"Entrevistou 16 treinadores e acabou por me selecionar por gostar do que ouviu..."
ENTREVISTA, PARTE I >> Daniel Ramos está a ter a segunda experiência da carreira no estrangeiro, agora ao serviço do Henan FC, após ter orientado o Aves SAD em 11 jogos, um trabalho que não correu bem
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Após uma passagem pelo Al-Faisaly FC, da Arábia Saudita, Daniel Ramos está agora na China. O desafio é mudar a forma de jogar da equipa.
Treinador teve uma curta experiência no Aves SAD e decidiu voltar a trabalhar fora do país. Considera que os técnicos deveriam ter mais tempo e partilha os desafios que encara na China devido à língua.
O que o levou a aceitar o desafio de orientar o Henan FC?
—Houve dois fatores que me levaram a fazer esta escolha. O primeiro foi o facto de ter decidido que pretendia treinar no estrangeiro. O clube apareceu-me através do Carlos Gonçalves, da ProEleven, que me disse que era uma boa oportunidade, que o futebol chinês é um mercado em crescimento e havia a possibilidade de realizar um bom trabalho, com boas ideias. De conseguir demonstrar novamente capacidade de superação, sucesso, num desafio importante. O segundo aspeto teve que ver com as entrevistas que tive com o diretor-desportivo, que me fez acreditar muito no projeto. Foi muito realista, muito objetivo. As nossas ideias conjugavam muito bem. Disse-me que entrevistou 16 treinadores e acabou por me selecionar por gostar do que ouviu. Entendia que era uma ideia para o clube, que ia muito ao encontro do que ele pretende. A partir daí, ficou tudo mais fácil e decidi encarar o desafio.
O futebol chinês é muito diferente. Como tem corrido a adaptação?
—Ao início e, para já, é difícil, principalmente em alguns campos. O principal é a língua. Temos dois tradutores, um para jogadores brasileiros e outro mais para a equipa técnica. Contratámos um tradutor quando cheguei, que tem sido uma grande ajuda. Acaba por ser um elemento fundamental no dia a dia. A dificuldade da língua é visível, mas a adaptação em si, pela nossa flexibilidade e pela forma como os portugueses encaram tudo com otimismo, torna as coisas mais fáceis. Tem corrido de uma forma agradavelmente positiva, atendendo à expectativa que criámos, de que iria ser uma barreira linguística difícil. Mas por gestos, pelas emoções, acabamos por levar as coisas para onde queremos.
As ideias de jogo do futebol chinês são um desafio?
—Um dos principais desafios acaba por ser mudar, apresentar uma ideia de jogo completamente diferente da que existia. Treinar um clube que tinha uma ideia muito defensiva, um sistema tático de espera, muito na expectativa, uma equipa muito pouco confiante no sistema ofensivo. Nunca tinham posse de bola superior aos adversários, envolvia poucos jogadores no processo ofensivo, mas a nossa ideia de jogo é completamente diferente. É de controlo, de maior iniciativa. Em alguns jogos tivemos mais posse de bola. Tivemos também mais oportunidades do que o adversário e isso é muito significativo. A aposta foi tornar o jogo mais atrativo, mas com um equilíbrio entre o ataque e a defesa, porque aqui os jogos partem-se, principalmente nas segundas partes. Tentar com que o bloco seja mais coeso é outro desafio. Estamos a conseguir que a equipa mude para um futebol mais atrativo e o feedback tem sido bastante positivo.
Que objetivos tem para a temporada?
—Pediram-nos para terminar entre o oitavo e o 12.º lugar, sem sobressaltos. Procuramos fundamentalmente mostrar uma abordagem diferente ao jogo. Sermos uma equipa que jogue olhos nos olhos. Existem seis equipas claramente mais fortes. Essas disputam o título, as outras ficam atrás. É muito difícil entrar no top-6. Mas se discutirmos os jogos com as equipas mais fortes, estamos no bom caminho. Caso se concretize essa boa performance, à frente é pensar na continuidade.