PERFIL - Saiba que é o presidente do AEK, que empurrou os testículos do assistente Rui Licínio.
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No passado dia 4 de março, o árbitro português Artur Soares Dias descansava no intervalo de um ácido AEK-Aris, referente às meias-finais da Taça da Grécia, quando um sexagenário espadaúdo irrompeu pelo balneário como um marido enganado e, à falta da tradicional pistola dos presidentes de clubes gregos, empunhou os testículos do assistente Rui Licínio, enquanto vociferava qualquer coisa como "aqui quem manda sou eu".
Castigado com oito meses de interdição de recintos desportivos e 20 mil euros de multa, Dimitris Melissanidis completou naquele dia a proverbial queda da máscara. Presidente do AEK durante vários períodos nos anos 1990, Melissanidis regressou em 2013, à cabeça de um grupo de investidores, para recuperar um clube atirado para as divisões amadoras pela bancarrota. Por essa altura, este filho de refugiados pontic (uma etnia milenar com origens algures na Anatólia) já tinha completado o seu percurso de sucesso, crescendo proprietário de uma escola de condução até grande armador naval ligado ao transporte de petróleo, com clientes tão discretos como a marinha dos Estados Unidos. O interessante deste trecho é que conseguiu isso em meros oito anos (a Aegean Oil foi fundada em 1995).
Já a aproximação ao futebol vinha dos anos 1980, quando ainda ensinava os jovens do Pireu a conduzir. Duas condenações por suborno, uma delas a dois futebolistas dos campeonatos amadores, ficaram enterradas nesse longínquo currículo (e sem grande informação, porque ele era um anónimo por esses dias). Em 1996, Melissanidis acrescentou à lista uma acusação por contrabando de petróleo, que acabaria por cair, mas nada disso impediu que ressurgisse no AEK, em 2013, como o grande defensor da honestidade e da "verdade desportiva" no futebol grego, com grandes e variadas acusações de manipulação, todas elas arquivadas pelos tribunais.
O estardalhaço não terá sido hormonal. Por essa altura, a troika obrigava o governo grego a privatizar a OPAP, uma empresa estatal monopolista dos jogos e lotarias, mais ao menos como a Misericórdia de Lisboa, e Dimitris candidatara-se a comprar uma fatia razoável, que efetivamente viria a adquirir. A imagem de impoluto era imprescindível. Mas o primeiro escândalo deu-se imediatamente depois, quando a OPAP, já sob a gestão do clã Melissanidis, assinou um acordo de patrocínio com o AEK de 2,1 milhões de euros, mais do que recebia, por exemplo, o campeão Olympiacos. Os tumultos coincidiram com os primeiros rumores de que a Aegean Oil, gerida agora através de testas de ferro, não seria propriamente uma empresa imaculada.
Depois de publicada uma reportagem sobre o tema na revista "Unfollow", o repórter que assinou a peça recebeu um telefonema de um homem que se identificou como Dimitris Melissanidis e que, durante vinte minutos, o ameaçou repetidamente de morte, a ele, à mulher e aos filhos. Sempre que o jornalista, Lefteris Charalambopoulos, tentava ripostar, o indivíduo respondia "eu sou Dimitris Melissanidis". Mais tarde, o advogado do presidente do AEK negou que fosse ele o autor da chamada, mas ficou provado que aquele número de telefone estava registado como pertencente à Aegean Oil. O processo entretanto levantado contra a empresa e Melassanidis pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, por burla aos investidores e fraude, sugere que a reportagem não estava errada. E que, quando o furioso Dimitris apanhou Rui Licínio pelos testículos, já estava bem agarrado pelos dele próprio.