"Cresci com a geração dourada do Celta, a ver jogos com Liverpool, Juventus e o 7-0 ao Benfica"
ENTREVISTA O JOGO - Rosto de um novo Celta, ADN canterano, Cláudio Giráldez brilha no seu lugar de sonho e confirma o apego saltando a fronteira de Tui para Valença
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Cláudio Giráldez cumpriu um ano a treinar o Celta, mudou o astral e o futebol ofensivo reaproximou brutalmente os adeptos da equipa. Balaídos tem vivido tardes e noites de esplendor.
Treinador do Celta aborda estímulos futebolísticos que têm promovido enchentes admiráveis em Balaídos e da presença cada vez maior de portugueses nas bancadas do modernizado estádio viguês.
Que sabor deste tempo a treinar o Celta e do sentimento de encanto nas bancadas?
-Estamos a viver um momento muito bonito de maneira natural. Temos gerado um sentimento de cumplicidade e muito celtismo. Provocado por cada um, que tem mostrado o que sente. É algo muito fluído, falando da nossa forma de entender o futebol, face ao que absorvermos na cantera, todo o crescimento associado. Tudo isto ganhou exposição na I Divisão através de um corpo técnico canterano e muitos jogadores canteranos. Os adeptos sentem tudo isto como sendo seu. É algo maravilhoso ouvir o que se vive a cada jogo nos Balaídos. A gente identifica-se com o que vê no terreno de jogo.
“Cresci com a geração dourada do Celta, a ver jogos europeus, com Liverpool, Juventus ou esse 7-0 ao Benfica”
O jovem Cláudio, que celebrara o Euro Celta, podia imaginar este destino?
-Todo aquele que é aficionado do Celta desde criança, todo aquele que sabe que nasceu numa esquina do país, ganhou contacto com a I Divisão indo ver os melhores do mundo aos Balaídos. Coube-me a mim, à minha geração, viver esse Celta dourado, os anos da UEFA e de Champions, jogos históricos. Esses, por exemplo, em que estava na bancada contra Juventus (4-0), Liverpool, ou o 7-0 ao Benfica. Jogos muito bonitos, além de que tinha família futeboleira. Não imaginava esta oportunidade, quando criança, de dirigir a equipa da minha vida! Tive um percurso curto como jogadores, depois voltei e trabalhei dez anos como técnico, desde os sub-14. Foi passo a passo até chegar onde estou hoje. Cumpri um ano a realizar um sonho, é muito difícil treinares a equipa do coração, é um círculo de trabalho que poucos podem ambicionar.
“Treino a equipa da minha vida. Cumpri, aliás, um ano a realizar esse sonho. É muito difícil treinares a equipa do coração”
Diz-se em Portugal que é mais difícil um técnico ser aceite no seu clube...
-É difícil ser profeta na tua terra, também se diz aqui. No meu caso, não me posso queixar, tudo tem andado muito bem desde que cheguei. Tento ser natural, genuíno, isso retira-te pressão para o bem e para o mal. Eu trabalho da forma como acredito, tento tomar decisões boas e tenho tido a sorte de ver o ambiente em redor e os adeptos aceitarem bem a nossa mensagem. Sabemos que vão existir momentos complicados, no desporto seremos sempre julgados pelos resultados, mas importante é sentir este carinho.
É um treinador na cadeira de sonho e um treinador com a paixão de adepto?
-Evidentemente cumpro um sonho, treino a equipa da minha vida, onde cresci. Vivo a 15 minutos do campo, a 20 da cidade desportiva. Mas este trabalho exige que a parte emocional fique de fora. Temos de ser cerebrais e tomar decisões pela objetividade e por aspetos técnicos. Sou responsável e tento fazer tudo da melhor forma. A parte de adepto faz-nos querer estar aqui mas fica fora da cidade desportiva.
“Vivo muito próximo da fronteira, cresci indo a Valença ou Cerveira. Podemos mover-nos, é espetacular”
Como mede a ligação afetiva de Portugal pelo Celta?
-Gostaríamos de ter cada vez mais conexão e vínculos com o futebol português, falando do FC Porto, do Braga, adversários que fomos defrontando várias vezes nos escalões inferiores, fazendo jogos amigáveis. Medíamos o nível entre academias. Temos de saber usar a proximidade geográfica para sacar maiores desafios desportivos. A nível pessoal vivo muito próximo da fronteira, cresci indo a Valença, Cerveira, Monção, Porto ou Viana. Estou encantado por essa conexão tão real, tenho muitos amigos ou conhecidos que trabalham em Portugal ou vice-versa. Podemos mover-nos facilmente, é espetacular. Há muito por onde crescer no âmbito desportivo.
“Seria fantástico termos mais portugueses nos Balaídos, tenho a certeza que não se arrependeriam pelo ambiente”
Esta matriz de jogo é conquistadora?
-Estamos mais perto de atrair gente, a nossa maneira de jogar é mais chamativa. Pode levar alguns a apanhar um meio de transporte e passar a fronteira para ver bons jogos da Liga Espanhola e desfrutar do nosso grande ambiente nos Balaídos. Seria fantástico termos mais adeptos portugueses, atualmente posso passar a certeza que não se arrependeriam. O ambiente está incrível.
“Almocei em Valença e um empregado falava do 7-0 ao Benfica. Deixou o estádio ao intervalo, arrasado”
E aquele 7-0 ao Benfica ainda hoje cria adeptos no Porto?
-Foi um dia histórico, não é habitual que um clube desse quilate passe por Vigo. Ainda para mais vencendo dessa forma e com essa superioridade. Foi algo pontual, sabemos, mas foi um momento muito bonito, um dos mais bonitos da história do Celta. Eu teria os meus nove anos. Era um período fabuloso em que a equipa encadeava participações europeias e até jogava a Champions. Ainda recentemente almocei em Valença do Minho e o empregado, um confesso benfiquista, dizia-me que tinha adorado essa oportunidade de ver o Benfica em Vigo mas que deixou o estádio ao intervalo, já arrasado.