Um investimento desmesurado e o Nazismo iam deitando por terra os pretos e amarelos, que sempre quiseram ser grandes. Os potros, que viam o lado lúdico do jogo, foram mágicos nos anos 70
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À 11.ª jornada, os Borússias estão nos dois primeiros lugares da Bundesliga. Peculiar não só por uma quebra na hegemonia do Bayern (está a sete pontos dos pretos e amarelos), mas também por os dois nunca terem terminado juntos no pódio. O invicto Dortmund tem 27 pontos, mais quatro que o Moenchengladbach, segundo. Voltam à ribalta, mas, a apenas 92 km de distância, há muito que trilham um percurso de desafio à autoridade. Os pretos e amarelos mantêm-se desde 1976 na Bundesliga, mas só esta década voltaram a rivalizar com o Bayern, já depois de um bis nos anos 90 e da Liga dos Campeões de 1997. Klopp trouxe novas glórias com dois títulos (2011 e 2012) e uma final europeia, Tuchel prometeu, mas não ganhou e Lucien Favre estabelece agora nova fasquia. O Moenchengladbach, por sua vez, não é campeão há 41 anos e sofreu duas despromoções durante esse jejum. Mas tem evoluído. Desde 2010, esteve na Europa quatro vezes, foi terceiro em 2015 e quer esquecer os nonos lugares das duas últimas épocas. Favre, agora no Dortmund, esteve no clube entre 2011 e 2015 e mudou a ambição a quem se limitava a sobreviver na liga.
Os Borússias partilham o nome, que advém da palavra latina que designa Prússia, cuja região histórica faz hoje da Polónia e Rússia. Os prussianos eram conhecidos pela agressividade, pelo militarismo e pela indomabilidade, características que os clubes terão procurado.
Dortmund e M"Gladbach são os dois primeiros na Bundesliga e lutam para contrariar a hegemonia do Bayern. Partilham um passado de luta
Em Dortmund, apesar de ter sido uma cervejaria a dar o nome ao clube, este nasceu em 1909 por iniciativa de 18 jovens que contrariaram um controlador sacerdote local. Já o M"Gladbach surgiu em 1900 pela mão de rapazes enfurecidos que abandonaram o clube onde jogavam.
O estatuto é o maior diferencial. Cedo o Dortmund quis ser grande: contratou profissionais e afastou os industriais que jogavam por hobbie. Esse investimento, em 1929, ia ditando a falência. Pior ficou quando Hitler ascendeu ao poder. De 1933 a 1945, foi penalizado perante o rival eterno Schalke 04, aí mestre, com seis títulos em 12 anos e tido como o clube do Führer.
Já o M"Gladbach viveu três fusões, andou em divisões regionais muito tempo. Quis recrutar ginastas do clube para a equipa sénior, já que o desporto queria-se lúdico. Cresceu, porém. Ganhou cinco ligas na década de 70 e foi o primeiro clube alemão a sagrar-se tricampeão. Passou a ser apelidado de foals (potros) pelo estilo rápido de jogo e pela mascote, o cavalo jovem. Espalhou magia na Europa e ganhou duas Taças UEFA. Merecia mais pelo futebol enleante que praticava. Por simpatia histórica ou não, os Borússia não se veem arquirrivais. Veremos se esta liga muda isso.
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Atacar com arte da formação
O conceito de futebol dos Borússias é ofensivo, procurando dar pouco espaço ao adversário para respirar. Nos anos recentes, o Dortmund de Klopp, de Tuchel e agora de Favre assumiu-se como uma equipa incisiva na procura do golo, pressionante em zonas subidas. Tem essas características no modelo de jogo utilizado nas equipas de formação e o clube é criterioso na escolha do treinador. Já o M"Gladbach tem dado, desde a génese, uma importância grande ao espetáculo. Isso está patente na própria definição de clube.
O talento jovem é outra das marcas simétricas. Ambos têm seis formandos nos respetivos plantéis. No Dortmund, Reus é capitão e figura da cidade, Goetze outro nome histórico e Pulisic uma das maiores promessas. Nos foals, os locais Jantschke e Herrmann são dois dos mais utilizados.
Dahoud e Reus vieram do rival
pesar de o Dortmund não ter o poder financeiro do Bayern - muito superior aos outros clubes da Bundesliga - é quem mais se aproxima dos bávaros. E isso permite-lhe reforçar-se com futebolistas dos rivais, nomeadamente do M"gladbach. O médio Dahoud (na foto) é o mais recente exemplo, contratado em 2017 por 12 M€. Reus, fez a formação do Dortmund (sub-13 a sub-17), foi dispensado e esteve em G"ladbach três anos. Foi o melhor do ano de 2012 na Liga e regressou ao primeiro clube por 17 M€. Ginter, o mais utilizado dos potros este ano, fez o percurso inverso.
CURIOSIDADES
Alfreds para o bis
O Dortmund foi campeão pela primeira vez em 1956. Celebrou o bicampeonato no ano seguinte. Alfred Preissler, Alfred Kelbassa e Alfred Niepieklo eram os craques da equipa.
Primeiro triunfador nas taças europeias
O Dortmund venceu o Liverpool na final de 1966 da Taça das Taças. Foi o primeiro troféu europeu de clubes alemães. Em 1997, ganhou a Liga dos Campeões à primeira tentativa, com Paulo Sousa. Perderia as finais de 1998 e 2013 da Champions.
Só uma relegação
Desde que começou a ser disputada a Bundesliga (1963), os pretos e amarelos só foram despromovidos em 1972 e precisaram de quatro épocas para subir.
Signal Iduna Park bate recordes
O Dortmund tem 145 mil associados e o Estádio Signal Iduna Park, com capacidade para 81 365 espectadores, é o maior da Alemanha em capacidade e também o que regista melhor média de presenças, superior a 80 mil.
Taça de mudança
O Moenchengladbach ganhou o primeiro título nacional em 1960: a Taça da Alemanha. Cinco anos depois estreou-se a vencer a Bundesliga.
Líder de ouro
De 1970 a 1977, os potros ganharam cinco ligas. Vogts, na defesa, e Heynckes, no ataque, eram figuras, mas o treinador Weisweiler foi o mentor do sonho e ganhou três ligas e uma Taça UEFA. Esteve 11 anos do clube.
Ódio ao Liverpool
Os potros ganharam a Taça UEFA em 1975 (Twente) e 1979 (Estrela Vermelha), mas o Liverpool tirou-lhes uma UEFA (1973) e uma Taça dos Campeões (1977).
Polémica europeia
Em 1972, um 7-1 ao Inter na segunda mão da II ronda na Taça dos Campeões não valeu. Uma garrafa vazia atingiu Boninsegna, o jogo foi repetido, verificando-se então um empate que eliminou o M"Gladbach.