Luis de la Fuente, selecionador da Espanha, deu uma entrevista ao jornal britânico The Guardian
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Conquista do Euro'2024: "Ganhar todos os jogos e contra adversários desta dimensão é difícil de imaginar, de sonhar. Mas nós somos muito simplistas. Essa frase que as pessoas pensam ter sido inventada recentemente - jogo a jogo - é muito antiga. E nós avançámos um obstáculo de cada vez, por ordem. Temos que tirar o drama dos conceitos de ganhar e perder; às vezes é capricho do destino. Mas a nossa convicção era que estávamos ali para ganhar, para atingir os nossos limites. Quando nos entregamos totalmente, nunca falhamos. Eu não leio, não ouço, não vejo. É um exercício que me dá saúde mental, tranquilidade. O isolamento não é um ato de cobardia ou de ignorância, não; o que não me ajuda, não me faz falta. As coisas más? Podem ficar com elas. Internamente, estávamos convencidos. No exterior? Não conseguimos controlar, por isso não interessa."
Qualidade dos jogadores: "Não se pode esperar competir contra a Alemanha, a França e a Inglaterra, uma grande equipa, e não ser levado ao limite. Mas recuperámos sempre, estivemos sempre convencidos, sabíamos o que tínhamos de fazer. E é mais fácil quando se tem bons jogadores. Há uma ideia, uma abordagem técnica e tática. Mas, acreditem, acima de tudo isto é fruto do talento deles. Queríamos ser mais polivalentes, porque sabíamos que eles podiam sê-lo. Impor seria um erro e uma arrogância intolerável, limitando as suas capacidades. E a fé nos jovens jogadores não é um ato, é uma convicção. A minha formação foi feita em clubes com uma cultura de formação de jogadores: Athletic e Sevilha. Quando se vê talento, joga-se com ele, mesmo que seja jovem."
Elogios a Lamine Yamal: "O Lamine é muito bom. É verdade o que eu disse: que ele é tocado pela varinha de Deus. Há jogadores que são diferentes. Não quero entrar nessas comparações, porque sei que vamos começar [a fazer isso], e são jogadores diferentes, de épocas diferentes. Mas o talento? Pfff... há algo que os distingue. Os super mega craques, os génios do futebol, aqueles que [fizeram] história, todos têm algo. Naquela idade jovem, todos pareciam diferentes, mais velhos. É importante que façamos o nosso trabalho como educadores e criadores; não há como escapar ao facto de ele ter 16 anos, um miúdo. Há questões de privacidade, de proteção. Quando os jogadores saíam para comer fora, ele não podia porque era menor de idade. Alguém com responsabilidade ficava no hotel a tomar conta dele."
Morata admitiu, durante o Euro'2024, ter sofrido com uma depressão: "Ele pode parecer frágil por causa das coisas que disse, mas é um homem duro. É forte porque teve de ultrapassar coisas que outros não teriam sido capazes de fazer. É contraditório falar da sua 'fragilidade' porque é preciso energia e força para a enfrentar. Alguém que é capaz de ultrapassar situações extremas, de enfrentar pontos de rutura - um dia talvez ele explique o que passou, isso é com ele - mostra uma grande força. Eu sabia o que ele estava a passar e isso uniu-nos: somos muito próximos. Não se trata apenas de treinador-jogador, mas de sentir empatia por alguém que está a lutar contra coisas muito difíceis. Os jogadores de futebol têm momentos em que precisam de apoio, em que se diz: 'Estou aqui para ti'. E [a sua abordagem] permite que os outros no grupo também se fortaleçam: “Eu também”. Temos de normalizar, humanizar os desportistas. É como aquela coisa do carisma: para ser 'carismático' é preciso ser altivo, orgulhoso, arrogante, 'eu sou o homem forte aqui'. Não. É possível mostrar humanidade. Isso não é uma fraqueza."
Rodri e Carvajal candidatos a vencer a Bola de Ouro? "Tanto Rodri como Dani Carvajal mereceram, sem dúvida, esse direito. Se, depois de tudo o que fizeram, não forem considerados, seria uma grande injustiça. Fizeram mais do que o suficiente. Não só agora, mas em tudo. Olha para o Dani: seis Ligas dos Campeões?! Mas que raio é isso? O Rodri tem uma Liga dos Campeões, mais uma, e não sei quantas ligas. São campeões europeus. Merecem ganhar? Claro que sim. Estou a defendê-los, a pedi-lo por eles. Já ganharam tudo."
Ambição da Espanha: "Esta geração de jogadores é insaciável. Queremos continuar a bater recordes, dar mais um passo, mais um jogo, mais um jogo... Repetir o feito da Espanha em 2008, 2010 e 2012? É muito difícil, mas... Não vemos esse legado como um peso, não permitimos que ele seja um problema. Ganhámos uma Liga das Nações. Ganhámos um Euro. Agora vamos tentar outra Liga das Nações. Depois vamos tentar o Campeonato do Mundo. Algum génio disse que a Liga das Nações é um troféu menor, mas são as 16 melhores equipas da Europa: um troféu menor! Para nos qualificarmos é mais difícil do que o Euro. Mas nós vamos para ganhar, como sempre fazemos."