Deportado dos EUA para prisão de El Salvador devido a... tatuagem do Real Madrid
Jerce Reyes, antigo futebolista profissional da Venezuela, foi deportado dos Estados Unidos para a maior prisão das Américas, em El Salvador, após ter sido considerado membro de uma organização terrorista. A base para isso foram as suas redes sociais e uma tatuagem... do Real Madrid
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Jerce Reyes, antigo futebolista profissional da Venezuela, foi deportado este mês de um controlo de imigração dos Estados Unidos (EUA) para o Centro de Confinamento de Terrorismo (CECOT), uma prisão gigante em El Salvador, devido a suspeitas de que seja um membro do Tren de Aragua (TDA), um gangue do seu país. O motivo? Segundo o seu advogado, uma tatuagem do... Real Madrid.
De acordo com a CNN, o ex-guarda-redes de 35 anos, que jogou na primeira e segunda divisão da Venezuela, foi colocado em custódia pelo controlo de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), em setembro do ano passado, após ter entrado no país sem a documentação necessária, em busca de asilo.
De seguida, Reyes foi acusado de pertencer ao TDA, considerado uma organização terrorista nos Estados Unidos, e esteve entre centenas de venezuelanos deportados para a prisão CECOT, que tem uma capacidade para 40 mil prisioneiros, sendo mesmo a maior de todo o continente americano.
Contactado pela CNN, o Departamento de Segurança Interna dos EUA confirmou que as tatuagens de Reyes - também tem tatuados os nomes das suas duas filhas, um mapa da Venezuela, uma estrela e a figura de um guarda-rede, para além de uma bola em cima de um rosário com uma coroa real, em referência ao símbolo do Real Madrid, com a palavra “Deus”, alcunha de Diego Maradona – foram um dos principais motivos que ditaram a suspeita de que pertença ao Tren de Aragua.
“Jerce Reyes Barrios não só estava nos Estados Unidos ilegalmente, como também tem tatuagens consistentes com aquelas que indicam uma afiliação ao gangue TDA. A sua própria atividade nas redes sociais indica que é um membro do gangue violento TDA. Posto isso, o serviço de análise de inteligência da DHS vai além de uma só tatuagem e temos confiança nas nossas descobertas”, afirmou um oficial daquela agência.
Em sentido contrário, Mengual, o tatuador responsável por vários trabalhos nos braços de Reyes, garante que tudo não passa de um mal-entendido e que a tatuagem em referência ao Real Madrid até foi feita em 2018, numa altura em que o TDA ainda não era um grupo criminoso conhecido entre a população venezuelana.
“Que injusto! Eu li nas notícias que o Tren de Aragua usa rosários ou rosas, mas e então? Eu não percebo como é que uma pessoa inocente tem de pagar por isso”, exclamou, chocado com a notícia do encarceramento do seu cliente.
Um discurso que alinha com o da mulher do ex-guardião, Mariyin Araújo, que tentou encontrar-se com o marido, juntamente com as suas duas filhas, nos Estados Unidos, antes de este ser deportado para a prisão de El Salvador. “Jerce nem sequer bebe ou fuma e nunca esteve envolvido em qualquer crime ou situação má! Ele só quer saber das suas filhas e de futebol”, vincou.
Já o advogado Linette Tobin explicou que o ex-jogador deixou a cidade de onde é natural na Venezuela, Machiques, devido à instabilidade política do país e à procura de uma vida melhor. Após ter chegado ao México, Reyes registou-se numa aplicação governamental dos EUA para migrantes que pretendam entrar legalmente no país. A 1 de setembro, marcou uma reunião com autoridades de imigração, mas foi imediatamente detido e acusado de pertencer ao TDA.
Desde aí, Tobin já apresentou provas de que o seu cliente não tem qualquer registo criminal na Venezuela e ainda vídeos de jogos em que participou na sua carreira, estando a tentar provar a sua inocência no caso. Reyes terá assim de se apresentar em tribunal em San Diego, no dia 17 de abril.
Entretanto, o Perijaneros FC, clube de Machiques, também já expressou publicamente choque e desagrado com a detenção do seu ex-jogador, exigindo a sua libertação imediata.
“Vários jovens jogadores deixaram o clube... Alguns foram para os Estados Unidos, outros estão na Colômbia e no Peru, estão por todo o lado. Não é segredo que a situação económica aqui é problemática e as pessoas não costumam anunciar quando vão embora, mas, no ano passado, [Reyes] disse-me que ia tentar ir para os Estados Unidos porque o seu pai estava muito doente e porque queria encontrar uma vida melhor para a sua família. Não entendo. Como é que podem colocar alguém na prisão sem uma investigação exaustiva? Como é que é possível que não investiguem isto antes de sentenciarem alguém?”, questionou Yogerse Viloria, ex-treinador de Reyes.