Euforia pelo Celta e mexilhões para o Getafe: "Se perdem, recebem seis sacos"
Peña Celtista "Carcamãns", da ilha de Arousa, mobiliza apoio e brinca com oferta ao rival que separa o Celta de um acesso à UEFA. Conversa com o presidente Belermo Dias, que organiza por vezes barcos que atravessam as Rias Baixas para jogos do Celta
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O futebol do Celta vive um grande momento, Vigo procurava celebrar o acesso à Europa na receção ao Rayo Vallecano, mas as contas saíram furadas no campo, embora a celebração do celtismo tenha evidenciado uma comunhão avassaladora e inspiradora com milhares a fazerem uma festa brutal em redor dos Balaídos. Agora segue-se deslocação a Madrid com a equipa a depender de si própria para materializar presença nas provas da UEFA em 2025/26, querendo defender o 7.º lugar para jogar a Liga Europa ou, quando muito, não ficar abaixo do 8.º para marcar presença na Liga Conferência.
A última presença europeia dos galegos na UEFA acabou nas meias-finais contra o Manchester United, de Mourinho. Vai estar sob forte pressão do Rayo e do Osasuna. A grande onda de apoio ao Celta está espalhada por Vigo, pelas Rias Baixas e por outras zonas da Galiza. Belermo Dias presidente à Peña Carcamãns, a mais reconhecida afeta ao clube e radicada na ilha de Arousa, falou com o JOGO, sobre aquilo que o Celta persegue e procura concretizar. "Estamos a viver um momento espetacular, queremos esse prémio de ir à UEFA. Seria uma maravilha lograr isso com esta 'cantera', é luxo estar nesta luta com tantos rapazes da casa", registou este apaixonado adepto, mobilizador de grandes aventuras pelo futebol, até porque dirige uma 'peña' de 1400 seguidores, 900 deles sócios do Celta, numa terra com 4800 habitantes. E mais de uma centena deles vão ao Madrid para verem o embate com o Getafe. "A paixão pelo Celta aqui vem dos nossos antepassados, dos nossos avós, pescadores que iam pelo marisco na ria de Vigo. Isto nos anos 30 e 40, houve essa ligação, quando não tínhamos meios para conhecer as realidades. Eles iam de bar em bar e entendiam o que era o Celta, o tema da paixão que existia em Vigo por uma equipa que representava com as suas cores a Galiza inteira", contextualiza Belermo Dias, 48 anos, devoto pescador de mexilhões, que organiza todos os anos um catamaran de Arousa para Vigo, com paragem no porto viguês, levando centenas de adeptos a um jogo do Celta por temporada. "Quando vamos nesse passeio é uma maravilha, cruzam-se as três Rias Baixas, de Arousa, Pontevedra e Vigo, comendo mexilhões e empanadas. É uma delícia quando acontece, todos desfrutam do ambiente, de boa música e a cerveja não falta. Tem é de ser conjugado com horários da jornada, com o tempo que faz, tem que estar bom para podermos cruzar meia Galiza de barco", documenta Belermo.
Nem de propósito a proposta dos mexilhões nesse menu, também já apresentadas, por brincadeira, ao Getafe, por extensão do papel das redes sociais. A oferta de mexilhões aos rivais é uma prática jocosa dos 'Carcamãns' sempre que há jogos transcendentes para o Celta. A promessa até é cumprida a quem ajuda a equipa viguesa, como aconteceu com os jogadores do Athletic no tempo do Bielsa, que receberam sacos do delicioso molusco na saída da academia. "Os do Getafe, se perdem, recebem seis sacos", promete, a brincar.
Celta deve olhar Portugal e até devia competir lá
O Celta ficou com a vida mais difícil face à derrota com o Rayo, mas a confiança de sucesso do treinador Cláudio Giráldez é acompanhada por Belermo Dias. "São coisas que acontecem quando a bola não quer entrar. Eles marcaram duas vezes e foram mais felizes. Mas não se trata de qualquer desilusão, a nossa temporada está feita, o Celta tem jogado com 14 'canteranos', entre o onze e quem sai do banco. A equipa saiu derrotada, mas não há problema. Vamos em frente, até porque ainda temos outra oportunidade", avisa o carismático adepto, também ligado à história, a esse Euro Celta que encantou nos noventas. "Era uma grande equipa a que tínhamos, com Mostovoi, Mazinho, Karpin, Gustavo López, Makelele, Revivo. Foram épocas muito boas e só foi uma lástima não vencer um título. Tínhamos equipa de sobra para o fazer, sobretudo, naquela final de Taça com o Saragoça. O Celta trouxe jogadores incríveis, alguns que poucos conheciam, jogavam espetacularmente e tivemos grandes vitórias contra ingleses, contra a Juventus e, claro, esse histórico 7-0 ao Benfica", rebobina Belermo Dias, apreciador igualmente da ideia do Celta se aproximar a Portugal ou até pertencer à nossa Liga.
"Acho que o Celta faz bem em olhar para Portugal, pensar em ter adeptos aí. E também digo, já que o Barcelona e o Real Madrid se estão a esforçar por jogar uma Superliga Europeia com mais sete ou oito equipas potentes, e não digo por ironia, eu seria partidário, se estes forem embora, que o Celta seguisse para a Liga Portuguesa, porque somos irmãos. Na Europa, não sendo o Celta a ganhar, ou não estando lá, espero sempre que seja um clube português a ganhar a Champions ou Liga Europa", expressa.