"Estou curioso por ver como evolui o Diogo Costa com um treinador diferente"
Ricardo Pereira, treinador de guarda-redes português, muito credenciado pelo mundo, estreou-se em Espanha e viu trabalho coroado com subida do Valladolid à La Liga. Elogios à simpatia e gestão de Ronaldo Fenómeno
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É uma história escrita com sucesso, desafiando-se sempre com algum risco à mistura, carregando os apelos mais genuínos de marcar uma identidade no seu trabalho específico. A treinar guarda-redes, percorrendo vários cantos do mundo, entre Arábia Saudita, Polónia, Bélgica, Inglaterra, Ricardo Pereira, de 50 anos, aproveitou bem a passagem pelo Valladolid, após deixar o Independiente del Valle, do Equador, tendo visto os pucelanos, crónicos no sobe e desce do elevador, garantirem a subida e mais um regresso ao convívio dos grandes em Espanha, o quinto desde 2006/07. Desta feita, muito sustentado, por uma sequência de dez jogos sem derrotas, entre eles um extraordinário pecúlio de sete sem golos intrusos nas suas redes.
“Estou muito agradado pela porta que escolhi para regressar à Europa, depois de ter sido tão feliz no Equador durante três anos e muitos títulos ganhos. Disputámos um dos campeonatos mais competitivos da Europa e conseguimos o objetivo a que nos propusemos desde o primeiro dia. Foi muito duro! Excelentes equipas, executantes de muita qualidade e um nível tático deveras exigente”, disse, analisando a competitiva 2ª Divisão Espanhola, uma maratona de jogos e na qual o Valladolid até entrou com o pé esquerdo em 2023/24. Mas foi a tempo de corrigir cada percalço e assegurar ascensão direta com o Leganés.
“Fomos crescendo com a competição e com as aprendizagens de cada derrota! Existiu muita pressão, mas a palavra que mais retiro desta época é resiliência ou, dito à maneira da minha equipa técnica uruguaia... Vamos Arriba!!!”, reportou Ricardo Pereira, reconhecido ao técnico Paolo Pezzolano, não esquecendo as marcas do passado. “Fazer evoluir um grupo de jogadores, que carregava as feridas da descida do ano anterior, até serem uma equipa que enfrentava qualquer rival, olhos nos olhos, e ávida de ganhar, deixou-nos muito orgulhosos”, sustentou, sublinhando também a proximidade de Ronaldo Fenómeno, enquanto força investidora do clube e símbolo contagiante. “Senti desde a primeira hora tratar-se de um projeto que quer crescer, que existe muita ambição e a convicção que os projetos só se materializam com pessoas competentes em cada uma das suas áreas de intervenção, seja desportiva, médica ou de gestão”, enalteceu.
“Foi feito um investimento para que chegassem os melhores a cada departamento, fosse o scouting, a analise de vídeo, o treino de guarda-redes ou a saúde e performance. A presença do Ronaldo faz-se sentir de uma forma constante, pelo que representa para os jogadores e equipa técnica enquanto ícone do futebol mundial, seja pela simpatia, mas também pela sua gestão do clube tentando que nunca nos falte nada”, relatou Ricardo Pereira, resumindo tudo como “uma alegria merecida para todos”.
Sobre a excelência da emoção e do espetáculo no segundo escalão espanhol, o treinador de guarda-redes é taxativo.
“Leva-te aos limites porque o nível de competitividade é de facto tremendo. Condições salariais muito boas, estádios cheios, nível organizativo top e um nível tático que te obriga enquanto treinador a estar muito lúcido para saber escolher o que treinar, quando e a melhor estratégia para cada jogo”, invocou Ricardo Pereira, realizado, por esta altura, em Espanha.
“Estou muito feliz com a escolha que fiz! Penso ser o único treinador de guarda-redes português a trabalhar em Espanha nas primeiras divisões e senti o meu trabalho muito respeitado”, defendeu, dissecando contornos da sua partilha e interação no grupo. “Tive a liberdade total para treinar, para sugerir os atletas a contratar e definir a metodologia de trabalho. A equipa técnica foi de um profissionalismo e cordialidade tremendos. O departamento de performance, por exemplo, elaborou um dos melhores programas de ginásio que tive nos últimos anos específico para os guarda-redes”, afirmou Ricardo Pereira, gabando outros aspetos interno. “A coordenação com o departamento de analise para obter a informação necessária para preparar cada jogo foi fantástica. Fui muito ajudado e cresci muito como treinador de guarda-redes em Espanha”, observou, já também espreitando a nova época desportiva, ainda mais desafiante, entre tubarões, orçamentos esmagadores e estrelas incontáveis. Nada que roube alento e inspiração de abater previsões apressadas.
“Nos bastidores, diz-se que quem sobe é quase sempre um dos principais candidatos a descer, mais que não seja por razoes orçamentais. Esperamos poder contrariar esta tendência através da qualidade do nosso trabalho e do empenho e talento dos jogadores. Para mim é um sonho estar numa das melhores Ligas do mundo e desafiar-me diariamente a fazer evoluir os meus guarda-redes para que eles possam enfrentar os melhores jogadores do mundo”, reconheceu Ricardo Pereira, obrigado a compromisso máximo para desfazer desconfianças e preconceitos.
“O facto de não ter atingido patamares profissionais enquanto guarda-redes, obriga-me a trabalhar o triplo para me conseguir manter neste nível competitivo. As minhas aspirações são simples: convencer e treinar os meus guarda-redes quanto a objetivos”, notou, afastando premissas individuais. “Isto é sobre o contributo ínfimo que cada um de nós pode dar para o sucesso de um clube e a felicidade e orgulho da cidade de Valladolid.”
"Foi como chegar ao paraíso!"
O experiente técnico de guarda-redes mergulha nas especificidades do patamar em que trabalhou, bem como toda a árvore que retrata a essência do futebol espanhol.
“Aqui o jogo de posição é rei e muitos jogos se definem pela forma como ultrapassas a pressão do adversário, ou ainda pelo sucesso que tens nas bolas paradas. Preparar o guarda-redes para saber posicionar-se da melhor forma e ajudar a equipa a eliminar as linhas de pressão do adversário é um requisito importante e implica muito trabalho de análise”, partilhou. “Temos que mostrar competência tática, uma vez que os guarda-redes são muito evoluídos no seu conhecimento sobre o jogo, isso faz com que cada exercício deva reproduzir um pedaço do jogo e uma intencionalidade tática do adversário”, escalpelizou sobre uma época em que teve André Ferreira às ordens, mas em que Jordi Masip foi o dono da baliza. “Foi como chegar ao paraíso porque para mim treinar é reproduzir uma forma de jogar, uma estratégia e convencer os guarda-redes que são capazes de levar a ideia coletiva para dentro do campo ao fim de semana. A palavra evolução não é um resultado, mas sim um processo diário de treino e de feedback no campo e na sala de vídeo.”
As competências de treino casaram também com brilhantes sequências de resultados e uma baliza protegida, sem mácula, em muitos jogos. Sete ocorreram, na parte final, sem qualquer golo sofrido. “Foi um trabalho notável, começava na forma como pressionávamos na frente e depois como defendíamos juntos e com pouco espaço entrelinhas. Igualmente na forma como os guarda-redes defendiam os espaços nas costas da linha defensiva. Eles evitaram primeiro as oportunidades e só depois os golos”, elucidou Ricardo Pereira, sentenciando outra ideia. “Dou pouco valor a estes recordes ou dados, valorizo muito mais a dedicação destes rapazes para valorizarem uma ideia coletiva, a abertura para treinar de forma muito próxima daquilo que exige o jogo”, salientou, elogiando os guarda-redes como os “guarda-costas de uma muralha consistente que trabalhava à sua frente com qualidade e rigor.”
O desafio de Diogo Costa e o impacto de Kovacevic
Num breve olhar ao Europeu, Ricardo Pereira também já adianta o seu foco na competição, entre curiosidades que carrega. “Serei um espetador atento dos mais experientes como Oblak, Neuer e Sommer, porque se souberam adaptar às exigências e evolução do jogo. Depois tenho muita curiosidade em ver o Diogo com um nível de maturidade superior em relação ao passado, o Unai Simon, o Mamardashvili e o Lunin, caso seja titular”, precisou o técnico, direcionando atenção suplementar ao dono da baliza nacional, no que ao FC Porto diz respeito. “Estou curioso por ver a forma como evolui o Diogo com um treinador diferente do que teve até aqui e que poderá pedir coisas diferentes”, vincou, conhecedor também do nível do novo homem da baliza leonina. "O Kovacevic terá uma luta bonita pela titularidade com o Franco. Se a ganhar, e desde que 'não queira comer o bolo todo com uma só dentada', cometendo erros por querer mostrar demasiado, poderá trazer coisas bonitas ao futebol do Sporting como um raio de ação alargado no jogo aéreo e controlo da profundidade e muita coragem para quebrar linhas de pressão do adversário com passes verticais. Valentia não é algo que falte ao Vladan!”, avisou, na expetativa do “nível que será apresentado” por Trubin ao ser já conhecedor da Liga.
Por fim, elogios fortes para Ricardo Velho, que brilhou no Farense. “Foi uma bela surpresa do nosso campeonato e isso é especial, quando tal acontece com um jovem formado numa das grandes academias do país como é o Braga. Vi um guarda-redes muito eficaz na linha de baliza, a salvar a equipa muitas vezes, valente no jogo aéreo e 1x1”, sustentou.
“O desafio do Ricardo será o de manter a consistência mostrando que não é uma revelação, mas uma certeza para o futuro do futebol português. Espero que o consiga mostrar para bem também do nosso futebol”, resumiu, distribuindo louvores por todos os guarda-redes primeiro plano em Portugal. “O Rui Silva, tal como o Rui Patrício e o José Sá entre outros, devem encher-nos de orgulho porque têm mostrado que Portugal não produz quantidade, como Itália, Alemanha ou Brasil, mas produz qualidade com capacidade de adaptação, personalidade, capacidade de trabalho e talento para jogarem nas melhores Ligas Europeias e ganharem o seu espaço”, ilustrou.
“Portugal pode ter no futuro mais, se soubermos formar bem os nossos jovens treinadores de guarda-redes, lhes dermos condições de trabalho, e se escolhermos o timing para lançar os jovens talentos.”