Assumiu-se como homossexual e diz: "Se pudesse repetir, fá-lo-ia de certeza"
Em fevereiro deste ano, Jakub Jankto tornou-se no primeiro jogador internacional pelo seu país a assumir publicamente a sua homossexualidade.
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Jakub Jankto, médio checo que representa atualmente os italianos do Cagliari, fez história há cerca de sete meses, tornando-se no primeiro jogador internacional a assumir publicamente a sua homossexualidade.
O médio, de 27 anos, fê-lo através de um vídeo publicado nas redes sociais, tendo concedido esta quarta-feira uma entrevista à BBC, na qual refletiu sobre o impacto dessa revelação.
"Sempre que abria o TikTok ou o Instagram, o primeiro vídeo [que aparecia] era sobre mim. Toda a gente falava sobre mim! Eu sabia que seria assim durante as primeiras duas ou três semanas, mas também precisava um pouco de tempo pessoal, para recuperar. Quando recebes milhares, talvez milhões de mensagens de pessoas a dizer que te apreciam e a agradecer-te, isso deixou-me mesmo muito feliz, as pessoas foram incríveis. Mas também me coloca pressão, porque não é fácil ser o primeiro homem do meu nível que diz: 'Sim, sou gay'", começou por recordar.
Na conversa, Jankto aproveitou para voltar atrás nos anos, explicando que descobriu a natureza da sua sexualidade na altura da adolescência. Depois, detalhou a forma como isso impactou a sua entrada no mundo do futebol, onde considera que o tema ainda é visto como uma espécie de tabu.
"Eu tinha 13 ou 14 anos quando soube que algo... Não era fora do normal, mas diferente. Enquanto criança, não pensei muito sobre isso, mas quando tentei ter a minha primeira relação com uma namorada, não era o mesmo do que com um rapaz... Depois, quando entrei na minha primeira equipa profissional de futebol, ser gay não era visto como normal. E penso que o futebol ainda é um pouco homofóbico", apontou.
"Por isso, tive medo quando tinha 18 ou 19 anos e estava ao pé de outros rapazes, não podia abrir mensagens do WhatsApp porque tinha sempre medo que alguém visse uma mensagem ou uma foto de um rapaz", acrescentou.
Esse medo manteve-se durante a vasta maioria da carreira de Jankto, até à segunda metade da temporada passada, em que foi emprestado pelo Getafe aos compatriotas do Sparta de Praga. Foi nesse momento que decidiu que estava na altura de chegar-se à frente.
"Jogar futebol profissional é um sonho meu e estou sempre à procura de melhorar. Assumir-me [como homossexual] era o que precisava para ser melhor. Também pensei para mim mesmo: 'Jakub, tu és um futebolista profissional, mas tens de viver a tua vida como queres'. Para mim, isso foi fundamental", salientou.
Mostrando-se surpreendido por nunca ter ouvido insultos homofóbicos em jogos da Serie A, algo que esperava na sequência do seu anúncio, o jogador também revelou que os seus colegas de equipas no Cagliari não costumam falar sobre o assunto, tratando-o como se nada tivesse acontecido.
De resto, Jankto garantiu que, se pudesse voltar atrás no tempo, voltaria a assumir-se como homossexual, referindo que essa decisão ajudou-o e a muitas outras pessoas e foi um marco importante para a luta contra a intolerância e discriminação no futebol.
"Eu não tive medo, de todo, quando o fiz. Foi um momento enorme para mim e depois de seis ou sete meses, posso dizer que não foi um erro. Se pudesse repeti-lo, fá-lo-ia de certeza, porque ajudou-me a mim e a muita, muita gente. Foi um momento enorme para todos os futebolistas e muitos deles escreveram-me a agradecer por o ter feito. Penso que fixou um exemplo bom e positivo para todos, e estou muito feliz por poder jogar sem me esconder ou ter medo. Eu simplesmente continuei como se nada tivesse acontecido, e isso é mesmo muito bom. No entanto, isso não quer dizer que tenha sido tudo um mar de rosas", concluiu.