A(s) Mulher(es) da Semana: "Chamem-me pelo meu nome" podia ser o lema do futebol feminino
A igualdade começa por algo tão simples como conhecer os nomes que marcam as histórias de luta e superação
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Uma semana depois do início do Mundial de futebol feminino, é fácil encontrar histórias que mereçam ser destacadas, difícil é escolher só uma.
Por isso, não vamos escolher só uma.
Comecemos pela Argentina. No mundo masculino, tem uma das seleções mais famosas do mundo. Já o mundo feminino...é um mundo ao contrário.
Por incrível que possa parecer, a seleção feminina, depois dos jogos Pan-Americanos de 2015, esteve 18 meses sem competição e um ano sem treinador, tal o completo desleixo e passividade da federação argentina de futebol.
Entre as 23 convocadas, há médicas, sociólogas, trabalhadoras no comércio, funcionárias públicas e estudantes de doutoramento.
Vanina Correa, guarda-redes de 35 anos, interrompeu a carreira para realizar o sonho de ser mãe. Voltou com tudo e assinou uma exibição assombrosa diante da poderosa Inglaterra. Apesar de até ter travado um penálti, a inspiração entre os postes não chegou para evitar a derrota pela margem mínima (1-0), mas mereceu um aplauso mundial.
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Em português: "Podemos cometer mais erros do que os nossos companheiros masculinos. Na Argentina, não temos acesso ao treino em idades jovens, apenas quando somos mais velhas. Mas as coisas agora estão a mudar, temos melhor preparação."
Da Argentina chega também a história de Estefanía Banini. Capitã. Camisola 10. Bola colada ao pé e drible em espaço reduzido. Está fácil de ver com quem a comparam e até é o seu ídolo, mas Banini faz um apelo que podia ser replicado por quase todas as jogadoras: "Não sou 'a Messi'. É bonito que me comparem, mas gostava que começassem a conhecer-nos pelo nosso nome. Merecemos o nosso lugar. Isto é a esperança, a luta, a entrega, a luta da mulher argentina pela igualdade."
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Da Argentina para o Brasil a diferença é grande, mas nem por isso faltam histórias de luta e superação.
Cristiane, 34 anos, apontou os três golos da vitória (3-0) do Brasil sobre a Jamaica e tornou-se na futebolista mais velha (homens incluídos) a assinar um hat trick num Mundial. Mas quem visse o sorriso largo da futebolista do São Paulo não imaginaria o que esta deixou para trás: problemas físicos precipitaram Cristiane para uma depressão, mas é uma página virada. Cristiane também interrompeu a passagem pela seleção - que começou aos 15 anos - em protesto com a desigualdade de tratamento em comparação com a seleção masculina, ao nível dos prémios, pagamento de diárias e condições de trabalho.
Falar do futebol feminino do Brasil é, invariavelmente, falar de Marta. Provavelmente a futebolista mais conceituada de sempre. Mesmo quem não acompanha ou quase nada de sabe de futebol feminino é capaz de a identificar. Não lhe faltam, por isso, propostas de patrocínio de grandes marcas desportivas, mas Marta não aceita: mudará a decisão quando lhe pagarem o mesmo que pagam a um homem com o mesmo nível de representatividade que ela.
Diante da Austrália, Marta entrou em campo de chuteiras pretas e apenas com a marca da campanha que criou, a Go Equal, que luta pela igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Nem mais, nem menos. Igual. Para esse símbolo azul e rosa que apontou nos festejos de um golo recordista: foi a primeira mulher a marcar em cinco edições de Campeonatos do Mundo.
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