Beto Acosta fala da relação com Maradona e de Ronaldo: "Viveu toda a euforia da nossa equipa"
Antigo matador do Sporting deu uma entrevista ao Clarín na qual recorda a passagem pelos leões
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Chegou ao Sporting aos 32 anos e após uma primeira metade de temporada difícil, na segunda tornou-se ídolo dos adeptos e jogador decisivo no regresso dos leões aos títulos após um jejum de 18 anos. Beto Acosta, em entrevista íntima ao Clarín, recordou a passagem pelos verdes e brancos, falou do cancro que superou, revelou que quando trocou o San Lorenzo pelo Boca Juniors a mãe - adepta do River Plate - não lhe falou durante "uma semana e meia", reviveu os momentos com Maradona na seleção argentina e quando jogaram juntos "showbol" e lembrou-se até do miúdo magricela que na altura já se destacava na formação do Sporting, Cristiano Ronaldo.
"O Sporting foi a minha desforra com a Europa, com a minha primeira transferência nos anos 90, quando fui para o Toulouse, em França, que não me tinha corrido bem em termos futebolísticos e era como se precisasse de uma desforra com a Europa e ela surgiu-me aos 32 anos. Embora estivesse no meu auge, era raro um jogador daquela idade poder ir para a Europa e tive dois anos e meio maravilhosos. Fomos campeões ao fim de 18 anos e as pessoas adoptaram-me como mais um ídolo, não só pelos meus golos, mas também pela forma como lutava, pela vontade que tinha", começou por explicar, sobre a sua etapa no Sporting.
"Quando eu estava na equipa principal, o Cristiano Ronaldo era um miúdo apanhabolas de 15, 16 anos. Costumávamos vê-lo porque eles treinavam em dois campos ao nosso lado, perto de onde treinávamos, e falava-se muito do Cristiano Ronaldo, que ia ser a grande figura do futebol português. Mas, bem, ele era muito novo nessa altura. Ele viveu precisamente o período em que nos tornámos campeões. Tenho um amigo, o Gabriel Heinze [ex-colega no Sporting], que jogou com ele no Real Madrid e que me contou que o Cristiano lhe disse que viveu toda a euforia da nossa equipa, que foi algo muito forte para o clube. E se hoje perguntarmos ao Cristiano ou a qualquer jogador desse período, eles vão lembrar-se dessa equipa com grandes jogadores", revelou.
Beto Acosta falou da ligação a Maradona: "Foi maravilhoso. Vivi durante dois anos com o maior, Diego Maradona. Foi um período em que fomos a todas as províncias e também ao estrangeiro. E vivemos coisas espetaculares com o Diego, ficámos a conhecê-lo melhor. Estou a falar de jogadores como Almeyda, Goyco, Ruggeri, Redondo, Mancuso, que também eram grandes nomes, mas nós éramos jogadores normais que podiam sair e tomar um café num bar quando íamos às províncias. E Diego não podia fazer isso. Foi aí que nos demos conta do que ele sofreu durante toda a sua vida futebolística e do que também deve acontecer com Lionel Messi hoje. Quando fomos jogar uma vez em Cancún, estávamos num hotel de cinco estrelas. Almoçámos, descemos para a piscina e todos dissemos: 'O Diego tem de vir' e o Diego não podia descer porque havia 60 pessoas à espera dele. De duas em duas horas tínhamos de ir ao quarto beber mate com ele para lhe fazer companhia. Era sempre a mesma coisa com ele, porque não podia sair à rua, como nós fazíamos normalmente. Diego aproveitava os almoços e os jantares para passar duas horas connosco em paz, depois das quais tinha de ir para o seu quarto. E nós ficávamos lá durante duas horas, sempre a falar com ele, a contar anedotas. Éramos 12 ou 13 jogadores. Foi um período inesquecível, é isso que o futebol nos dá, nada mais. Jogámos muitos jogos contra o Brasil, a Colômbia, o Chile e foram jogos até à morte, mais parecidos com os do Diego. Tínhamos um treinador, mas o discurso antes de entrar em campo era de Diego, e até hoje não consigo entender por que esse cara é tão vencedor. Era um jogo para ser desfrutado e não, ele disse-vos que era a final do mundo. Se falei com o Diego nos últimos anos? Não, encontrei-o um par de vezes, só isso. Cumprimentei-o porque a verdade é que sempre tivemos uma boa relação. Não de amizade, claro, mas sempre de grande respeito, porque eu gostava do Diego e depois fiquei muito triste com os seus últimos anos. Esse não era o Diego que eu conhecia."