"Garantiram-me que ia ganhar um enorme salário no Catar, mas não vi nada disso"
Relatos de migrantes que trabalham na construção dos estádios do Mundial'2022 foram divulgados pelo The Guardian.
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Uma reportagem do The Guardian sobre os estádios que serão utilizados no campeonato do Mundo de 2022, organizado pelo Catar, fez estalar a polémica em redor das condições de trabalho dos migrantes que operam na construção dos mesmos.
O jornal britânico falou com diversos trabalhadores que deixaram os respetivos países à procura de melhores condições monetárias, sob promessas que não foram cumpridas.
"Um agente disse-me que o Catar é o país mais rico do Mundo. 'Vai ao Google e vê', disse. Garantiu-me que ganharia um 'enorme salário'. Mas quando chegámos aqui não vimos nada disso", contou um trabalhador proveniente do Gana. São oito horas de trabalho por dia, durante seis dias da semana e uma remuneração de 157 euros por mês.
Outro trabalhador esperava receber um salário "justo", a rondar os 700 euros, e reflete sobre a distância a que se encontra da família e da ajuda que não pode fornecer:
"É difícil estar longe de casa durante tanto tempo. Queremos enviar dinheiro para a família, mas não temos. Devíamos ganhar muito, mas ganhamos pouquíssimo", afirma.
Um guia consultado pelo The Guardian contou uma versão dos factos que não foi de encontro às queixas dos migrantes: a percentagem de acidentes nas obras diminuiu e os operários até já teriam sido treinados para trabalhar em locais de elevada altitude. A comida que é fornecida tem bons níveis nutricionais e há um centro médico, um ginásio, um campo de futebol e até uma sala com computadores munidos de internet. Um indivíduo de 26 anos contraria a versão do guia: "Não comemos arroz, vegetais ou frango. Só chapati [espécie de pão]", remata.
Em setembro deste ano, os migrantes receberam autorização para deixar o Catar sem a autorização do empregador, depois de muita pressão exercida por organizações internacionais, mas a verdade é que muitos trabalhadores ainda estão à mercê de salários muito baixos e de condições de trabalho desfavoráveis.