Carvalhal conquista o Celtismo: "Fala de rock 'n' roll e que o Celta foi AC/DC"
Toque de Midas? Carlos Carvalhal revolucionou comportamentos e transportou Celta da zona de despromoção para o 10º lugar de LaLiga. Absolutamente adorado
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Carlos Carvalhal é já um sucesso sem igual em Vigo, tendo caído na graça dos vigueses e dos adeptos do Celta com uma valorização sentida e calorosa. O técnico português galvanizou Balaídos, fortaleceu os laços nas bancadas, dinamizou a cumplicidade e os afetos entre os jogadores e a cidade. Multiplicam-se as sensações que o Celta descobriu um treinador para longo prazo com níveis de empatia e competência profundamente enraizados.
O JOGO quis ouvir a nação celeste sobre o homem que transformou a época, que meteu travão nas angústias dos adeptos e nas desconfianças do grupo. Há um rescaldo avassalador de entusiasmo com Carvalhal a poder saborear algo parecido ao que viveu no Sheffield Wednesday. Através de conversas com o jornalista Pedro Pablo Alonso, com o multifacetado repórter e entertainer televisivo Gonzo, com o ator Morris, com o ciclista Óscar Pereiro e com o antigo jogador Toni Dovale... a conclusão é uma, única e lapidar: Carvalhal conquistou Vigo pela serenidade e visão. É quem pode devolver sonhos maiores ao clube galego, que viveu fase dourada com Mostovoi, Karpin, Makelelé, Gustavo López e Mazinho em anos de Victor Fernández. Da fuga aos lugares de despromoção ao alento europeu...do renascimento de Aspas à explosão de Gabri Veiga, há um toque de Midas do técnico, que vai além dos resultados, suplanta o evidente, sublima uma comunhão. O encanto tem crescido, exponenciado com o 3-0 ao Rayo e o 3-1 no reduto do Espanhol, não havendo vestígio de qualquer rasto de indiferença.
"É cool, sai-se sempre com temas musicais, fala de rock"n"roll e que o Celta foi AC/DC" >> Pedro Pablo Alonso, jornalista
"A valorização do seu trabalho não se cinge a nos ter retirado da aflição, ele trouxe coisas que nos emocionam para lá da classificação. Já não vemos cada jogo com angústia. Ser adepto do Celta antes era saber que um jogo podia estar favorável e, de súbito, o adversário marcava, empatava ou vencia a acabar. Não havia um jogo fechado. Ele trouxe ordem e uma ideia clara", ressalva Gonzo... endossando a Pedro Pablo Alonso.
"Há um contentamento global, apanhou uma equipa muito tocada. Tem tido o grande mérito de não se acomodar a um estilo, tem desenvolvido a equipa e buscado variações. Seis vitórias, três empates e três derrotas dizem bem o que tem feito. A comunicação é muito eficaz, nas conferências, também com os adeptos e com os jogadores. Agitou as mentes!", reconhece, louvando outro pormenor. "Coudet mexia muito pouco na equipa, confiava em 12/13 jogadores. Já Carvalhal move as peças, percebeu a amplitude das opções e conseguiu envolver e moralizar todos. Há uma conexão fortíssima com o plantel", elogia. António Duran "Morris", ator da série Fariña, é outro que se curva ao cunho luso.
"Já não olhas para baixo, se perdes vais para a cama, sabendo que isso pode acontecer" >> Gonzo, entertainer televisivo
"A equipa subiu muitos lugares mas o que mais me alegra é o estilo próprio, é a segurança, mesmo em jogos que se merecia melhor sorte . Carvalhal ganhou o celtismo em poucas semanas. É um homem tranquilo, chamou-me a atenção a forma como falou da atitude, que é algo que faz parte do trabalho diário. Ouvindo-o, percebe-se que a atitude não se impele com conversas, é com treino. Ele conseguiu isso, explicando o trabalho para pressionar e recuperar a bola."
Da depressão à Rianxeira
Outro adepto ferrenho do Celta é o bem conhecido ex-ciclista Óscar Pereiro, vencedor de uma Volta a França e com carreira iniciada em Portugal, na Porta da Ravessa. Apaixonado pelo futebol, também foi avançado no Coruxo, nas proximidades de Vigo. "Houve incerteza com a destituição de Coudet. Até porque se perdera confiança no plantel. Carvalhal foi uma surpresa, poucos o conheciam e ele percebeu que tinha de convencer com resultados, provar que estava capacitado para orientar o Celta. Testou com a defesa a cinco e rapidamente mudou. Acertou e a equipa prova agora o potencial que tem. Ele conquistou os adeptos, motivou a equipa, e estabeleceu essa identidade perfeita com Vigo", sublinha.
"Fala muito bem .Decisivo ao dizer que Aspas é um génio e o melhor que treinou" >> Morris, ator
"Carvalhal foi toda uma descoberta. A equipa estava deprimida, jogava nervosa e os jogadores de qualidade não a mostravam. Ele fez um grupo, fez um onze forte, limou as peças e fez destacar Gabri Veiga. Houve mudanças importantes, os adeptos aplaudiram e deram o seu calor, deram ao jogador mais fome na disputa de cada lance. Ele foi inteligente a mexer conforme o rival" enaltece e constata a febre em forma de rendição: "Balaídos respira outra confiança e já se canta de novo "A Rianxeira" tão própria das grandes tardes de futebol em Vigo. Soou pela primeira vez com o Rayo, ao fim de alguns anos. Carvalhal tem de ser gabado", ilustra Pereiro.
Toni Dovale, agora com 32 anos, foi um defesa do Celta que acompanhou os primeiros anos de Aspas em Vigo. Hoje é agente, após ter trabalhado numa farmácia durante a dura pandemia. Alinha, sem rodeios, nos tributos.
"O efeito da sua chegada foi muito positivo, digo-o como adepto e olhando aos amigos que ainda tenho no plantel. Estou muito feliz pela reação de todos, o desempenho recente tem sido excelente, Carvalhal conseguiu dar a volta a uma dinâmica muito complicada em pouco tempo. Revela mestria", frisa: "Vejo a cidade encantada, a comunhão entre adeptos e balneário foi restabelecida. Estamos a falar de adeptos exigentes mas gratos. O treinador foi responsável por tudo isto, elevou o desempenho dos atletas e o seu discurso, aliado a um caráter humilde, tem sido apreciado", completa.
Antes vender Gabri Veiga
"Neste momento qualquer adepto, por mais rendido que esteja ao fenómeno do Gabri Veiga, algo que nos emociona muito porque corríamos o risco de ficar sem sucessor de Aspas, aceitaria a sua venda, mas nunca a saída de Carvalhal. Teremos mais futuro com Carvalhal do que com Veiga no campo", nota: "Toda a massa adepta quer que seja uma relação por muitos anos, essa sensação só existiu antes com Berizzo e Coudet, embora este tenha delapidado toda a confiança. Agora podemos confiar num treinador independentemente dos jogadores, pois um plantel que parecia medíocre passou a ser excelente, qualquer titular pode partir pois o seu suplente pode fazer maravilhas", vibra Gonzo. Pedro Pablo concorda.
"Temos a ilusão que possa ficar muitos anos, porque olha para a "cantera". Fez rebentar Veiga, um fenómeno em Espanha. Mas a Europa não deve ser posta na agenda, porque o Celta não tem pressupostos financeiros da Real Sociedad, Sevilha, Villarreal ou Bétis. É difícil uma vaga. Faz mais sentido pensar numa classificação relaxada e manter a identificação com a casa".
Já Morris aplaude a clareza da personalidade, sem fantasmas, cortinas ou disparates cénicos. "Ele é formidável no que aparenta a sua personalidade. É próximo, é seguro, tem uma atitude no campo e nas conferências muito sensata, é śerio e nada dramatiza, nem atira areia para os olhos. Estive atento numa reportagem a ver como ele saúda todos os jogadores na saída para o túnel. Há ali carinho e respeito".
"Somos adeptos sofredores, temos medo de metas altas pois sai tudo ao contrário. Estamos a viver uma certa incredulidade, porque estamos a desfrutar muito mas com receio que isto desapareça. Não há um único mau comentário nas redes. Chegou na hora certa, montou o Celta que queremos, elevou o celtismo!"