Envolver os grandes na luta: "Assobios a João Mário e Otávio? É uma arma da clubite..."
Rui Águas e Augusto Inácio dizem ser uma guerra sem fim, mas FC Porto, Sporting e Benfica podem ajudar a resolvê-la
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A entrada de Otávio em campo aos 87 minutos, na partida contra a Bósnia, de apuramento para o Euro"2024, voltou a trazer para cima da mesa o problema da cultura desportiva em Portugal e marcou negativamente um encontro que terminou com um triunfo robusto (3-0) da Seleção Nacional. Os assobios vindos das bancadas na altura em que o médio do FC Porto substituiu Bernardo Silva, numa réplica do que tinha acontecido com João Mário, meses antes, em Alvalade, frente ao Liechtenstein, mancham a imagem do nosso país no Mundo.
Rui Águas e Augusto Inácio defendem maior intervenção dos atores desportivos e dos clubes, realçando a alta rivalidade e falta de cultura desportiva em Portugal. "O assobio é uma arma da clubite".
A Federação Portuguesa de Futebol, os jogadores da Seleção Nacional e também o FC Porto condenaram de forma veemente a atitude dos adeptos presentes na Luz, mas o problema está longe de ser resolvido. A O JOGO, os antigos jogadores Rui Águas (Benfica e FC Porto) e Augusto Inácio (Sporting e FC Porto) concordam que este tipo de comportamento é "inaceitável" e que demonstra a falta de cultura desportiva no nosso país.
"Se não querem bater palmas, ao menos não assobiem, porque assobiar é tirar força a Portugal e dar ao adversário. Acho que isto tem a ver com a cultura desportiva, os adeptos misturam a rivalidade com os jogos de interesse da Seleção. Os jogadores, ali, não têm a camisola do clube onde jogam, têm a camisola da equipa de todos nós. E, nessa perspetiva, o assobio é uma arma da clubite que têm, porque não estão a apoiar a Seleção", refletiu Augusto Inácio. Também o antigo avançado aponta problemas à forma como se vive o futebol em Portugal. "Tem a ver com o que é o nosso futebol e a educação desportiva das pessoas, com a rivalidade muito marcada dos clubes cá. Em Inglaterra não há rivalidades tão acérrimas como nós vivemos. Muitas das pessoas que vão cá ao futebol querem saber apenas dos seus clubes."
Otávio já vestiu a camisola nacional treze vezes
Questionados sobre uma possível solução para tal problema, os dois antigos atletas defendem que é uma questão complicada de pôr fim, mas apelam a uma maior intervenção dos protagonistas desportivos. Augusto Inácio diz que os dirigentes devem dar a cara.
"Os próprios presidentes ou diretores dos vários clubes, não só do Benfica...não lhes custa nada, quando os jogadores vão para a Seleção, dizerem, publicamente, que o apoio é a Portugal, e que ali não há jogador do clube A, B ou C. O papel dos jogadores é importante, mas não chega. Eles podem sentir-se sozinhos. Antes dos jogos, podia haver logo alertas ao público. Acho que os grandes deviam fazer um comunicado a dizerem que esperam um comportamento adequado de apoio à Seleção e não de clubes", sugeriu Inácio, numa ideia partilhada, no essencial, por Rui Águas.
assobios: m%C3%A9dio entrou aos 87' para o lugar de Bernardo Silva e foi vaiado na Luz
"Acho que as vozes dos jogadores e dos treinadores são importantes. O futebol é um meio de fanatismo e de paixão, quando existe este tipo de sentimentos vai embora a razão. Mas resta aos jogadores e treinadores falarem porque, de resto, quem quiser passar a mensagem, não consegue. Acho que não vai ser por aí que se muda, mas, pelo menos, pode diminuir este tipo de acontecimentos. Isto é como a questão do racismo. Quantas campanhas já se fizeram, e bem, e o que é que resolveu ou evitou? As coisas continuam acontecer, é uma luta que se deve travar, mas que não tem fim", concluiu.
Em março, João Mário também foi assobiado pelos adeptos, em Alvalade, durante um jogo da Seleção. FPF condenou os dois casos, Roberto Martínez falou em "doença"
Quanto ao impacto deste tipo de atos no jogador, o antigo avançado lembra que quando mudou de clube, os assobios afetavam-lhe o rendimento e que "não lidava bem com a situação." Inácio considera que Otávio "já esperava" e que "está habituado a ambientes hostis", mas que é sempre uma situação "escusada" de acontecer a qualquer jogador na Seleção.
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