Júnior, nome grande do futebol brasileiro e histórico jogador do Mengão, é agora comentador da TV Globo e está rendido ao trabalho de Jorge Jesus no Flamengo
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Encantou nos relvados, fosse como lateral-esquerdo ou médio, com as camisolas do Flamengo, Brasil, Torino e Pescara. Aos 65 anos é uma das vozes mais respeitadas entre os comentadores de futebol no Brasil. A O JOGO, em longa entrevista, falou de Jorge Jesus e do que o treinador luso está a fazer no Brasileirão, mas houve ainda tempo para recordar uma carreira de luxo.
Como vê a revolução de Jorge Jesus no Flamengo?
Ninguém esperava que em tão pouco tempo conseguisse fazer essa transformação. É verdade que teve a seu favor a chegada de quatro jogadores que vieram da Europa: os laterais Rafinha e Filipe Luís, o médio Gerson e um defesa-central desconhecido, o Pablo Marí, que se adaptou muito facilmente ao futebol brasileiro e tem mostrado uma qualidade acima da expetativa. Além disso, Jesus já tinha no plantel a qualidade de jogadores internacionais pelo Brasil e não só.
Mas o êxito resulta só dessa qualidade individual?
Não. Ele conseguiu implementar em muito pouco tempo uma mentalidade muito parecida com o futebol que se joga na Europa. Mas a qualidade desses jogadores e a consolidação da parte tática e o entendimento do jogo está a permitir-lhe realizar um trabalho excecional. Dá prazer ver jogar o Flamengo. Isso é reconhecido por todos os comentadores. Foi uma transformação muito rápida e conseguida por um treinador que nunca tinha trabalhado no Brasil e teve de passar por um período de adaptação. Aliás, só depois de estar cá viu pela imprensa e pelos torcedores que a Libertadores, que o Flamengo não vence desde 1981, tinha um peso muito maior que o campeonato. Mas sem deixar de lado o campeonato, tem conseguido ótimos resultados. É incrível que tenha pegado na equipa oito pontos de atraso e seja agora líder com oito de vantagem.
Onde se nota mais o cunho pessoal do treinador?
A diferença maior é no entendimento dos jogadores. A equipa joga no máximo em 40 metros entre os sectores, procurando condicionar a saída de bola do adversário desde a sua área. Há uma grande aplicação na reconquista da bola e uma velocidade grande da equipa quando em posse. Não há posicionamentos fixos no ataque e isso dificulta muito a tarefa dos zagueiros contrários na hora da marcação e essa dificuldade é fácil de verificar no número de golos que já levam os atacantes De Arrascaeta [10], Bruno Henrique [11] e Gabriel Barbosa [19]. A forma de defender foi a primeira coisa que Jesus trabalhou e com a qualidade dos defesas e a dupla Arão e Gerson no meio-campo a equipa passou a funcionar cada vez melhor.
Falou no Arão, que Jesus apelidou de "patinho feio". Qual a sua importância?
-Era um jogador sem regularidade e que, sendo internacional, estava a ser criticado pelos adeptos. Mas foi trabalhado para desempenhar um papel e Jesus aproveitou bem as suas qualidades: altura, bom jogo de cabeça, bom passe e lucidez na linha ofensiva. Além de que se completa muito bem com o Gerson.
"Jesus só está a valorizar o seu trabalho"
Júnior encara com normalidade o facto de Jorge Jesus fazer auto-elogios e reclamar méritos por resultados e desempenhos dos jogadores: "Não penso que seja arrogante. Penso que não é um problema ele valorizar o próprio trabalho. Isso é normal, habitual noutros países e com outros treinadores. Ele não está a dizer nenhuma mentira, está a expor os bons resultados que tem conseguido e deve sentir-se orgulhoso disso. Penso que as pessoas só precisam de tempo para perceberem melhor o perfil dele como técnico e pessoa."
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