Ex-Aves a viver um sonho no St. Pauli: "Ninguém esperava tanto sucesso..."
Dzwigala, central ex-Aves é peça chave nos alemães com técnico de 30 anos e uma fuga da descida para a discussão da promoção com o eterno rival da cidade, o Hamburgo. Polaco falou em exclusivo com o JOGO, após ter sido decisivo em goleada ao líder da Bundesliga 2, o Darmstadt
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É um grande St. Pauli que tem vindo a entrar na discussão da subida na 2ª Divisão alemã, aparecendo, nesta altura, a três jornadas do fim, com pretensões de complicar o acesso ao play-off do eterno rival Hamburgo, tratando-se de terceiro e quarto classificados na tabela, separados por quatro pontos. A posição atual do clube do mítico Millerntor é todo um milagre e uma proeza inaudita na história da competição, porque nenhum clube desde que existe este modelo, de 1981, havia conseguido acumular dez vitórias consecutivas.
O emblema de Hamburgo protagonizou recuperação sensacional desde a pausa de inverno que também coincidiu com o Mundial, reaparecendo com novo treinador, o mais jovem entre as principais ligas europeias - Fabien Hurzeler, agora com 30 anos, tomou o leme com 29 - para agarrar um formidável registo de 10 vitórias em série, interrompidas por duas derrotas, uma delas no dérbi de Hamburgo (4-3) mas já sanadas com mais duas vitórias que mantêm os fãs de St: Pauli colados à evolução do campeonato.
O St. Pauli, bandeira de tantas causas, reclamando oportunidades para os menos abastados, liberdade para os espetros mais marginalizados, e respeito pelas diferenças com grande enfoque na comunidade LGBT, dominado por todo um circuito de ideais e heróis de esquerda, funcionando como elo de convergências de tantas tribos e com um grito punk para a sua comunidade, junta agora um vibrante entusiasmo nas bancadas por mais um desejo de subida ao escalão maior germânico, onde conta com 8 presenças. O piratas da Liga, assim são conhecidos, pelo seu fervor mais politizado, vivem fase muito atrevida e uma vontade inabalável de treparem mais na classificação, ímpeto acentuado pela goleada última no campo do líder e pelas condições matemáticas de subida e por verem à sua frente o Hamburgo, havendo já uma diferença difícil de esbater para o Darmstadt e o Heidenheim.
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Figura do triunfo robusto na casa do Darmstadt (0-3), tendo aberto o ativo, o defesa polaco Adam Dzwigala é rosto das esperanças renascidas e de uma fase muito próspera do emblema muito associado ao distrito vermelho de Hamburgo, onde é atração uma avenida pecaminosa. Curiosamente, Dzwigala chegou ao St. Pauli no início de 20/21, procurava relançar a carreira e cicatrizar as feridas de uma passagem problemática pelo Aves, tendo rescindido em fevereiro por salários em atraso na época maldita do clube de Santo Tirso, que fecharia portas no final da época. O polaco estreou-se a marcar esta época e falou da grande experiência que está a ser vivida por todo o plantel do St. Pauli, olhando particularmente à transformação com a entrada de Hurzeler, jogador da formação do Bayern Munique que passou logo para funções de técnico na academia dos bávaros e que era adjunto de Timo Schulz no St. Pauli.
"É realmente certo que estávamos numa situação muito difícil, um lugar acima da linha de água. Na pausa deu-se uma mudança no comando e fomos reorientados enquanto equipa. Durante a paragem de inverno houve um trabalho fortíssimo para podermos descolar dos últimos lugares, o treinador deu-nos um grande impulso e estávamos confiantes que íamos melhorar. Mas ninguém esperava tanto sucesso, nem que se conseguisse uma sequência inacreditável de dez triunfos. E mesmo tendo já sido derrotados, a equipa continua numa tendência de crescimento como se viu pelas últimas vitórias", explica Dzwigala. "É tudo consequência do nosso trabalho consistente e duro nos treinos. Temos fome de vitórias, objetivos traçados a curto prazo, sempre em cima do próximo jogo. Vamos tentar expandir a nossa grande série nestes jogos finais e ver onde conseguimos terminar", aclara o central, recusando qualquer pressão na subida.
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"Não há absolutamente nenhuma pressão dentro do clube para se regressar à Bundesliga. Não se fala disso. Não nos esquecemos de onde viemos e na situação difícil que nos encontrávamos há alguns meses. É sempre bom e importante manter a humildade e continuar empenhados no melhor desempenho possível. Com esta atitude provámos que podemos vencer qualquer equipa. Não nos desviaremos deste caminho. Vamos olhando para nós mesmos e tenho certeza que ainda vamos somar muitos pontos se colocarmos todo o nosso potencial em campo", elucida o polaco, analisando a tensão e o pico de emoção associado ao dérbi de Hamburgo, recentemente disputado.
"O dérbi é fabuloso, muito especial, principalmente para os nossos adeptos. Mas, no final, o que importa são os mesmos 3 pontos de outro jogo qualquer. Fomos mais fortes que eles em muitos dérbis recentes mas, infelizmente, fomos derrotados na última partida num grande espetáculo. Mas estamos próximos do nosso rival, tudo faremos para vencer os jogos que faltam e os superarmos. Estamos muito motivados", acrescenta Dzwigala.
"Valores do clube unem mais a equipa"
O defesa-central polaco não passa ao lado do que é defender as cores do St. Pauli e de testemunhar de todas as lutas e comungar da orientação inclusiva do clube.
"Desde o primeiro dia em Hamburgo senti-me excecionalmente bem no St. Pauli. Há um grande espírito de equipa e todos os jogadores e staff se identificam com os valores do clube. Isso une-nos ainda mais, temos adeptos que são de diferentes classes sociais e criam uma atmosfera incrível em nosso apoio. Temos orgulho de ter connosco gente de todas as esferas da vida para quem o St. Pauli representa tolerância e aceitação social. São valores dos quais partilho e estou muito feliz por estar nesta família", reconhece o defesa polaco.
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"Além dos valores, o St. Pauli é administrado de forma muito profissional, tudo está organizado da melhor forma, nada nos falta e o clube está em constante desenvolvimento. Aproveito cada dia para fazer a minha parte. A destacar algo têm de ser os adeptos, são maravilhosos. A atmosfera no estádio é superior a tudo. Saíamos de um jogo e queremos voltar a sentir aquilo rapidamente", sublinha o polaco, esperançado em convencer Fernando Santos sobre uma primeira chamada à seleção e sem desejo de falar do Aves, onde fez 17 jogos mas viveu tormentos com os salários e viu a equipa exposta à perda de dignidade, que foram sucessivas rescisões.
"Estou só concentrado no St. Pauli, confortável com a minha família e preocupado em atingir os objetivos do clube. Nunca poderei dizer que não regresso a Portugal, um país muito bonito e hospitaleiro. Adorei o clima e a comida", ressalva.