Silvino Morais deixou a FPF em 2023 para apostar numa aventura no Golfo Pérsico para ser o responsável pelo treino dos guarda-redes da seleção olímpica catari. Trabalho reconhecido e renovação já assinada
Corpo do artigo
Responsável pelo treino dos guarda-redes da seleção olímpica do Catar, Silvino Morais viu o trabalho reconhecido e a federação renovou-lhe o contrato. Uma experiência iniciada em 2023 e que está a adorar, depois de quatro anos na seleção portuguesa de sub-19.
De férias em Portugal, Silvino Morais falou a O JOGO e explicou como está a correr a experiência no Catar, país que aconselha aos portugueses para trabalharem, garantindo que as condições são excelentes.
Como está a ser a aventura no Catar?
—Está a ser simplesmente fantástica a nível profissional e pessoal. Quando fui a primeira vez, estava com muito receio devido à cultura, mas hoje posso dizer que é um país fantástico e que está a valer a pena. É muito fácil a adaptação à cultura do país. Claro que há algumas diferenças, mas a vida que eu faço lá é praticamente como em Portugal. Há muita qualidade de vida, é um país bonito, com praias bonitas, tudo muito luxuoso. Fundamentalmente, é um país muito seguro. As pessoas podem deixar um telefone a carregar num centro comercial, podem ir à vida deles e o telefone fica lá na mesma. Tenho uma amiga portuguesa que perdeu dinheiro e duas semanas depois passou lá novamente e deram-lhe. As pessoas podem andar às três ou quatro da manhã na rua que não há perigo, A minha mulher, se quiser sair a qualquer hora do dia ou da noite, e se vierem quatro ou cinco homens, eles desviam-se e põem o olhar no chão. É um país onde não existe crime.
A sua mulher tem de ter algum cuidado com a forma de vestir?
—É importante perceber que em alguns sítios, por uma questão de respeito da cultura, temos de ter algum cuidado, mas na maior parte dos lugares podemos andar como quisermos. Em Portugal podemos andar em tronco nu numa marginal, mas lá não é permitido. Em alguns locais como repartições públicas, hospitais e bancos pode haver algumas restrições e as mulheres não podem ir de calções, saia e ombros à mostra.
E bebidas alcoólicas, são permitidas?
—Há um supermercado privado que só vende álcool e porco, porque não são permitidos no Catar. O álcool é permitido numa grande parte de restaurantes e em quase todos os hotéis.
Vive numa casa ou hotel?
—Vivo no hotel. Temos ginásio, piscina e quatro restaurantes. Vivo a 25 minutos da Federação do Catar, onde vamos todos os dias de manhã. Os fins de semana são à sexta e ao sábado e não vamos à Federação, mas temos sempre jogos para observar. Domingo de manhã vamos ao local de trabalho, vimos embora por volta das 13h00, chego hotel e normalmente vou um bocadinho à praia, dou uma corrida e vou à piscina.
Tem contrato até quando?
—Renovámos este ano. Temos o apuramento para o Taça da Ásia, que será realizada na Arábia Saudita, e em agosto vamos para a Áustria fazer um torneio. Ainda recentemente estivemos na Croácia, onde fizemos um excelente torneio e ganhámos à Suécia, empatámos com a Irlanda e perdemos com a Croácia.
Como é a qualidade do futebol catari?
—É importante perceber que o futebol lá é jogado com muito calor. É um futebol um pouco diferente daquilo a que estamos habituados. Está a crescer em qualidade e tem bons jogadores. É um país muito quente e, nesta altura, atinge temperaturas de 50 graus. A maior dos estádios tem ar condicionado, mas alguns não têm e os jogadores sentem o calor. As maiores dificuldades são as dinâmicas e a intensidade do jogo. Devido ao calor, o jogo não é tão intenso como desejamos. O futebol no Catar está a crescer e a evoluir muito. Daqui a algum tempo as equipas vão conseguir igualar o desempenho das formações europeias.
"Vencimento nunca atrasa"
O Catar recebeu o último Mundial, num país onde o futebol continua a crescer.
O que sobrou do Mundial’2022? Os estádios, por exemplo, passaram a ser elefantes brancos?
—Os estádios continuam a ser utilizados, mas não há muita gente a ir ao futebol. Quando joga a seleção há muita gente nos estádios. O Catar gosta de futebol, mas quase ninguém é do país. Uma grande parte são indianos, paquistaneses, ganeses, srilankeses. Os cataris são 250/300 mil, que gostam muito de futebol. Não há muita cultura de futebol e os estádios não têm tanta moldura humana quanto seria desejável. Há jogos com 500 ou 1500 pessoas em estádios de 40 ou 50 mil.
Os salários estão normalmente em dia?
—São muito cumpridores, o vencimento nunca atrasa. As condições para trabalhar são de topo a nível mundial. Têm 12 campos de treino, o Estádio Internacional Khalifa e outro coberto. Não falta nada nos clubes.