É o mais novo de sempre a marcar na Champions e vai para o Chelsea: "Semelhante a Aguero"
Está contratado pelo Chelsea para 2026/27, mas aos 16 anos, “apadrinhado” pelo português Jorginho, já tem brilhado no ataque do Kairat Almaty. Adolescente soma já onze golos na temporada, batendo recordes de precocidade. No seu país não há dúvidas: vai ser o Cristiano Ronaldo cazaque
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Tem 16 anos e 353 dias, já está contratado pelo Chelsea para a próxima temporada e faz história na Liga dos Campeões ao serviço de uma equipa… do Cazaquistão. No passado dia 8 de julho, Dastan Satpaev tornou-se no jogador mais jovem de sempre a marcar numa qualquer fase da prova – no caso, a primeira eliminatória –, superando Ansu Fati, que marcou pelo Barcelona com 17 anos e 40 dias, e na última terça-feira voltou a faturar na épica reviravolta que permitiu ao Kairat Almaty continuar a sonhar com uma inédita presença na fase regular.
O golo histórico, apontado ao Olimpija de Jorge Simão, surgiu a passe de um português, Jorginho, que tem apadrinhado a ascensão do adolescente na equipa principal e que não tem dúvidas sobre o potencial do prodígio cazaque. “Aqui, todos acreditam que poderá vir a ser uma estrela internacional e o melhor jogador de sempre do país. Tem tudo para ser a maior bandeira do país lá fora, para se tornar o Cristiano Ronaldo do Cazaquistão”, conta o avançado luso a O JOGO.
A estreia na equipa principal do Kairat (clube que representa desde os oito anos) aconteceu em maio de 2024, tinha Satpaev apenas 15 anos, entrando aos 80 minutos de uma vitória esmagadora sobre o Akshayik Uralsk para a Taça da Liga do Cazaquistão: 9-0. Continuou depois a jogar nos sub-18 (eleito melhor jogador do campeonato da categoria em 2023 e 2024, com um total de 27 golos em 28 jogos) e na equipa de reservas, que compete no segundo escalão do Cazaquistão (um golo em cinco jogos), até ser chamado aos trabalhos da equipa principal (campeã em título) em janeiro, na pré-temporada – no país, a época decorre em ano civil.
Seria oficializado no mês seguinte como reforço do Chelsea para 2026/27, depois de convencer os responsáveis do emblema londrino ao realizar testes em dezembro de 2024 na capital inglesa, onde se treinou com as equipas de juvenis, juniores e de Sub-21 – e nesta categoria fez um “hat-trick”. Os quatro milhões de euros que o gigante inglês pagou pelo seu passe (com mais 2,4 em variáveis) tornaram-no desde logo no jogador mais caro da história do Cazaquistão, podendo juntar-se aos blues apenas em agosto do próximo ano, quando atingir a maioridade.
Os números nunca vistos na realidade do país, porém, não subiram à cabeça do jovem avançado, que agarrou a oportunidade após lesão grave de um colega [Élder Santana] logo na primeira jornada, frente ao Astana, na qual fez o primeiro golo no campeonato após entrar no segundo tempo. Daí para cá, soma onze golos em 24 jogos disputados pelo conjunto de Almaty: oito no campeonato, um na Taça e dois nas eliminatórias da Liga dos Campeões, faltando apenas marcar pela seleção principal, onde soma já quatro internacionalizações, depois de se ter estreado em março, tornando-se também no mais jovem de sempre a consegui-lo.
“Fez uma pré-época muito boa e quando surgiu a oportunidade agarrou o lugar. Não se acomodou. Uma transferência para o Chelsea muda a vida de qualquer pessoa, mas ele continua a trabalhar, ouve o que lhe dizem e isso só o vai ajudar a crescer”, realça Jorginho, completando: “O que tem de mais especial é o que todos os grandes jogadores têm de ter, a forma como trabalha. Um miúdo de 16 anos que tinha tudo para relaxar, como agora virou moda nos miúdos que se começam a destacar, acham logo que já sabem tudo. E com ele não é assim: esforça-se muito, trabalha muito no tempo livre, está sempre no centro de treinos, às vezes até demais! É um rapaz humilde, calmo, introvertido, mas também faz as suas brincadeiras, e ouve muito os conselhos que lhe damos”.
“Tem traços semelhantes a Aguero”
Se a nível de importância para o país natal, Satpaev pode vir a ser comparado com Cristiano Ronaldo, já no que respeita ao estilo e características dentro do campo, a referência que dá Jorginho é Aguero, “um dos melhores avançados de sempre”. “Claro que o ‘Dast’ ainda não está nesse patamar, mas os traços são semelhantes. Não sendo um jogador muito alto [1,74 metros], é muito rápido e muito forte fisicamente, muito entroncado. Chuta muito bem e forte com os dois pés, ataca muito bem a profundidade”, detalha Jorginho.
No entender do avançado português, o jovem colega tem todas as condições para “explodir” no futebol inglês. “A Premier League tem jogos partidos, muito rápidos, com muito contacto físico. Para ele, é um campeonato mais adequado do que por exemplo o espanhol”, salienta, antevendo um futuro brilhante para Satpaev, “no Chelsea ou noutro sítio qualquer”: “Ele vai chegar lá, vai fazer toda a pré-época, e se calha a marcar um golo nunca mais pára! Tudo pode depender do que fizer na primeira vez que tocar na bola. Mas mesmo que não singre logo, é apenas uma questão de tempo. Só precisa que acreditem nele.”
Em campo, a parceria luso-cazaque já rendeu 20 golos: nove para Jorginho e 11 para Satpaev, que já prepara o futuro em Londres. “Ele já está a aprender inglês, já fala bem e nós complementamo-nos muito bem. Ele gosta de pedir a bola nas costas, eu gosto de jogar entrelinhas e ele abre muito esse espaço. Neste jogo com o KuPS, jogámos ainda com o Edmilson como ponta-de-lança, ele gosta de fixar os centrais, e um dos três estava sempre sozinho. Aqui não temos um sistema fixo e somos todos muito móveis”, conta Jorginho.
Apesar de tanta qualidade demonstrada, um jovem de 16 anos ainda terá muito a aprender. “Tem de medir melhor os tempos de jogo, abrandar, respirar, definir melhor os momentos de pedir na frente, pedir no pé. Mas isso é normal, vai ganhar essas noções com o evoluir da carreira”, sentencia Jorginho.