Gelson Martins em exclusivo: "Só fiquei em paz depois de falar com o árbitro"
ENTREVISTA, PARTE I - O ato irrefletido durante o desafio contra o Nimes custou-lhe 20% do ordenado. O extremo está profundamente arrependido, mas não baixa a cabeça: "Vou voltar mais forte que nunca", garante.
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Gelson Martins perspetivava regressar à competição a 6 de agosto, mas o comité executivo da Federação Francesa de Futebol decidiu congelar o tempo de contagem das suspensões "entre 13 de março de 2020 e 30 de junho de 2020, seja qual for o período ou a data em que foi pronunciado", pelo que o jogador português terá provavelmente de esperar até novembro para voltar a jogar oficialmente.
Gelson ainda não foi notificado e, por essa razão, não se pode pronunciar publicamente sobre o tema. Os advogados do Mónaco avaliam, nesta altura, o dossiê e mais tarde irão tomar uma decisão.
O extremo, recorde-se, foi suspenso na sequência do empurrão ao árbitro Mikael Lesage, no Nimes-Mónaco, jogado a 6 de fevereiro. Por coincidência, a Liga colocou um ponto final no campeonato devido à pandemia da covid-19, o que pode deixar o extremo mais de nove meses sem competição .
Neste turbilhão de decisões e emoções, comecemos pelo início... Depois de ter empurrado o árbitro e de ter visto o cartão vermelho, o que lhe passou pela cabeça?
-Tudo e mais alguma coisa, as piores sensações.
Mas percebeu a dimensão do problema em que estava metido?
-Claro. E só senti alguma paz depois de ter ido ao balneário falar com o árbitro. Pedi-lhe desculpa e apresentei as minhas explicações. Nada justifica o que eu fiz, a minha atitude, mas tive a humildade de pedir desculpa pessoalmente ao árbitro e fechar aí esse capítulo. Entendi que foi uma atitude descontrolada, que normalmente não acontece comigo. Espero que tenha sido uma vez sem exemplo. Já deixei isso para trás. Vamos seguir em frente.
Foi multado pelo clube, como tinha sido anunciado?
-Fui.
Qual foi o valor da multa?
-Não vou dizer exatamente qual foi o valor, mas foram vinte por cento do meu salário de um mês.
Tratou-se de uma lição?
-Foi uma lição, sem dúvida. Podem acreditar que vou voltar mais forte do que nunca.
Nunca lhe tinha acontecido estar parado durante tanto tempo. Como é que têm sido estes dias fechado em casa?
-É verdade. Nesta fase, temos sempre muita fome de bola. Espero recomeçar o mais depressa possível. Durante os treinos que faço em casa tenho dado uns toques, mas nada disso é comparável com o que se faz num campo de futebol.
Concorda com a decisão da Liga francesa em dar por concluído o campeonato, quando vão avançando com medidas de desconfinamento noutros setores da sociedade?
-Creio que sim, foi a melhor decisão. Não foi pacífica, mas foi uma medida tomada em defesa dos jogadores, pois poderíamos correr riscos. Há muitos casos em França, muitas vítimas mortais.
"Nada justifica o que eu fiz, a minha atitude, mas depois tive a humildade de pedir desculpa pessoalmente ao árbitro e fechar aí esse capítulo"
Uma decisão bem diferente da que foi adotada em Portugal...
-Creio que Portugal também tomou uma decisão consciente. As situações são completamente diferentes. Portugal tem tido um comportamento exemplar, tem a situação muito mais controlada do que a França. Embora não seja uma decisão fácil de tomar, parece-me que os dirigentes portugueses pensaram bem no assunto e fizeram aquilo que tinham de fazer: dar continuidade à competição. Não há dois casos iguais. Cada país tem de olhar para a sua situação. Portugal não está como a França.
Como tem sido a experiência no Mónaco?
-Tenho vivido fases boas e menos boas, como aquela que abordámos. Quando cheguei, no meu primeiro ano, não estávamos numa situação muito boa, mas consegui ajudar a equipa a fugir à despromoção. Este ano, aos poucos, fomos conseguindo serenar e, face às circunstâncias, acabámos por fazer uma temporada tranquila. Penso que a próxima época será melhor.
O que faltou à sua equipa para estar nos lugares de acesso à Europa. A saída de Leonardo Jardim teve influência?
-Precisamos de ser mais fortes em todos os aspetos. Houve períodos em que não estivemos tão bem. É complicado encontrar uma razão para não termos dado um salto maior, mas, claro, somos os principais responsáveis por isso. E, claro, mudar de treinador também obriga a assimilar novos processos e nem sempre essa alteração é rápida.
Não é estranho iniciar uma temporada, olhar para o lado e saber que à partida a questão do título está praticamente resolvida?
-Não há impossíveis. Se o clube fizer um bom investimento, como no ano em que o Mónaco foi campeão, é possível chegarmos ao título. Não é impossível derrotar o PSG e nós esta época jogámos taco a taco contra eles.
Espera ainda dar um salto qualitativo na sua carreira?
-Estou feliz no Mónaco e é lá que tenho a minha cabeça, vivo o presente. O plano é dar o melhor agora.
Leonardo Jardim foi decisivo na sua transferência para o clube?
-Sem dúvida. Ele e o meu empresário, a quem agradeço por ter estado ao meu lado em todos os momentos. Tínhamos várias propostas em cima da mesa, o Leonardo Jardim ligou-me e decidimos que seria a melhor opção para o meu futuro.
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Ao contrário do que se passava em Portugal ou até mesmo em Espanha, no Mónaco não tem fãs atrás de si na rua. Certo?
-Sim. É tranquilo andar pelas ruas. O futebol não é o desporto de eleição deles e, naturalmente, os jogadores de futebol estão mais à vontade quando saem. Não se passa nada, é tranquilo. Raramente, algum miúdo vem ter connosco a pedir autógrafos ou para tirar uma fotografia. Vamos jantar fora e ninguém anda atrás de nós. Faz mesmo parte da cultura deles. As pessoas não ligam.
Já se cruzou, entretanto, com o príncipe Alberto?
-Já esteve no nosso balneário. Foi cumprimentar-nos depois de um jogo. Deu-nos os parabéns pela vitória.