O italiano vai suceder a Martín Anselmi no comando técnico do FC Porto com um contrato de duas temporadas, conforme O JOGO escreveu na edição de segunda-feira
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Francesco Farioli vai suceder a Martín Anselmi no comando técnico do FC Porto com um contrato de duas temporadas, conforme O JOGO escreveu na edição de segunda-feira. O acordo está praticamente fechado e será oficializado esta semana.
Antes disso, o jovem treinador de 36 anos, ex-Ajax, aproveitou para se apresentar numa entrevista divulgada pela "Cronache di Spogliatoio", explicando vários aspetos desde a sua forma de liderar até à gestão da intensidade em contexto de treino.
“Em todas as equipas em que estive, tive sempre uma excelente relação com os jogadores mais experientes, com aqueles que têm um passado importante. Acredito firmemente nisso em termos de relações e na união, especialmente com certos perfis. É essencial construir uma relação direta e autêntica. Primeiro vêm as pessoas, depois os papéis. Esta abordagem sempre me acompanhou, até este ano. Um treinador deve demonstrar todos os dias que aquilo que tem na cabeça pode funcionar, beneficiando tanto a equipa como os indivíduos”, começou por defender, acrescentando: “Os jogadores precisam de ouvir diferentes vozes. Não nos podemos tornar num ruído constante nos ouvidos deles, devemos ser aqueles que, quando falam, transmitem uma mensagem clara, credível e incisiva. As palavras do treinador não devem ser apenas sons, mas ‘pegadas’ reais que deixam marca”.
“[No trabalho de campo diário] Da forma que sou e da forma que o meu grupo [técnico] trabalha, tentamos ser muito intensos. Queremos criar um ambiente que é tão ‘stressante’ quanto possível de recriar o máximo possível o real contexto de um jogo. Ao mesmo tempo, sabemos como modular. Há momentos em que tens de aumentar o volume e outros em que é melhor baixá-lo. Nalguns dias tens de puxar ao limite, noutros tens de deixar as coisas fluir ao ritmo do momento. Quando jogas de três em três dias, tudo muda. É um desporto diferente a 100%, um passo importante e, para mim, foi uma experiência extraordinária. Desenvolvemos estratégias específicas [no Ajax] para lidar com este contexto e, honestamente, tivemos excelentes resultados. Um facto interessante: este ano, nos jogos que se seguiram à Liga Europa, vencemos 12 em 15. Isso mostra o quão crucial é a gestão e a otimização de recursos. Também porque, na realidade, estes três dias não são realmente três dias. No meio de viagens, recuperação, compromissos com a imprensa e conferências de imprensa, tornam-se muito menos”, prosseguiu.
Sobre o seu sistema tático ideal, Farioli assumiu que não é um técnico de ideias fixas, sendo flexível de forma a tentar adaptar as suas equipas a qualquer cenário com que se deparem.
“Já não chega teres um staff genérico ou uma estrutura que apenas resulte quando tudo corre bem. Precisas de um sistema pronto para lidar o pior cenário possível a partir de um ponto de vista tático, físico, emocional e técnico. Em qualquer situação, tens de ter as ferramentas e recursos certos, do cenário mais previsível ao mais inesperado. É precisamente isso que me mantém muitas vezes acordado à noite: o pensamento do que pode acontecer e a responsabilidade de ter de estar pronto para tudo. É essa a minha forma de trabalhar, a minha abordagem: preparar-me mentalmente e operacionalmente para o cenário mais complexo. A este nível, todos os detalhes contam e, quando jogas tanto, a diferença entre vencer ou perder pode estar na figura do nutricionista ou daqueles que recuperam os jogadores, ou daqueles que tratam da otimização física e psicológica. São microdetalhes, mas que fazem precisamente a diferença. Neste contexto, o meu papel é puxar por cada aspeto que melhore a performance, mas para fazer isso precisas de estrutura e companhias prontas para te apoiar e que partilhem desta atenção obsessiva por nuances. É aí que se vê a diferença entre aqueles que trabalham a níveis altos e aqueles que não. É preciso dedicação, sim, mas também uma boa obsessão por melhorar”, sublinhou.
“Não sou um treinador italiano defensivo, mas alguém que é capaz de libertar jogadores e liderá-los para que criem várias oportunidades no último terço. É isto em que acredito e que tento fazer todos os dias no campo”, descreveu-se.
De resto, sobre o futuro, Farioli atirou: “O que espero é manter-me curioso como tenho sido até agora. Quero encontrar um contexto disposto a trabalhar com os mesmos princípios e a mesma intensidade que em sempre tentei aplicar. Este é um critério que considero fundamental quando avalio novas oportunidades. Em anos recentes, acumulei muitas experiências de vida e trabalho, por isso, neste momento não tenho pressa. Quero escolher cuidadosamente o meu próximo passo, independentemente do prestígio do clube ou do campeonato. Para mim, é importante trabalhar em ambientes em que possas agir de acordo com uma certa forma de fazer as coisas que seja clara e partilhada. Os confrontos são normais em todas as relações, mas devem ser geridos e orientados para o resultado final. São precisamente esses pequenos detalhes que decidem muitas vezes o sucesso de uma época ou, pelo contrário, levam a situações menos positivas”.