O médio Arturo Vidal chocou o país há dias, quando negou que tenha sido o treinador Marcelo Bielsa a revolucionar o futebol chileno: "A mim não mudou nada" .
Corpo do artigo
Diz-se da seleção chilena, campeã sul-americana em 2015 e 2016, que foi inventada pelo treinador argentino Marcelo Bielsa. Bielsa é uma figura de fábula, espécie de mestre de kung fu no topo de uma montanha inacessível, que muitos técnicos veneram pelo mundo inteiro. Mesmo Guardiola hibernou com ele antes de se lançar no Barcelona. Bielsa não esteve em nenhuma das Copas América ganhas pelos chilenos, mas era o selecionador em 2008, quando o Chile venceu pela primeira vez a Argentina, espoletando uma série de mudanças radicais no futebol dos dois países. Dessa equipa ainda não fazia parte Arturo Vidal, médio do Bayern, que há poucos dias virou o universo chileno do avesso com uma afirmação explosiva: "A mim, Bielsa não mudou nada. Quem mudou o Chile foram os treinadores que ganharam as taças."
À porta das meias-finais da Taça das Confederações, o Chile é a quarta seleção do ranking FIFA. Portugal é a oitava. Depois da segunda vitória na Copa América, La Roja entrou em descompressão e chegou a complicar muito o apuramento para o próximo Mundial, quando perdeu com a seleção equatoriana, em março (3-0). Correram notícias de desentendimentos e intrigas palacianas no grupo; suspeitou-se que o espírito coletivo desaparecera e que aquela equipa de pressão intensa e alto débito já não voltaria. Ainda hoje persiste essa dúvida e Portugal ajudará a tirá-la. Apesar de ser constantemente colada ao estilo Bielsa, a seleção chilena já foi treinada por outros três argentinos depois dele (Borghi, Sampaoli e Pizzi, ex-jogador de Barcelona e FC Porto), o último dos quais com ideias bastante divergentes das de El Loco. Também esse pormenor Arturo Vidal tentou explicar: "Qual estilo? Pressionamos o mais que podemos e furamos até criar situações de golo. Foi sempre assim."
Por uma daquelas ironias cósmicas, as duas finais da Copa América tiveram por adversário a Argentina. Ambas acabaram sem golos e desempatadas por grandes penalidades; em ambas, os argentinos viram-se asfixiados e conduzidos, a cada bola, para pequenos labirintos humanos de onde só saíam desarmados. Estiveram em campo alguns dos melhores avançados do mundo, Messi incluído, mas a energia chilena rebateu tudo, até a carga dramática que os argentinos colocaram no segundo desses jogos, fez ontem um ano. Sem títulos pela Argentina, Messi apostou tudo na Copa América e acabou a falhar um dos penáltis decisivos. Horas depois anunciava que se retiraria da seleção, decisão que viria a revogar poucos meses mais tarde. Amanhã será finalmente a vez de Cristiano Ronaldo entrar na caverna para enfrentar a fera.