito do Vítor Pereira, que trouxe credibilidade. É muito difícil para um árbitro grego apitar um desses jogos, porque a pressão é completamente exacerbada. São convidados árbitros do grupo de Elite da UEFA. Para nós são importantes, porque chegam, apitam e estão imunes à pressão, porque não entendem a língua e os jogos são mais equilibrados. Aqui não há adversários, há inimigos e não promovem o futebol.
Elogios para a forma como o antigo juiz tratou a arbitragem na Grécia e a história que fez rir Portugal
Num AEK-Aris, Rui Licínio, assistente, levou um "apertão" do presidente do AEK.
-[risos] Somos da mesma cidade e falámos sobre isso. Ele ficou bastante surpreso. Há muita gente nos túneis acreditada e aí abordaram-no de forma pouco ortodoxa [agarraram-lhe os testículos].