Deixou Portugal com sucesso e pelo meio encontrou Rúben Amorim: "Caminhada abençoada"
Herói no Catar, já icónico na seleção, Ró Ró tem história de 14 anos no país e até se cruzou com Rúben Amorim
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Pedro Ró Ró deixou os subúrbios de Lisboa por uma realização no Catar, levando 14 anos no Golfo... títulos vários e a transformação em internacional catari, algo real desde 2016, que se traduz em 92 jogos pela seleção e as conquistas das últimas duas Taças da Ásia, a mais recente com fator casa envolvido. Portugal ficou para trás mas não esquecido, é destino de todas as férias, mas o Catar virou pátria futebolística, bem como lugar onde fazer perdurar a vida e educar os filhos. Aos 33 anos, são certezas que o lateral-direito, e central, assume sem reservas, num estado de graça fácil de decifrar, jogando pelo Al Sadd.
Um português dos subúrbios de Lisboa passou a ser um dos mais lendários jogadores cataris, já com duas Taças da Ásia no currículo. Pedro Ró Ró fala deste estado de graça e de 14 anos no Golfo.
“Foi magnífico voltar a vencer a Taça da Ásia, o país ficou muito feliz por termos mantido o título em casa. Voltaram a ir ao rubro, é um momento muito bom”
“Foi magnífico voltar a vencer a Taça da Ásia, o país está muito feliz por termos mantido o título em casa, voltaram a ir ao rubro. Estamos num momento muito bom”, sublinhou, encontrando razões para este sucesso intervalado por quatro anos e ainda a organização de um Mundial. “O futebol evoluiu imenso, grandes jogadores começaram a vir para cá e os locais têm melhorado muito. Só o Mundial não correu como desejávamos, mas era uma competição com dificuldades diferentes. Conseguimos dar outra cara nesta Taça da Ásia e vamos lutar por mais, bem como pela presença no próximo Mundial”, evidenciou, nas nuvens com o que tem alcançado.
“Entrei num mundo que não conhecia e resultou”
“Incrível! Só agradeço aos que acreditaram e apostaram em mim. Deixei Portugal a jogar na 3.ª Divisão...”
“É uma caminhada abençoada. Em Portugal não foi fácil, tive esta oportunidade por entrar num mundo que não conhecia e resultou, passando por um primeiro clube, por meses de testes. Consegui chegar passado cinco anos a um clube maior e abri as portas da seleção. Este é um momento muito feliz para mim e para a minha família. Sinto um orgulho tremendo”, notou Pedro Ró Ró, que vive com a mulher e os dois filhos em Doha, tendo também disputado o Mundial de futebol de 2022, começando por alinhar no Al Ahly até se transferir para o Al Sadd, onde foi colega de Xavi. “Não tenho muitas palavras, tem sido uma jornada incrível, só me resta agradecer aos que acreditaram e apostaram em mim. Cheguei com 19 anos, estou com 33; deixei Portugal a jogar a 3.ª Divisão pelo Aljustrelense”, historiou o caminho.
“Recordo-me nos primeiros anos de encontrar cá o Ricardo Costa e o Rúben Amorim. Os mais famosos foram o Xavi e o Cazorla”
“Um amigo do Farense, Russiano, conheceu um empresário, português-iraquiano, e soube que ele precisava de um central. Trouxe-me para cá, estive dois ou três meses em testes até assinar pela equipa B. Passaram 14 anos, estou em casa e é aqui que vamos viver a nossa vida mesmo depois do futebol. Quando cheguei era tudo uma grande novidade, vinha do bairro, do subúrbio, quase não sabia o que era viajar”, registou, reconhecendo um futebol em transformação na região e uma crescente valorização no que são as apostas internacionais. “Já havia estrangeiros mas não podiam jogar tantos. De portugueses recordo-me no início do Ricardo Costa e do Rúben Amorim, os mais famosos foram o Xavi e o Cazorla”, recuperou, ciente do exemplo que se fez a partir do Catar, um modelo para trepar as escadas do futebol, auferindo condições “equivalentes a equipa grande” de cá.
“Se estou bem cá, porque iria pensar em mudar?”
“As pessoas olham para mim como referência, pelo que jogo e pessoa que sou. Muitos miúdos dizem que querem ser como eu, é bom ouvir isso, sentir o respeito pelo que tenho feito. Não falo fluentemente mas consigo comunicar com toda a gente”, ilustrou, decididamente tocado por esse carregado contentor de afetos. Amparado por tratamento tão perfeito, um enquadramento total, Ró Ró nunca se deixou enamorar muito por um regresso a Portugal. “Quando era jovem tinha o sonho de voltar a Portugal, que jogaria num bom clube. Com o tempo e com tudo aquilo que fui construindo no Catar, deixei de pensar assim. Se estou bem num certo sítio, porque razão iria pensar em mudar? Já nem penso nisso, não tenho qualquer plano para voltar ou até sair do Catar seja para onde for. Não fez nem faz sentido mudar a minha vida”, afirmou.
Regresso: só pensava voltar quando era novo, agora nem equaciona o cenário
“Sendo sincero, nunca ouvi falar de propostas, pelo menos que chegassem diretamente ao meu conhecimento. A única altura que ouvi falar de convites foi depois da Asia Cup de 2019, aí falaram-se de outros campeonatos da Ásia e também interesses de França e Turquia”, disse Ró Ró, ciente do que espera fazer pela seleção. “Espero ajudar na qualificação para o Mundial. Que isso se concretize e depois retiro-me”.
“Abertura do Mundial arrepiante”
Pedro Ró Ró fez como titular os três jogos do Catar no Mundial de 2022, frente a Equador, Senegal e Países Baixos, tendo a equipa sido derrotada nos três compromissos. Mas a presença na prova, a disputa de cada encontro e o respirar de uma atmosfera que leva qualquer um ao céu foram, por si só, arrebatadoras.
“Não há palavras, foi majestoso, um momento único na minha vida; na prática um momento único para qualquer um. Tive cá todos os familiares, muitos amigos; vê-los todos no jogo de abertura foi espetacular e arrepiante. Recordei tudo o que passei! Ter celebrado esse momento em conjunto com tanta gente importante é uma recordação eterna”.