"É uma diferença absurda para Portugal, surreal. Ambientes sensacionais em todos os campos"
ENTREVISTA, PARTE I >> Pedro Malheiro esteve na iminência de sair para o Benfica, alegadamente interessado, uma vez mais, no lateral, mas acabou por dar dois milhões de euros ao Boavista numa mudança para o Trabzonspor.
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Pedro Malheiro tem brilhado no Trabzonspor, da Turquia, fala abertamente sobre o sucesso da aposta e o encantamento de quem virou destaque por três golos num jogo.
Sensações destes primeiros meses longo de casa e da adaptação ao futebol turco e país?
-Na verdade, a adaptação foi, desde o primeiro dia, excecional. Fui recebido muito bem pelo staff do clube, tudo cinco estrelas, isso foi meio caminho andado para as coisas irem logo pelo rumo certo. Depois consegui amarrar logo o meu lugar, tive a oportunidade e correspondi. Estou numa cidade onde me sinto bem, todos me acolheram bem.
Não estando em Istambul, Trabzon também é uma cidade boa para se estar?
-É diferente do que estava habituado mas, digo para mim, tem tudo o que é essencial. Tenho rotinas fáceis, treino e casa, e uma voltinha com um fisioterapeuta que trouxe de Portugal. Foi o meu investimento. Vou às compras e estou numa cidade familiar, espetacular para quem quiser estar em família. Talvez outros preferissem cidades mais movimentadas, que desse para sair à noite nas folgas, mas para ter foco no futebol está excelente. Também já fui a Istambul, é uma cidade bonita, está a hora e pouco de avião. Há ali muitas tentações comerciais, restaurantes mas encaixo-me melhor neste perfil de Trabzon.
Esse investimento pessoal num preparador também não é usual...
-É uma pessoa com quem trabalhei no Boavista, em quem deposito muita confiança. Trouxe-o para não falhar nada na preparação, para estar sempre pronto e retirar o máximo proveito de mim.
“Um lateral fazer três golos num jogo não é para qualquer um. Não me vou esquecer de tão épico momento”
Já com 29 jogos, quatro golos, um “hat-trick”, coisa raríssima num lateral, tudo perfeito?
-Esse jogo com o Antalyaspor foi um momento épico, muito bonito. Não me vou esquecer desse jogo, um lateral fazer três golos não é para qualquer um, é muito raro, foi mesmo espetacular. Não tenho outras palavras para descrever, vai da emoção no estádio aos adeptos enlouquecidos, que vivem muito o clube. O Trabzonspor é um clube grande da Turquia, com adeptos formidáveis e ambientes fantásticos...
Dá para imaginar muitas mensagens especiais...
-Se vês o estádio a gritar o teu golo é uma sensação única. É o primeiro “hat-trick” da carreira, não há como apagar. Recebi várias mensagens, nas redes sociais os golos andavam em todo o lado, os seguidores turcos são completamente fanáticos, a proporção foi enorme e fiquei sensibilizado.
“Fechei os olhos e revivi tudo”
Nem deu para dormir?
-Se já durmo pouco depois dos jogos, desta vez ainda pior. Deitei-me na cama, fechei os olhos, rebobinava o ambiente a cada golo. Revivi tudo. Faz parte da vida. Foi um jogo de onde saí em grande e deixei marca. Só um lateral tinha feito três golos aqui num jogo.
“É uma diferença absurda para Portugal, são ambientes sensacionais em todos os campos, é algo sem explicação”
Um grande estímulo do futebol turco passa mesmo pelo clima nas bancadas?
-Já tinha essa noção mas só cá estando se percebe a realidade. É uma diferença absurda para Portugal, num jogo da 2ª ou da 3ª Divisão podem estar 20 mil pessoas. É surreal, nada a ver com Portugal, são ambientes sensacionais em todos os campos, não tem explicação. Jogando num estádio assim, vibras de outra maneira.
Esta mudança foi um sonho concretizado?
-No Boavista já trabalhava para alcançar outros sonhos e objetivos. Queria dar um salto e achei que este convite ia ajudar nisso. Estreei-me nas provas europeias, ganhei visibilidade num clube de grande dimensão, coloquei tudo a meu favor, resta-me corresponder. Não quero ficar por aqui, tenho sonhos maiores por atingir.
Está a pensar em que tipo de metas?
- Penso no dia-a-dia, mas quero chegar aos melhores clubes da Europa. Ainda sou jovem, estou bem e feliz aqui mas tenho a ambição de jogar em Inglaterra, Espanha ou Itália. O que tiver de acontecer acontece, sem estar obcecado. Quem trabalha bem por norma é recompensado. Já fui ao chegar aqui, estou num grande clube onde não me falta nada. Comecei bem, sei que já olham de forma diferente para mim, as coisas têm fluído.
Coletivamente vemos a equipa numa posição modesta. Isso preocupa?
-É um clube que luta sempre para ser campeão, mas temos de ter em conta que é um ano zero, temos uma equipa bastante jovem. Os objetivos passam sempre pela Europa, vamos dar tudo na segunda volta. Temos de ganhar muitos jogos e acabar o mais à frente possível. Também queremos fazer algo na Taça, sinto a equipa fortalecida.