Antigo presidente da FIFA conta tudo, falando também da polémica atribuição do Mundial'2022 ao Catar.
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O antigo presidente da FIFA, Joseph Blatter, que está agora suspenso do cargo, deu uma entrevista ao jornal espanhol Marca onde falou do maior organismo do futebol mundial.
Blatter começou por explicar os primeiros passos na FIFA, onde lembrou que quando chegou não havia nenhum patrocinador oficial: "Apenas a Adidas para a bola de jogo e mais nada. Chegou depois a Coca-Cola e sinto-me orgulhoso disso. O que mudou tudo foi a televisão a partir dos anos 70. A publicidade e as televisões provadas mudaram o futebol e a FIFA", começou por explicar.
"O último Mundial dos pobres foi o de França em 98. O da Coreia e Japão mudou tudo. A FIFA e o futebol mudaram e também as Ligas nacionais, especialmente a inglesa. Vendia-se bem e continua assim", continuou o antigo presidente afirmando depois que aquilo que mudou o futebol foi outro tema. "Quando se fala de um assunto social, de educação e económico, o seguinte é o político. Entrou e mudou o futebol".
Questionado sobre o porquê de o Mundial 2022 ter sido levado para o Catar, Blatter explicou que foi a "intervenção do presidente da República francesa [Sarkozy], através do vice-presidente da FIFA, que era Michel Platini". "Pediu para votar no Catar e conseguiu mudar tudo. Os Estados Unidos ficarem sem Mundial. Agora também houve outra, como a intervenção do presidente norte-americano para a eleição de 2026. A FIFA não pode fazer nada quando um Chefe de Estado se move assim. O futebol passou a ser um tema vital, para o bom e para o mal", continuou.
Joseph Blatter admitiu ainda que os Estados Unidos não foram os únicos que não aceitaram a decisão de levar o Mundial ao Catar: "Nem a Inglaterra o de 2018. Lembro do que disse Cameron: 'Este [a falar de mim] disse-me que o Mundial era nosso'. Nunca disse isso. Os derrotados uniram-se e passaram a atacar a FIFA", lamentou.
O antigo presidente da FIFA confessou ter-se sentido traído, no entanto, admitiu não se sentir responsável por pessoas que não foi ele a eleger: "Foram as Confederações as que elegeram. Tínhamos instalado um controlo moral em 2012, mas a UEFA eliminou-o, não o considerou oportuno, com o secretário-geral à cabeça... que agora é o presidente da FIFA", atirou.
Blatter garantiu estar inocente neste processo e ainda deu um exemplo de família: "O meu pai sempre nos disse, aos três filhos, para nunca recebermos dinheiro que não tivéssemos ganho pessoalmente, que a família Blatter paga as suas dividas e que para nunca darmos dinheiro a terceiras pessoas para nos beneficiarmos. Os dois primeiros eu sei que cumpri. O terceiro não porque ajudei pessoas com o meu dinheiro", confessou.
Joseph Blatter falou ainda das palavras referidas sobre Cristiano Ronaldo, onde chamou "comandante" ao internacional português: "É um comandante no campo, é um comandante quando faz falta, é um comandante em todos os momentos... E essa é a diferença para Messi. Quando os dois começaram a jogar futebol, um já era puro talento, o outro não. Era um militar porque não parou de trabalhar desde o primeiro dia. As minhas felicidades ao Ronaldo pelo seu trabalho no futebol e por tudo o que conquistou. Trabalhou todos os dias. Na conferência com os alunos de Oxford quis dizer isso, e se me perguntassem qual o noivo ideal para a minha filha diria o Messi. O presidente do Real Madrid ficou muito chateado", referiu.
Blatter lembrou ainda que "a FIFA não era uma máfia" e admitiu sentir-se arrependido por não ter ouvido a família quando lhe disseram que se retirasse.