"Benfica? Ressentimentos não tenho, mas sinto que ficaram coisas por fazer"
ENTREVISTA, PARTE II >> Chiquinho fala do sonho de entrar nas escolhas da Seleção, mesmo com 29 anos, acreditando que bons números e títulos num clube como o Olympiacos podem perfeitamente abrir as portas. Lembra ainda o passado na Luz e fala dos homens que lhe enchem a vista na Liga Portuguesa
Corpo do artigo
Tentando perceber se foi um desejo no passado, o objetivo da Seleção abre-se nesta fase?
-Sem dúvida que sim, trabalho diariamente para isso e estando no clube que lidera a Liga Grega, estando bem na liga Europa, porque não? Podence já esteve na Seleção, através do Olympiacos, se não estou enganado. Não vivo obcecado com isso mas, sim, está sempre comigo o bichinho de representar a Seleção, sabendo, de antemão, da qualidade excecional de todos os jogadores que lá estão. Recuando, posso dizer que no primeiro ano de Bruno Lage em 2019/2020, o desejo era forte e chegou-se a falar que podia ser convocado, mas acabou por não acontecer. A fase que me custou mais foi no ano seguinte, em que saiu o míster Bruno e voltou o míster Jorge Jesus. Deixei de ter continuidade, mas o futebol é assim.
Lembrando a passagem pelo Benfica, que imagens mais fortes ficaram dessa etapa. Há margem para algum ressentimento?
-As imagens mais fortes que ficam do Benfica passam pela conquista do que foi o 38.º título e também por jogar a Champions no Estádio da Luz. Ressentimentos não tenho, mas sinto que ficaram algumas coisas por fazer em termos individuais. Tinha capacidade para ter melhores números, faltou isso... Não tenho que me arrepender de nada, fui muito feliz e joguei pelo clube do coração, conseguindo conquistar muitos dos meus objetivos.
Memórias de colegas?
-Tenho muitos desse tempo com os quais mantenho amizade, que vão ser para a vida. Prefiro não dizer nomes para não esquecer ninguém. De alguma forma foram todos importantes, tanto jogadores, como as pessoas do clube.
Que visão da Liga Portuguesa e que jogadores o seduzem?
-Está um campeonato muito competitivo e creio que vai haver luta até ao fim. Muita coisa pode mudar ainda. Mas acredito que o Benfica, com o nível que tem apresentado recentemente e o plantel que tem, pode conquistar o título. Gosto muito do Rodrigo Mora, acho-o um craque. Trincão, que sempre gostei muito, está a um grande nível. No Benfica fico muito feliz que o Schjelderup esteja a ter as oportunidades que merece. É um craque também!”
Gregos e turcos dá ruído louco
Chiquinho valoriza a dimensão do campeonato, no que é a alma emprestada pelo adepto grego em cada recinto. Muito fanatismo, enchentes e catarse sonora. “Seja nos grandes duelos da Liga ou nos jogos europeus, o ambiente é inacreditável. Os adeptos são incríveis e é surreal o apoio que temos. Na Croácia não tive tantos momentos assim, na Turquia também não, embora fossem fervorosos. Jogámos contra o Fenerbahçe na época passada, na Liga Conferência, e nos primeiros 10/15 minutos tinha os ouvidos a zumbir de tanto barulho. Não ouvia nada.”
“Contexto para muitos anos”
Muito feliz na Grécia, já com uma Liga Conferência ganha, Chiquinho pensa em mais títulos, até na Europa.
Passou por Lokomotiva, da Croácia, e Giresunspor (Turquia) mas a realização é maior na Grécia
Que futuro imagina face ao rendimento no Olympiacos? Esta carreira de emigrante pode perdurar em cima de qualquer desejo de regresso a casa?
-No futebol as coisas mudam rápido e não podemos dar nada por garantido. Não sabemos o dia de amanhã. Mas neste momento não penso, de forma alguma, em voltar a Portugal tão cedo, pois estou num clube muito grande, estou muito feliz e a viver o melhor momento da minha carreira. Assim espero ficar neste contexto muitos anos.
“Estou numa das minhas melhores versões, a jogar na posição 10, tal como no Moreirense e na Académica”
Vendo os golos e assistências no Olympiacos, estamos perante a melhor versão do Chiquinho, ou ainda há essas comparações com o que fez na Académica e Moreirense?
-O que estou a fazer remete, sem dúvida, para uma das minhas melhores versões a nível individual. Também estou a jogar na posição “10” como jogava no Moreirense e na Académica. No Benfica, na primeira época com Bruno Lage, joguei aí, mas faltaram mais golos e assistências, e tudo seria diferente. Depois joguei mais como 8 ou 6, o que é diferente a nível de números. Estou perante uma realidade distinta, com outra maturidade e calma e, com isso, desfruto mais.
Deduzo que apreciou o regresso de Lage à Luz?
- Foi a melhor opção para o Benfica. Quando ele saiu ficou alto interrompido, ele merecia voltar, pois além de grande treinador é grande pessoa.
Ganharam ao FC Porto e ao Braga na Liga Europa. Isso diz muito das vossas ambições europeias?
-As ambições europeias são grandes, mas sabendo, de antemão, das dificuldades envolvidas e que todos os jogos são extremamente difíceis. Mas vamos querer chegar longe nesta Liga Europa, até por sermos vencedores em título da Liga Conferência. Foi bom voltar a encontrar equipas portuguesas de grande qualidade e com muito bons jogadores. Ficaram impressões boas e com duas vitórias ainda melhor.