Deyverson fala do Benfica, do primeiro ordenado na Luz e confessa: "Bebia, curtia..."
Avançado passou pela equipa B, coincidindo com jogadores como Bernardo Silva e João Cancelo, e depois rumou ao Belenenses
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Deyverson, atacante do Atlético Mineiro, concedeu uma entrevista ao Globoesporte na qual recordou a passagem pelo Benfica B e outros momentos curiosos da sua vida e carreira que, confessa, podia ter alcançado outros patamares.
"Na minha cabeça era 'eu vou para o Benfica', mas não para o Benfica B. Pensei que era Pablo Aimar, Enzo Perez, Luisão, Maxi Rodriguez, Alan Kardec... Cheguei lá, tudo vazio no aeroporto. Aquele cri, cri, cri cri. Na equipa B tinha João Cancelo, André Gomes, Bernardo Silva, tinha Miguel Rosa, Ivan Cavaleiro, todos hoje estão a jogar na Premier League. E eu lá no meio pensava: 'o que é que estou a fazer aqui?' Eu acostumado ao pelado. Aí no último dia de testes fiquei no banco num amigável. Faltando 10 minutos para acabar o treino, o técnico chama-me. Entrei, acabou o jogo 2 a 0, com dois golos do 'pai' em praticamente 9 minutos. Foi um de cabeça, até de peixinho. E outra a bola sobrou para mim e eu só chapei. Aí o treinador chamou-me, disse que estava muito feliz com o meu desempenho, e queria muito contar comigo. Fiquei todo feliz, a chorar, abracei-o, não tinha nem intimidade. Pô, cinco anos de contrato, um salário mínimo, na época era 1.200 euros. Liguei para a minha mãe, todo feliz, emocionado, 'passei, passei'. Ninguém acreditou, foi um choque", comentou.
O brasileiro recordou as dificuldades que passou e o que fez quando começou a ganhar mais dinheiro nos seguintes contratos: "Dormíamos no chão. Uma das primeiras coisas que o Deyverson fez foi comprar casa para a minha mãe, para mim, para o meu outro irmão, outro irmão. Pagou a faculdade de Direito para mim e para a minha esposa. Ele também deu 'start' aqui no clube, comprou materiais de treino e de jogo."
Com a conversa a derivar para a esposa Karina, garantiu que se a tivesse conhecido mais cedo, a carreira teria alcançado outros patamares, com a seleção canarinha como possibilidade. E começou a falar da esposa com uma historieta do casamento: "No casamento, quando ela diz os votos, chegou ao carro assim, eu estava muito apertado para soltar um pum, mané. 'E agora, como é que eu vou soltar um pum aqui com esta menina no carro, irmão?' Disse: 'pô, soltei um pum'. E ela: 'pô, graças a Deus'. Eu falei: 'porra, mas por que graças a Deus?' Ela falou: 'agora vou poder ser quem eu sou'. Ela falou: 'já é... soltei um pum também'. E daí, começou o romance, pai. Esquece, é para casar. Se eu tivesse conhecido a minha esposa antes, acho que talvez eu teria trilhado caminho mais brilhante. Acho que não tinha uma pessoa ao meu lado que me orientasse a fazer as coisas da forma que devia acontecer. O meu empresário disse estes dias que se eu não tivesse feito as coisas que eu fiz estaria na seleção há muito tempo. Porque surgiu o interesse da seleção, há um tempo atrás, só que eu estava a beber, a curtir, a viver a vida, a levar cartão vermelho, amarelo, a gerar polémicas... Eu gostava de beber a minha cervejinha, de me sentar no portão e ficar a beber. De ficar a ouvir pagode, ouvir sertanejo. Se eu puder dar um conselho para a juventude, é: não façam. Sei que é difícil colocar na cabeça desta juventude, porque o mundo nos propõe coisas maravilhosas. Mas se pararmos para pensar é vazio. Se eu pudesse voltar no tempo, eu não faria. Estaria bem melhor hoje. Eu não estou a questionar quem bebe, quem deixa de beber. Estou a dizer o que vivi. Para ser profissional de alto nível tem de se renunciar a muitas coisas. É difícil, o mundo proporciona coisas muito boas. Quando estás ali, não queres saber de nada. Queres beber, curtir, dançar..."