Harry Kane, capitão da seleção inglesa, revelou conversas com Eriksen e Lloris para criar movimento que chame a atenção para problemas do país
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O capitão da seleção da Inglaterra, que defrontou a Hungria na quarta jornada da Liga das Nações, está envolvido na criação de uma espécie de frente de protesto, composta por várias seleções, contra a forma como os direitos humanos são maltratados no Catar, o país que vai organizar o Mundial, de 21 de novembro a 18 de dezembro. Harry Kane afirmou isso mesmo aos jornalistas, antes da partida de ontem da Inglaterra com a Hungria, revelando já ter tido conversas a esse propósito com Christian Eriksen, capitão da Dinamarca, e Hugo Lloris, que enverga a braçadeira na seleção da França, e que é seu companheiro no Tottenham, tal como foi o nórdico até há duas temporadas.
"O Christian Eriksen ligou-me há um par de semanas. E, obviamente, há o Hugo Lloris, com quem estou em contacto frequentemente. Foi lançada a discussão sobre tentar-se fazer algo coletivamente", referiu o avançado sobre uma tomada de posição conjunta em relação a assuntos que têm sido do domínio público praticamente desde a atribuição do campeonato do mundo ao país do Médio oriente - a proibição da homossexualidade, as vítimas mortais e maus tratos a trabalhadores estrangeiros dos estádios do Mundial, conforme tem relatado a Amnistia Internacional, ou a proibição daqueles abandonarem o país.
"Quando chegarmos a uma decisão sobre o que queremos fazer, certamente iremos divulgá-la. Penso que será importante fazê-lo coletivamente, sinto que assim irá parecer uma tomada de posição, algo mais poderoso. Não há prazos, mas o Mundial aproxima-se rapidamente, pelo que queremos concentrarmo-nos nisto", declarou ainda o avançado.
Na seleção dos três leões, este não é, de resto, um tema novo. Os jogadores já conversaram sobre ele em março, por iniciativa do selecionador, Gareth Southgate, que já se referiu publicamente à controvérsia e voltou a fazê-lo agora. "A federação inglesa está a fazer coisas. Sei que o Harry teve conversas com outros capitães. Penso que seria importante haver algumas tomadas de posição coletivas. Eles estão a tentar criar algo que faça a diferença, há muita coisa a acontecer nos bastidores", disse ainda Southgate.
Várias organizações não governamentais têm denunciado situações de maus tratos no Catar, nomeadamente com operários da construção dos estádios - práticas como retenção dos salários, proibição de deixar os empregos sem autorização do empregador ou, até, mais de 6500 mortos entre estes, número que o governo desmente. Este admitiu que morreram 37 trabalhadores dos estádios, entre 2014 e 2020, embora 34 desses óbitos "não estavam relacionados com o trabalho".
"Bleus" incitados a imitar Dinamarca
No início o mês, a Amnistia Internacional (AI) desafiou os jogadores da seleção francesa a imitarem os da Dinamarca, manifestando-se sobre os direitos humanos no Catar. "A alguns meses do pontapé de saída, queremos encorajar Mbappé, Kanté, Griezmann, Benzema e ainda Pogba a apoiar e defender os direitos destes trabalhadores e trabalhadoras migrantes", escreveu nas redes sociais a AI, lembrando que a Dinamarca e outras equipas já o tinham feito. "Por que não os nossos queridos Bleus? É a questão que lhes vamos colocar", lia-se ainda.
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