Kevin-Prince Boateng fundou uma empresa de agenciamento após a sua retirada dos relvados e garante que, se tivesse tido o mesmo acompanhamento dos jovens que agora representa, teria tido uma longa carreira de sucesso no Real Madrid
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Retirado dos relvados desde 2023, após uma carreira em que jogou em clubes como o Barcelona, Milan, Borussia Dortmund e Tottenham, mas sem nunca cumprir todo o potencial que foi apontado em jovem, Kevin-Prince Boateng é, aos 38 anos, um agente de jovens jogadores.
À margem de uma “summit” da plataforma “TransferRoom”, o antigo médio ofensivo, internacional pelo Gana 15 ocasiões, começou por admitir que sente satisfação por saber que algumas vezes ainda se lembram de si enquanto jogador e revelou porque desistiu de transitar para uma carreira de treinador após ter pendurado as chuteiras ao serviço do Hertha Berlim, onde se formou.
“As pessoas têm pouca memória. Diria que é difícil ver um jogo de 90 minutos, as pessoas só olham em momentos destacados. Por isso, se se recordam de mim só por uma vez, fico contente. Sempre quis ser treinador, mas depois descobri que não tenho paciência suficiente”, assumiu.
Com os bancos a não serem opção, Boateng explicou que decidiu fundar há seis meses a sua própria agência de representação, denominada “Rookie and Champ”, por se lembrar das dificuldades que atravessou em jovem devido à falta desse tipo de acompanhamento.
“Tive muitos agentes, alguns bons e outros maus. Sei como isto funciona e, se te orientarem mal, às vezes pode ser muito difícil. Então, eu disse-me a mim mesmo que adoraria ajudar os jogadores jovens, colocando-os num bom caminho, mostrando-lhes o que é importante e mantendo-os com os pés no chão, na medida do possível. Quando eu tinha 18 anos, transferiram-me para o Tottenham por oito milhões de euros. Cheguei e, dez dias depois, o treinador disse-me que não me queria. Foi demolidor, eu era uma estrela emergente e tinha deixado todo o meu mundo”, recordou.
“Passei por tudo e sei que o dinheiro, a fama ou assinar por um clube grande nem sempre é o passo correto. Por isso, disse que queria transmitir a minha experiência aos mais jovens. Quero ser como uma figura paterna, o melhor amigo dos miúdos que representamos. Temos cinco jogadores jovens de Berlim, somos de Berlim e apreciamos o talento local. Há muitos futebolistas que vêm das ruas e queremos dar-lhes a oportunidade de jogarem na Europa. É esse o meu sonho”, referiu.
Nesse sentido, Boateng descreveu o lote de ferramentas que a sua agência coloca à disposição dos jovens jogadores com quem assina, garantindo que, se tivesse tido o mesmo tipo de recursos e acompanhamento próximo, teria tido uma longa carreira de sucesso no... Real Madrid.
“Damos-lhes tudo o que precisam: reconhecimentos médicos, especialistas nutricionais, treino psicológico, aulas extra de técnica e tática. Investimos muito tempo e dinheiro para que nada os faça tropeçarem quando cumprirem 18 anos. Estarão prontos para tudo, inclusive para marcar um penálti em frente a 50 mil espetadores. Até têm uma residência para dormirem. Quando entro na ‘villa’ e vejo tudo o que têm, penso sempre no mesmo: ‘Se eu tivesse tido tudo isto, teria jogado dez anos seguidos no Real Madrid’”, afiançou, acrescentando que ficou boquiaberto quando se apercebeu da pressão que alguns jogadores sentem antes de jogos decisivos: “Conheço jogadores, superestrelas, que costumavam vomitar antes de um jogo da Liga dos Campeões, por causa dos nervos. Tinham muitíssima pressão. Superestrelas que nunca pensarias que estavam nervosas, tremiam”.