"Falar com jogadores não é saudável para o jogador, para o clube e para a Seleção"
Em entrevista a O JOGO, Roberto Martínez, selecionador nacional, avisa que ter talento não é o suficiente para ganhar o Campeonato da Europa
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Colocou a Bélgica no topo do ranking de seleções, mas não ganhou nenhum troféu. Em que patamar coloca a Portugal?
-Dar tudo, o mínimo é dar tudo. O mínimo não é a posição ou a estatística, o mínimo é o que nós, como equipa, podemos dar. Dar tudo pela camisola e ter um sonho, que é ganhar. É muito fácil para mim dizer que Portugal não tem a exigência de ganhar um torneio. Eu acho que o nosso apuramento imaculado fez com que os adversários nos respeitassem mais, mas nós temos de ser humildes para conseguirmos mais. Temos de ter a exigência interna de dar tudo por esta camisola.
Mas é suficiente dizer-se que “vamos dar tudo” quando Portugal tem jogadores de um calibre elevadíssimo, dos melhores do Mundo?
-Ganhar é a mensagem geral, nós precisamos de saber como ganhar. O Cristiano ganhou o Europeu, o Pepe ganhou o Europeu, não há muitos jogadores que ganharam a nível internacional. É importante para nós no balneário sabermos que o talento não é o suficiente para ganhar um torneio. Não dá. No futebol moderno, o talento é o início, depois há muitos passos para tentar chegar à vitória. Precisamos de ter responsabilidade para dar tudo, o que ajuda a ganhar. Ganhar é uma consequência. Reação à adversidade, resiliência da equipa são valores que precisam de ser renovados. Precisamos de preparar os jogadores para enfrentarem os momentos, não para ganhar. Ganhar é uma questão geral.
Quando chegou visitou muitos jogadores. Mantém um contacto frequente com eles?
-O contacto não é falar. O contacto é diário e é para a minha equipa técnica e eu seguirmos os jogadores. Temos estatísticas, muita informação dos clubes, mas não gosto de falar com os jogadores, porque não queremos romper o foco e a responsabilidade que precisam de ter com os seus clubes. Ver um jogador em situações diferentes, é muito importante para mim. Vê-los jogar em posições diferentes, quando não jogam, terem boas ou más emoções. Há muitos comportamentos que são importantes para valorizar e avaliar constantemente. Acho que falar com os jogadores não é saudável para o jogador, para o clube e para a Seleção.