França tem dificuldades no ataque, mas Portugal pode ser a oportunidade perfeita
Ofensivamente deficiente e defensivamente impecável, a seleção da França espera ter um pouco mais de sorte contra Portugal, nos quartos de final do Euro'2024
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A França tem passado por grandes dificuldades neste Euro'2024. Didier Deschamps já alcançou três finais como treinador pela França, mas talvez este seja o momento mais complicado de sua carreira quanto ao encaixe do plantel.
O primeiro problema é a visível incapacidade da equipa de marcar golos. Ao desconsiderar os golos de penálti e os autogolos, a França não marcou um golo neste campeonato europeu.
E não é como se os gauleses estivessem a dar muito azar; são apenas a oitava equipa com mais golos esperados (excluindo penáltis) por jogo na competição, com 1,5. A medida de comparação, a Espanha tem 2,2 golos esperados e 2 marcados por jogo.
Mesmo com 6 golos esperados totais, a França não está muito diferente quanto à qualidade de seus remates se este Euro for comparado com os últimos torneios internacionais em que Didier Deschamps treinou.
Nos Mundiais de 2018 e 2022, a França marcou muito mais golos acima do esperado, mas não é só isso. Em 2018, se forem desconsiderados os penáltis e autogolos, a França fez sete jogos muito fracos. Foram 5,6 golos esperados em sete jogos, menos do que a seleção fez neste Euro e com três jogos a mais.
Além de estar a fazer um torneio, ofensivamente, melhor do que fez em 2018 em termos de expectativa, só não é mais paciente no ataque do que a seleção que atuou no último mundial. Com o mapa de calor de remates mais centralizado e com a segunda menor distância média de remates, esta seleção francesa espera muito mais pelas oportunidades perfeitas para preparar um remate.
Além de ter um mapa de remates mais balanceado, também apresenta ser balanceada para atacar a grande área adversária.
Fica claro que a seleção francesa tem muito mais facilidade de entrar na grande área pela esquerda, principalmente pelo meio-espaço. Contudo, consegue penetrar de forma eficiente na área adversária por todos os lados, exceto pelas áreas mais distantes, inclusive com passes.
E é aí que reside um outro grande problema da seleção francesa neste Euro até então. Em 2018 e 2021, os gauleses tiveram Pogba, que jogou como um dos melhores médios do mundo e não como o Pogba do Manchester United. Em 2022, teve Griezmann que atuou muito mais recuado e que teve um envolvimento muito mais expressivo na construção das jogadas. Neste Europeu, a França tem um trio de médios que são, acima de tudo, conservadores.
Tchouaméni, Kanté e Rabiot têm aspetos defensivos fantásticos, mas lhes falta uma criatividade que afeta, visivelmente, a seleção francesa. Nenhum deles é capaz de dar um passe que quebre as linhas defensivas com frequência. Além disso, com Griezmann a jogar mais avançado, seja como um extremo pela direita, seja como um falso 9, a França tem sofrido com o lado criativo.
Assim, a França progride a bola, principalmente, pelos lados. Hernández e Koundé têm feito um bom Euro até o momento, mas o foco da França nos flancos, principalmente pela esquerda, ficou previsível e nota-se que as seleções têm reforçado a defesa naquela área. A Bélgica, por exemplo, jogou Carrasco, um extremo mais defensivo do que Bakayoko e Trossard, e Castagne pela direita justamente para segurar qualquer ofensiva que os gauleses tentassem. A aposta do treinador da Bélgica, funcionou.
A verdade é que a França está a jogar abaixo do esperado, mas continua a fazer o que faz de melhor. Tem a melhor defesa do campeonato junto à Espanha, e a menor quantidade de golos esperados contra. Afinal, seis golos esperados e nenhum marcado é uma combinação anômala, principalmente em comparação com as últimas competições. Deschamps venceu um Mundial com solidez defensiva e um ataque eficiente, neste Euro, só falta um pouco de sorte.
E curiosamente, a melhor defesa do campeonato joga contra o segundo ataque que mais desaponta no campeonato. Portugal é a equipa com o segundo maior déficit por jogo de golos/golos esperados (excluindo penáltis).
Assim, é bem provável que o jogo entre França e Portugal seja o equivalente futebolístico de um impasse no xadrez. Se nos tabuleiros há uma dança repetitiva entre as peças, na relva deve haver uma dança repetitiva entre os médios e centrais, que vão passar a bola para lá e para cá, a esperar que algo aconteça.
Contudo, diferente dos treinadores, os adeptos esperam que este jogo tenha um tempo mais parecido com um jogo de damas. Qualidade às equipas não falta.